Serão julgados nesta terça-feira (26), a partir das 9h, no Tribunal do Júri em Londrina, Kenny Roger Fioravante Pereira e Anderson Aparecido dos Santos Pires, acusados pelo homicídio qualificado de Scarlety Mastroiany e pela tentativa de homicídio de Bianca Duarte.
Anteriormente, o terceiro réu do caso, José Mauro Lopes da Silva, foi julgado em 1º de abril de 2022 e condenado a nove anos pelo assassinato de Scarlety e três meses por lesões corporais da Bianca. O julgamento foi desmembrado e, por isso, agora serão julgados os outros dois acusados pelos crimes.
Para Néias - Observatório de Feminicídios de Londrina, o caso recebe a classificação política de transfeminicídio, visto que Scarlety e Bianca são mulheres trans e foram atacadas violentamente por desconhecidos na avenida Leste-Oeste, em Londrina, em nome da transfobia e do rechaço ao gênero feminino.
“Por entender que as razões que motivam os crimes contra mulheres trans são fundamentalmente as mesmas que caracterizam o ódio e o desprezo de uma pessoa por sua condição de gênero feminino, as Néias reivindicam o tratamento como transfeminicídio para esse tipo de violência e de crime”, destaca o Informe 10 do Observatório.
ENTENDA O CASO
Os crimes contra Scarlety Mastroiany e Bianca Duarte aconteceram na madrugada de 10 de Dezembro de 2018, na Avenida Leste-Oeste, em Londrina.
Em uma ação de ódio e preconceito, os três homens atacaram gratuitamente as duas mulheres com socos, pontapés e facadas. Bianca, felizmente, conseguiu fugir e se esconder. Scarlety, infelizmente, foi assassinada e abandonada em via pública.
Segundo o dossiê publicado neste ano pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais, 145 pessoas trans foram assassinadas no Brasil em 2023, um aumento de 10% em relação ao ano anterior.
O documento aponta o país como o que mais assassinou pessoas trans pelo 15º ano consecutivo. A mais jovem trans assassinada tinha 13 anos, indicando, de acordo com a Associação, “a persistência de uma patrulha contra crianças e adolescentes trans”.
O Informe de Néias ressalta que tais mortes estão interseccionadas à lógica do racismo que estrutura as relações sociais no Brasil, pois 81% das travestis/mulheres trans assassinadas eram pretas ou pardas.
O coletivo destaca que os assassinatos de pessoas trans são, geralmente, praticados em vias públicas, no período da noite, sendo que os corpos dessas mulheres são invadidos, desfigurados, multilados por várias facadas, tiros e atropelamentos.
“As mortes, portanto, se tornam parte de um espetáculo protagonizado por aqueles que se reivindicam como heróis e/ou como um modo de negar seus próprios desejos sexuais. Quantas pessoas terão que morrer até entendermos que todes são cidadãos de direitos e que têm o direito a existir plenamente?”, questiona a organização.