Boa parte das ruas do Jardim Marabá, localizado na zona leste, leva nomes de flores, como Gardênias, Girassol e Rosa Branca. Outras homenageiam árvores frutíferas como a das Ameixeiras e dos Abacateiros. Ainda há duas ruas com nomes de compositores consagrados da música brasileira: Noel Rosa e Pixinguinha. Mas a vida por lá não é tão bucólica e romântica assim.
Além da falta de infra-estrutura, o Marabá sofre com a violência. No entanto, esse é um tema proibido no local, onde impera uma certa "lei do silêncio". A reportagem da Folha Norte conversou com vários moradores, mas, nem na condição de anonimato, eles quiseram falar a respeito. Abordada pela reportagem, uma idosa explicou: "Falar para quê? Para levar um tiro na cabeça?"
Pelos cálculos dos moradores mais antigos, o Marabá foi criado há 40 anos, no início da década de 70. E hoje tem 453 casas. Mas o local sofreu uma grande transformação nos anos 90, com a invasão de áreas vizinhas. Atualmente, mais de 800 famílias vivem nos jardins Santa Fé e Monte Cristo, que estão em processo de regularização. E os três bairros praticamente se fundiram num só. Há ainda aproximadamente 130 famílias vivendo no Morro do Carrapato, também muito próximo. Mas é gente que, segundo a Cohab, será removida para outra região.
Dona Leontina Geralda de Oliveira, 66 anos, mora no Marabá há 30 anos. Mas viu o jardim nascer porque antes já vivia no Jardim Interlagos, bairro vizinho, acima da linha de trem. "Mudei para Londrina dia 18 de agosto de 1968 e vim morar no Interlagos que era só plantação de café. Não tinha luz, não tinha água nem asfalto", conta. Mas, de acordo com ela, as benfeitorias não demoraram a chegar.
Proprietária da Padaria Dona Dina, ela afirma que uma das principais lembranças que tem do antigo Marabá é dos estouros da pedreira, que ficava a algumas quadras abaixo de seu empreendimento. "Era todo dia às 11 horas da manhã. As casas aqui eram feitas de tijolo deitado porque, se não fosse assim, elas rachavam todas", explica.
Protegendo crianças e adolescentes
Proteger crianças e adolescentes do tráfico é o objetivo das entidades que atuam na região. As atividades do Núcleo Espírita Irmã Scheilla no Marabá completam 20 anos em 2011. Atualmente, o foco da entidade é a profissionalização de adolescentes entre 14 e 16 anos. "Atendemos 184 meninos e meninas: 90 estão na fase de qualificação como auxiliares administrativos e 94 estão trabalhando", explica a assistente social Silvia Helena da Silva.
Os adolescentes atuam como menores aprendizes em empresas parceiras como o Banco do Brasil, a Prefeitura e a Infraero. "Nosso critério é atender aqueles que não podem pagar por um curso no Senai. São crianças de família com renda de até um quarto de salário mínimo", afirma.
Já a Associação de Empresários Cristãos (Assec) começou a atuar no Marabá em 2007. Hoje, mantém a Orquestra Criança Feliz, que ensaia na Escola Municipal Maria Cândida, no Santa Fé. "O projeto começou com 3 violões, hoje temos 60 instrumentos", explica o coordenador Anderson Souza de Oliveira.
A iniciativa atende atualmente cerca de 200 crianças - 60 como músicos da orquestra e os demais em atividades de canto-coral e dança. "Infelizmente, a zona leste da cidade ainda tem muito tráfico. Tentamos proteger as crianças das drogas e da prostituição", declara.
Cintia toca cavaquinho na Noel Rosa
Cintia Paula Teodoro tem 14 anos e mora na Rua Noel Rosa, no Marabá. Apesar de não conhecer a Orquestra Criança Feliz, ela toca muito bem o cavaquinho que ganhou do pai. Enquanto a reportagem conversava com moradores a respeito de mato, lixo e dengue, a menina ensaiava seu pagode, sentada na calçada em frente de casa.
"Faço parte do Grupo Desejos e já tocamos no Farid (conjunto Farid Libos) e no Novo Bandeirantes", conta. As primeiras notas musicais, ela aprendeu com o pai. "O resto, descobri sozinha", afirma. Alheia às reclamações dos adultos à sua volta, Cintia só se preocupa com o dedilhar do cavaquinho - uma bela homenagem a quem deu o nome à rua.
Cobras, aranhas e caramujos
A presidente da Associação de Moradores do Marabá, Ana Lima, diz que os principais problemas do bairro são o mato alto e a falta de bueiros. O aparecimento de cobras, como mostra a foto enviada pelos moradores à Folha Norte, é constante. "Só numa semana, matamos três", conta Ana. Aranhas e caramujos também são muito frequentes.
Que o diga Ivone Barbosa, moradora de um dos barracos da invasão que fica às margens do rio apelidado pelos moradores de "Bostinha". "Os caramujos a gente tira de bacia", garante. Assim como os donos de outros 37 barracos no local, ela espera ser transferida para um residencial do programa Minha Casa Minha Vida. "Dizem que até abril vão tirar a gente daqui", afirma.
História de preconceito
Luciano Siqueira, mais conhecido como Tatu, é o dono de uma das duas lan houses do Marabá. Ele atua como uma espécie de líder comunitário. Para tentar levantar o moral da comunidade, Tatu edita um boletim que distribui gratuitamente divulgando as boas iniciativas locais.
Técnico em informática, ele também digita currículos para os moradores. E diz que ainda existe muito preconceito contra quem mora na região. "Tanto é que as pessoas pedem para eu colocar no currículo que moram no Jardim Mirian. Não podem assumir que vivem no Marabá ou no Santa Fé", alega.