Londrina

Colégio da zona norte de Londrina usa a criatividade para combater a infrequência escolar

29 ago 2024 às 18:37

Muito barulho, alvoroço e um constante empurra-empurra. Os alunos do Colégio Estadual Professora Roseli Piotto Roehrig, localizado no bairro José Giordano (zona norte de Londrina), estavam ansiosos para o recreio desta quinta-feira (29). O motivo, mais uma vez, era a criatividade do diretor André Camargo, que, com o apoio de outros profissionais da educação, busca constantemente incentivar a frequência dos estudantes nas aulas. Desta vez, um lanche especial foi utilizado como chamariz: bruschetta.


Camargo atua como docente e diretor do colégio desde a fundação, em 2004. A partir de então, os esforços para possibilitar uma educação de qualidade às crianças e aos adolescentes do bairro periférico nunca foram medidos. 


Para ele, o aprendizado está diretamente ligado com a presença. "Mesmo que dê trabalho, é importante o aluno estar aqui para entendermos e acharmos uma solução. Não adianta esvaziar o prédio e falar que a escola é boa. Eu tenho que encher o prédio e tentar entender a complexidade do bairro que eu assisto", pontua o diretor.


Visando combater o que, segundo ele, é o "grande problema" da educação contemporânea, o diretor planejou um esquema para instigar os discentes a diminuir a infrequência. 


"Eu bolei com as crianças o seguinte: se eles alcançarem 100% de frequência, ganham prêmio. Hoje mesmo bateu mais uma turma com 100%. É muito difícil engajar os estudantes. Por isso, montamos como se fosse uma competição. Eu combinei que se, a cada 15 dias, der acima de 95% de frequência, vai ter lanche especial."


Das 22 turmas que o Colégio Roseli Piotto possui - 12 matutinas, nove vespertinas e uma noturna -, pelo menos 14 alcançaram a meta estipulada, sendo recompensadas com a bruschetta servida nesta quinta-feira. Das 14 turmas, nove são vespertinas e apenas cinco matutinas. Camargo explica que a alta adesão dos alunos da tarde é reflexo da idade.


"A criança trabalha por compensação. O adolescente e o jovem, não. Os alunos da tarde entenderam o processo. E o legal é que eles estão se cobrando. Esses dias, um aluno faltou e eles [colegas de turma] ligaram na casa do moleque, dizendo 'ô, você tá atrapalhando a gente. Todo dia você falta e a gente não tá alcançando 100%, não vamos ganhar os nossos doces'", conta, com um sorriso de satisfação no rosto.


O gestor do colégio também expõe, com um tom de voz mais baixo -  como se quisesse esconder o detalhe -, que os doces citados eram arcados com dinheiro do seu próprio bolso e que, a partir disso, surgiu a ideia de usar os alimentos já enviados pelo estado para, por meio da criatividade, fazer pratos especiais.


"O Estado manda as verbas, com o Mais Merenda, para a complementação. O pão e o queijo que utilizamos está dentro da tabela do Fundepar (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional). Aí só montamos os lanches diferentes", explica.



Infrequência, abandono e evasão


O NRE (Núcleo Regional de Educação) estimula as ações particulares de cada colégio. A Seed (Secretaria Estadual de Educação) disse, por meio da assessoria de imprensa, que "promove inúmeras ações junto à comunidade escolar, principalmente professores e diretores, no sentido de incentivar práticas que favoreçam ao máximo a permanência e manutenção dos estudantes nas escolas".


Ainda segundo o órgão, as taxas de abandono e evasão escolar são mínimas, sendo de 0,2% e 0% em 2023, respectivamente. O abandono escolar acontece quando o estudante deixa a escola no decorrer do ano letivo, enquanto a evasão escolar é a desistência completa da educação formal, muitas vezes sem retorno.


Camargo reflete que as taxas de abandono e evasão não são altas porque os profissionais da educação trabalham sobre o assunto desde a fase da infrequência, para não culminar na desistência definitiva do discente.


"Já na infrequência os profissionais da educação fazem o buscativo, encaminhando alunos para o Conselho Tutelar para evitar a evasão. Alunos que ficam mais de cinco dias sem vir são encaminhados para o Serf (Serviço de Referência em Formação e Atendimento a Pessoas em Situação de Risco e Vulnerabilidade Educacional)."


O diretor também interfere nesse serviço. Pais e responsáveis recebem todos os dias mensagens sobre a frequência dos filhos nas aulas. Os avisos são enviados até mesmo aos domingos. 


Atualmente, a taxa de infrequência no Roseli Piotto é de 17%, considerando a média das turmas dos três períodos. Em Londrina, os colégios estaduais costumam superar os 20%. 


Incentivo à escrita criativa


Outra ideia de André Camargo que rende frutos é o concurso literário. Ele conta que o tema da vez é "Tolerância religiosa e cidadania: meu sagrado respeita o seu". O tema foi pensado para lançar luz sobre um problema recente no colégio.


"Recentemente, tivemos um problema de indisposição religiosa. Não chegou a ser intolerância. Ao invés de recriminar e usar palavras moralistas, vamos abrir espaço para vermos o que cada um pensa sobre boa prática e atividades religiosas. Temos que entender o contexto em que esse jovem foi criado", diz.


O concurso, para o diretor, é uma maneira de estimular a leitura e a escrita criativa, tocando em um ponto de constante debate social.


"A gente reclama que o aluno não lê, mas qual é a condição da escola? A escola tem que estimular. Os mecanismos estão aí, há biblioteca, plataformas e professores capacitados. Então, agora, lançamos o concurso", apresenta.


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