Na entrevista coletiva depois da vitória do São Paulo sobre o Juventude por 3 a 1 na segunda-feira (6), que manteve o clube paulista na elite do Campeonato Brasileiro, Rogério Ceni virou o centro das atenções ao desviar-se de perguntas sobre sua permanência no Morumbi. O tom evasivo do ídolo surpreendeu são-paulinos e levantou questionamentos sobre o ambiente no dia a dia do centro de treinamento e uma possível saída.
A reportagem ouviu pessoas ligadas a jogadores do elenco, entre jovens e mais experientes, e a funcionários do clube sobre a rotina com Ceni. A capacidade técnica do comandante é uma unanimidade. Seus métodos de treinamento são descritos como intensos, desafiadores e inovadores, e grande parte do time atribui ao treinador um papel fundamental na fuga do rebaixamento.
As fontes ouvidas pela reportagem relatam que Ceni assumiu um grupo que vinha de enorme descontentamento -profissional, e não pessoal- com a comissão técnica de Hernán Crespo. Nos últimos dias de trabalho no CT da Barra Funda, o argentino e seus auxiliares tentaram combater a alta incidência de lesões com uma redução grande na intensidade das atividades.
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Isso levou lideranças do elenco à seguinte avaliação: a equipe ficou despreparada com Crespo e, por consequência, desorganizada, deixando os atletas expostos dentro de campo. O ex-goleiro chegou e, aos poucos, devolveu uma direção aos trabalhos e resolveu o problema.
Rogério traz consigo, entretanto, sua já conhecida personalidade perfeccionista. Três fontes diferentes que convivem com ele diariamente no CT o descrevem como pessimista, alguém que está constantemente preocupado e se planejando para os piores cenários, corrigindo erros e apontando problemas, sem intervalos de leveza. O comportamento causa desgaste no dia a dia.
Entre parte dos funcionários do CT, a reportagem apurou que há certo receio em se aproximar do comandante. Ao retornar ao clube ao qual dedicou a maior parte de sua carreira, Rogério não hesitou em apontar falhas estruturais e questões que o incomodam no dia a dia, algo que também gerou mal-estar.
A postura transparece também em entrevistas coletivas do ex-goleiro. Em pelo menos duas ocasiões na temporada Ceni falou abertamente sobre o perfil quieto e apontou falta de liderança e diálogo do time em campo.
"É um time mais calado. Jovens calados. Mais velhos que não têm como característica serem jogadores eloquentes. Time quieto. Estamos tentando desenvolver isso nos jogadores, que falem antes e durante a partida. Quanto mais cantado o jogo for, menos energia você gasta e mais bem posicionado está", disse após a derrota por 4 a 0 diante do Flamengo em novembro. Depois da recente vitória contra o Juventude, voltou a bater na tecla.
Nenhuma das pessoas ouvidas pela reportagem descreve o desgaste na rotina como suficiente para qualquer briga ou desejo pela saída do treinador. Qualquer desfecho que não a permanência de Ceni para o planejamento de 2022 seria visto como uma surpresa.
Uma fonte que convive diariamente com Rogério no CT da Barra Funda aponta outro fator que pode estar por trás da relutância de Ceni em confirmar sua permanência: a relação com a torcida. Segundo esse relato, o ídolo são-paulino ficou surpreso e bastante chateado com a demora de parte da torcida em abraçá-lo no retorno.
A Independente, principal organizada do clube, está rachada com Ceni, a ponto de exigir sua ausência em uma conversa que teve com lideranças do elenco. Parte da torcida normal também não grita seu nome no Morumbi.
Segundo a fonte ouvida pela reportagem, o técnico são-paulino esperava que, com o tempo, seu histórico de dedicação e glórias pelo clube fosse suficiente para reparar as relações, fraturadas por sua passagem pelo Flamengo, com declarações elogiosas aos rubro-negros. A rejeição, segundo o relato, é motivo de mágoa e tristeza maiores do que as que transparecem ao público.
Do lado da diretoria, não há qualquer conversa sobre a saída de Rogério. Há, inclusive, nas listas de possíveis reforços para 2022, nomes indicados pelo treinador. O São Paulo também afirma que não há qualquer atrito envolvendo o comandante e qualquer pessoa, atleta ou funcionário do clube.
As declarações de Rogério despistando sobre sua permanência não tiveram repercussão no CT da Barra Funda na terça (7), dia seguinte à entrevista. O técnico comandou normalmente as atividades, sem que houvesse qualquer conversa ou fato que saísse da rotina de trabalho.
O São Paulo volta a campo nesta quinta (9), contra o América-MG, às 21h30, para se despedir do Campeonato Brasileiro. Os mineiros abrem a zona de ida à próxima Libertadores, com 50 pontos, dois a mais que os tricolores, que ainda têm à sua frente Internacional, Santos, Ceará e Atlético-GO até chegarem ao G-8.
A delegação são-paulina em Belo Horizonte terá uma novidade: Luan, que se recupera de lesão na coxa há quase dois meses. Ele não será, no entanto, titular. Ceni deverá levar a campo Tiago Volpi; Igor Vinícius, Arboleda, Léo e Reinaldo; Rodrigo Nestor, Gabriel, Igor Gomes e Marquinhos; Rigoni e Calleri.
Estádio: Independência, em Belo Horizonte (MG)
Horário: 21h30 (de Brasília) desta quinta-feira (9)
Juiz: Caio Max Augusto Vieira (RN)
VAR: Pablo Ramon Gonçalves Pinheiro (RN)
Transmissão: Globo e Premiere