A polêmica sobre a agressão ao candidato do PSDB à sucessão presidencial, José Serra, em evento no Rio de Janeiro ontem (20), foi explorada pela inserção exibida pelo PT na noite de hoje (21) no horário eleitoral gratuito. A sigla alimentou a desconfiança criada por vídeos na internet de que o tucano teria sido atingido por uma bolinha de papel, e não por um artefato pesado, como alegou o PSDB, e acusou o candidato de "simular" uma reação exagerada. "O PT é contra qualquer tipo de violência, mas também contra qualquer tipo de manipulação", afirmou o locutor.
Na sequência, reportagem produzida pelo SBT sobre o incidente foi exibida, com comentários do locutor da peça. "O candidato Serra aproveitou o conflito entre militantes para simular uma agressão que não aconteceu. Ele foi atingido por uma bolinha de papel, e nada mais", afirmou. "Esse teatro todo definitivamente não combina com um candidato à Presidência da República." Além do episódio, a peça do PT explorou mais uma vez as afirmações de que um governo do PSDB privatizaria empresas de controle estatal, com destaque para a Petrobras.
A propaganda pregou que durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) a empresa quase foi privatizada. "Não faz muito tempo que o Brasil por pouco, bem pouco, não perdeu a Petrobras." A inserção sugeriu ainda que o candidato do PSDB pretende privatizar a exploração da camada do pré-sal numa eventual gestão tucana. O locutor da propaganda ressaltou que no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foram vendidas "dezenas de empresas brasileiras", como a Telebrás e a Light. A inserção do PT levantou dúvidas ainda se o tucano dará continuidade aos projetos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com destaque ao Bolsa Família.
Esse tipo de acusação ganhou, pela primeira vez na TV, o reforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sugeriu que o PSDB irá privatizar o pré-sal. "É preciso a gente ficar de olho aberto porque, se descuidar, aquela turma de sempre vai querer privatizar o pré-sal", afirmou o presidente, segundo o qual os adversários só sabem governar "vendendo o patrimônio do povo". A peça defendeu o uso dos recursos do pré-sal em investimentos nas áreas de educação, saúde, combate à pobreza, ciências e tecnologia, entre outras.
A inserção do PSDB voltou a mostrar o episódio da agressão ao candidato José Serra, como fez na peça exibida na tarde de hoje, com o acréscimo de discurso feito em 2000 pelo então presidente do PT na época, José Dirceu. Na época, o hoje deputado federal cassado acompanhava uma greve de professores e teria incitado os manifestantes contra o então governador de São Paulo, Mário Covas. "Eles têm de apanhar nas ruas e nas urnas", exortou. O programa comparou ainda o ocorrido com Serra à agressão que Covas recebeu durante greve em São Bernardo do Campo em 2000.
"Os brasileiros lutaram muito para reconquistar a democracia", afirmou uma atriz. "Por isso, é inaceitável o que aconteceu nesta quarta-feira, no Rio." Cenas em que Covas foi agredido com uma bandeirada na cabeça apareceram logo depois das imagens de Serra. "Fui cassado para garantir o direito de vocês falarem. Não o direito de me dar paulada na cabeça", disse Covas, na época. "Essa é a democracia que você quer para o Brasil?", questionou a atriz. A inserção também mostrou imagens de uma manifestação promovida pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), na qual Covas teria sido ameaçado.
O programa do PSDB veiculou ainda direito de resposta que ocupou um minuto da propaganda do PT. Uma atriz usou o tempo para defender Serra das acusações de que teria privatizado a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e 31 empresas em São Paulo. "A CSN foi privatizada no governo Itamar Franco. O Serra nessa época era deputado. Eles falam que foi o Serra, mas não foi, ele não teve nada a ver com isso", defendeu a atriz. "E a Justiça reconheceu que é mentira. Aliás, o Serra, quando foi governador, não privatizou nenhuma empresa. Repito: nenhuma." A atriz acusou a campanha da candidata do PT de "ficar inventando".
A maior parte da inserção do PSDB tratou de políticas para os deficientes físicos, com a promessa do candidato de que criará o Ministério da Pessoa Deficiente, num eventual governo do PSDB. "Mais de 25 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência", lembrou o tucano. "Só um presidente com sensibilidade pode tratar as pessoas com deficiência com muita atenção." A peça acusou ainda o atual governo de não investir em transporte e educação básica em relação às Associações dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes).