Neste domingo (1°), quando o ator Murilo Benício cruzou a portaria da Folha de Londrina para gravar cenas do filme "Assalto à Brasileira", a impressão foi de uma verdadeira reaparição do repórter Paulo Ubiratan.
De camisa azul e calça marrom, relógio de pulso, a inseparável bolsa de couro a tiracolo, aliança na mão esquerda e barba por fazer, o ator interpretava o repórter que muitos que ainda trabalham na FOLHA conheceram.
Ubiratan, quando chegava agitado de mais uma pauta com o bloco de anotações na mão, jogava a caneta para cima e a pegava na outra extremidade. O ator não gravou cenas com a caneta, mas repetiu com as chaves do carro o movimento de girar um objeto enquanto saía da FOLHA. Na rua Piauí, no meio da quadra, uma Caravan o aguardava para a continuidade da cena.
Na realidade, Ubiratan não dirigia automóveis, mas o ator foi muito bem dirigido por José Eduardo Belmonte que está em Londrina com sua equipe e gravou várias cenas no centro histórico neste domingo.
As filmagens, que começaram perto das 9 horas, também trouxeram ao centro outros atores conhecidos. Christian Malheiros, que interpreta Moreno - o chefe da quadrilha que assaltou o Banestado - contracenou com Robson Nunes (o Barba), Matheus Macena (Ismael) Vinicius Marinho (Nico), Vertin Moura (Michel), Ariclenes Barroso (Luciano) e Shaolin (Girino). O elenco que faz o bando que praticou o assalto no dia 10 de dezembro de 1987, trouxe de volta memórias que os londrinenses reviveram acompanhando de perto as gravações que duraram cerca de oito horas, ao longo do dia, contando as cenas feitas à tarde no Calçadão
ANIVERSÁRIO DE LONDRINA
Na Concha Acústica, em cujo entorno foram gravadas as cenas de abertura do filme, uma faixa lembrava que aquele 10 de dezembro era aniversário da cidade, uma data inusitada para o assalto que parou Londrina.
Nos bancos da Concha, um figurante lendo um exemplar de época da Folha de Londrina remetia àquela data fatídica, quando a calmaria da cidade foi revertida para cenas de ação que a população, até então, só tinha visto em filmes.
O repórter Paulo Ubiratan transformou-se num protagonista-chave quando entrou na antiga agência do Banestado, no Calçadão, para cobrir o assalto e só saiu de lá no ônibus exigido pelos assaltantes para levar os reféns. Mais que repórter, tornou-se um personagem da história que agora se transforma em filme, baseado no livro homônimo de Domingos Pellegrini, depois de já ter dado origem a um documentário, dirigido pelo cineasta londrinense Rodrigo Grota, em 2018.
FIOS DA HISTÓRIA
As gravações que começaram em São Paulo e agora chegam a Londrina têm trazido de volta coisas aparentemente esquecidas.
O produtor do filme, Marcelo Braga, comenta que Luís Borracha, motorista do ônibus que levou os assaltantes e os reféns na história real, acompanhou as gravações no Calçadão e confirmou que o ônibus escolhido pelos próprios assaltantes para a fuga encontra-se até hoje em Rolândia, na Região Metropolitana de Londrina, mas possivelmente já sem condições de uso.
"O ônibus escolhido pelos próprios assaltantes, tinha nas janelas uma tela antimosquitos que pareceu perfeita para o bando esconder o rosto durante a fuga. Além disso, com janelas um pouco mais altas, o veículo também servia para proteger os assaltantes caso a política atirasse neles", conta o produtor, que soube dos detalhes em conversa com o antigo motorista.
UMA BELINA COMO TÁXI
Nas cenas gravadas nesta manhã, inclui-se o momento em que os assaltantes tomam um táxi no ponto do Bosque e rumam para o assalto que seria consumado pouco tempo depois. O elenco repetiu várias vezes a cena do táxi que teve como motorista um ator londrinense, Silvio Ribeiro, diretor da Escola Municipal de Teatro, que interpreta um taxista atônito, na direção de uma Belina, com a urgência do bando que lhe pede uma corrida.
As ruas no entorno da FOLHA, foram minuciosamente preparadas para as filmagens.