Os suspeitos de integrarem o mega esquema de exploração sexual de adolescentes vão começar a ser julgados no próximo mês em Londrina. Segundo a promotora da 6.ª Vara Criminal, Suzana de Lacerda, a primeira audiência do caso foi marcada para o dia 5 de maio. Na ocasião, vão passar por julgamento o auditor da Receita Estadual, Luiz Antônio de Souza, e Carla de Jesus, apontada como uma das aliciadoras do esquema. Os dois foram presos no dia 13 de janeiro em um conhecido motel da cidade. No local, os policiais do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) flagraram Souza na companhia de uma adolescente de 15 anos. De acordo com as investigações, Carla, também presente no motel, teria aliciado a própria irmã para o auditor fiscal.
Durante a primeira audiência, a juíza da 6.ª Vara Criminal de Londrina, Zilda Romero, deverá ouvir os argumentos do Ministério Público (MP) e da defesa dos acusados, além de depoimentos da vítima e dos próprios suspeitos. "Todas as partes vão participar da audiência. Ou seja, o juiz, a promotoria e os advogados dos acusados", explicou Suzana de Lacerda, acrescentando que, obrigatoriamente, a adolescente de 15 anos vai ser ouvida. "A gente precisa produzir a prova em todo e qualquer processo em juízo", argumentou.
Questionada se acredita que Luiz Antônio de Souza vai querer se manifestar durante a audiência, a promotora desconversou: "Vai depender da estratégia da defesa dele". Vale lembrar que o Gaeco tentou ouvir o auditor fiscal em diversas oportunidades, mas ele se manteve calado todas as vezes. O Bonde recebeu a informação de que o advogado Walter Bittar só defende Souza no caso em que ele é acusado de improbidade administrativa. Já o defensor do auditor no caso de exploração sexual, Alessandro Silvério, não foi encontrado pela reportagem na tarde de hoje. O Bonde deixou um recado com a secretária do advogado, que é de Curitiba, e aguarda retorno.
Suzana de Lacerda disse, ainda, que a Justiça pretende realizar diversas audiências em maio, pelo menos uma por semana. "A pauta da 6.ª Vara Criminal está cheia, mas a juíza tem feito esforços para que isso efetivamente aconteça", observou.
Histórico
Até agora, o MP comprovou a participação de doze homens no esquema de exploração sexual, entre eles ex-agentes públicos, auditores da Receita Estadual e empresários, e de diversas aliciadoras. Dez dos "usuários" da rede foram presos e outros dois seguem foragidos. Conforme as investigações, os acusados teriam mantido relações sexuais com mais de 50 adolescentes em Londrina no decorrer dos últimos 13 anos. O grupo responde a 16 processos na Justiça.
A promotora Suzana de Lacerda também finaliza uma denúncia contra os empresários Walid Kauss e Antônio Crippa Neto, presos pelo Gaeco no último dia 10 por participação no esquema.
Kauss, inclusive, chegou a admitir que manteve relações sexuais com duas garotas, mas alegou que não sabia que elas eram menores de idade. "Sou um homem solteiro", justificou. O advogado dele, Ronaldo Neves, apresentou nesta tarde pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). "Não há provas materiais que justifiquem a prisão do meu cliente", observou. De acordo com o advogado, o desembargador responsável pela avaliação do pedido ainda não havia proferido sua decisão até as 20h30 desta quinta, deixando a resposta do habeas corpus para a manhã desta sexta (24).
Já Crippa Neto está em liberdade desde a última sexta-feira (17), após concessão de habeas corpus impetrado pelos advogados Lilian Moraes Guilherme e Miguel Salih El Kadri.
O Ministério Público continua com o trabalho de identificação de novos suspeitos e vítimas. "Acredito que teremos situações novas nos próximos dias", concluiu a promotora.
(matéria atualizada às 20h30)