O PV fechou o primeiro turno das eleições em clima de festa e com um tremendo dilema pela frente. A festa é pelos surpreendentes 19,6 milhões de votos dados à candidata Marina Silva. O dilema é sobre o que fazer no segundo turno.
O assédio do PT e do PSDB pela fatia de quase 20% do eleitorado brasileiro, que pode ser o fiel da balança no segundo turno, terá fogo pesado. Na verdade, começou bem antes do fechamento das urnas. Há quase duas semanas que José Serra, do PSDB, vem mantendo discretíssimos contatos com representantes da direção nacional do PV.
A definição verde não será fácil. Ontem, na entrevista coletiva que deu logo após as urnas anunciarem o segundo turno, Marina declarou que o partido só vai tomar posição após consultas e debates internos - um processo que pode se estender por vários dias. Ela também disse que a discussão ocorrerá sempre a partir do programa de governo que apresentou na campanha.
Uma parte dos assessores próximos de Marina, recém-filiados ao partido, defende a ideia de que ela se mantenha neutra, sem declarar apoio a nenhum dos dois candidatos. Por outro lado, integrantes da direção nacional do partido querem o alinhamento com Serra. Um deles é o presidente da legenda, José Luiz Penna. Essa atitude seria natural, do ponto de vista dela, considerando que em alguns Estados, como São Paulo e Rio, PV e PSDB já são aliados.
Para se ter uma ideia do confronto entre os dois grupos, é interessante observar que Penna não compareceu à comemoração de Marina, ontem à noite, no salão de um cineclube, na Vila Madalena, na zona oeste, em São Paulo. A candidata apresentou-se à imprensa e aos militantes verdes cercada por familiares e pelo grupo que trouxe para o PV, quando se filiou à legenda, no ano passado.
Marina não tem pressa. Quer ouvir, entre outros grupos, os onze políticos que concorreram a cargos majoritários nos Estados. Alguns abandonaram candidaturas próprias para garantir tempo de exposição para a candidata no palanque eletrônico de seus Estados. Os candidatos de Minas Gerais e da Bahia estavam praticamente eleitos para a Câmara, mas se sacrificaram em nome do projeto nacional.
Também nesse grupo, porém, não há unanimidade. Se os verdes do Rio e de São Paulo tem mais afinidade com o PSDB, na Bahia pendem para o PT. Vale observar também que, se a decisão fosse tomada apenas pela cúpula do partido, prevaleceria a posição de Penna, que tem maioria dos votos.
Internamente, comenta-se que Marina não quer ficar ausenta dos debates do segundo turno. Mas que isso não significa necessariamente subir no palanque de Dilma ou de Serra. Fala-se que poderia dialogar com os dois, como uma espécie de crítica dos programas, uma ombudsman dos eleitores verdes.
Fala-se também que Marina, satisfeita por ter levado a eleição para o segundo, ficaria contente se suas propostas fossem incorporadas explicitamente pelos candidatos. Sobre isso, vale mencionar o artigo publicado ontem no Estado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Numa espécie de namoro com a possível aliada, escreveu que Serra e Marina têm em comum "a recusa ao caminho personalista e autoritário". Mais adiante, para delícia dos ambientalistas que assessoraram a campanha verde, afirmou que o PSDB "sabe que não há desenvolvimento de longo prazo sem sustentação ambiental".
A equação sobre o que fazer no segundo turno também levará em conta que Marina já é candidata potencial à sucessão presidencial, em 2014. "Não há dúvida de que ela estará lá", disse ontem o empresário Ricardo Young, que também teve uma performance surpreendente na disputa para o Senado, em São Paulo. Saiu com 4,1 milhão de votos, o equivalente a 11% do eleitorado.