A um aumento contínuo e generalizado dos preços de produtos e serviços em uma economia dá-se o nome de “inflação”. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa mostra a origem da palavra: do latim “inflatio,onis”, também significa “inchação, inchaço, tumor, edema, hidropisia, distensão gasosa, meteorismo, flatuosidade, cólica, timpanite, dilatação (da água vaporizada)”.
Para medi-la, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) calcula o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Ele aponta a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos, por meio de um levantamento mensal, realizado em 13 áreas urbanas do Brasil, o que envolve aproximadamente 430 mil preços de 30 mil locais. Os valores são comparados com os preços do mês anterior, resultando em um único índice que reflete a variação geral de preços ao consumidor daquele período.
O indicador começou a ser calculado em 1980 e, desde então, a maior variação mensal foi em março de 1990 – 82,39% –, enquanto a menor variação aconteceu em agosto de 1998, de -0,51%. Se a variação do seu salário, de um ano para o outro, for menor do que o IPCA, você perde seu poder de compra, já que os preços sobem mais do que a renda.
Como ela “queima” o poder de compra da população, já que um valor em dinheiro compra cada vez menos do mesmo bem ou serviço, a inflação ganhou a figura de um dragão para representá-la. E, atualmente, o monstro vem queimando como há muito não se via no Brasil. A estimativa para 2021, que no início de janeiro era de 3,32%, alcançou 8,35% na última semana.
O assunto causa arrepios na fisioterapeuta Fátima Rodrigues, que lembra bem o caos dos anos 1980, quando a escalada da inflação causava uma disputa diária, nas gôndolas dos mercados, com os remarcadores de preço. “Quase todo dia o preço das coisas mudava, sempre subia. Você recebia o dinheiro e tinha que fazer as compras logo, senão perdia valor. Era comum o funcionário com a maquininha na mão, trocando os preços, e a gente correndo para pegar um produto antes disso acontecer, já que naquele tempo não passava o código de barras no caixa”, relembra.
A hiperinflação – chamada assim quando atinge níveis superiores a 50% ao mês – no Brasil foi uma realidade entre as décadas de 1980 e 1990. Com números elevados desde antes da ditadura militar, a inflação piorou muito no período, com média anual de 69,89% ano ano e pico de 235% em 1985. Com a redemocratização, sucessivos planos econômicos tentaram uma saída. Os planos Cruzado, Cruzado II, Bresser e Verão, durante o mandato do presidente José Sarney, tiveram de tudo — congelamento de preços, corte de zeros, moratória de dívidas, desvalorização cambial e criação de novas moedas. Apesar de momentos curiosos, como em 1986, quando os “fiscais do Sarney” denunciavam aumentos nos mercados na época do congelamento de preços, todos os planos fracassaram.
Com a eleição de Fernando Collor, em 1989, vieram os planos Collor e Collor II. O primeiro entrou em vigor em março de 1990, quando o índice de inflação estava na casa dos 80%. Trouxe como medidas a mudança da denominação da moeda de “cruzados novos” para “cruzeiros” e o confisco das cadernetas de poupança de quem tivesse valores acima de 50 mil cruzeiros. O governo pretendia devolver os recursos da poupança em 18 meses, com correção de 6% ao ano, o que nunca ocorreu. Esse sequestro é até hoje associado ao nome do ex-presidente, que sofreu impeachment em 1992.
Itamar Franco, que o sucedeu, lançou mão do Plano Real, liderado pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Embora tenha deixado o cargo quatro meses antes da entrada em vigor do plano, FHC é até hoje associado à medida que finalmente trouxe calmaria à economia brasileira e acabou pavimentando seu caminho ao Palácio do Planalto – o IPCA, que em junho daquele ano era de 47,43%, caiu para 6,84% no mês seguinte e chegou a 1,86% em agosto de 1994. Um ano depois, estava em 0,99%.
“Eu lembro que foi um alívio. Depois de tanto tempo daquela bagunça, a gente podia planejar as coisas. Você recebia o salário e podia planejar o que iria comprar, quando iria comprar. Você ia ao mercado em uma semana, na seguinte o preço das coisas era o mesmo. O salário não desvalorizava, mal dava para acreditar”, rememora Rodrigues. O mecânico Cecílio Naldani também conheceu as duas realidades e agora reclama da alta geral dos preços no país. “Cada vez que a gente vai no mercado, gasta mais e leva menos, está cada vez mais triste”, dispara.
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