"Observo só o prazo de validade. Para leigos é complicado entender as informações" diz Elaine Arcenio
Você consegue entender todas as informações impressas em rótulos de alimentos industrializados? Letras minúsculas e falta de clareza são apenas alguns dos itens que contribuem para que os consumidores não entendam todo o texto escrito ou simplesmente o ignore. No entanto, é importante que todos saibam que aquela letra ou tabela difícil de enxergar pode fazer toda a diferença, na alimentação e na saúde. Antes de optar por levar para casa um determinado produto, a atenção deve ir além do prazo de validade.
Os dados impressos – valor calórico, carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans, fibras, ferro, cálcio e sódio – são obrigatórios. Estes itens foram definidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) há seis anos. Já o restante das informações o fabricante só informa se quiser. Os itens foram definidos a partir do percentual de valor diário necessários à alimentação com base em uma dieta de 2 mil calorias, quantidade necessária para que o metabolismo do corpo humano funcione normalmente.
"Esse valor é o padrão, mas a quantidade varia conforme idade, sexo, composição corporal e se a pessoa pratica alguma atividade física. Não é a mesma quantidade para todos", salienta a professora de Nutrição da Unopar, Rejane Dias Neves Souza, doutora em Ciência de Alimentos. No entanto, ela chama atenção para um detalhe: a porção estabelecida na tabela de valor diário. "É importante prestar atenção para a quantidade definida. O valor calórico impresso não é para o consumo de toda a embalagem", salienta.
Outra questão importante: as calorias são do produto dentro da embalagem, portanto antes do preparo. Por exemplo, o valor informado em um saco de milho para pipoca ou de batata congelada não considera a forma de preparo. Só para se ter uma idéia, 100 gramas de batata cozida tem 80 calorias; se a mesma quantidade do vegetal for frita essa quantidade sobe para 225; já a batata palha tem 525 calorias. "Quanto menor o alimento maior a absorção de gordura", comenta Rejane. Por isso o seu conselho é optar pelas batatas assadas, que ficam crocantes e com baixo teor de calorias.
Gordura trans
Ela ainda acrescenta que se a quantidade de algum nutriente é menor do que 1% das necessidades diárias não é necessário que a informação conste no rótulo. É o caso de produtos que indicam a não adição de gordura trans. As embalagens não trazem valores diários de referência especificados simplesmente porque o ideal é que não se consuma nenhuma quantidade deste "nutriente". No entanto, é bom prestar atenção no total consumido porque na tabela pode constar que não há gordura trans na porção determinada, mas em quantidade maior o percentual pode subir.
Esse ingrediente é prejudicial à saúde porque atua diretamente nas células, modificando o metabolismo e contribuindo para o aumento do LDL (colesterol ruim). "A gordura trans é pior do que a saturada porque o organismo precisa de uma certa quantidade de gordura saturada. Só não podemos exagerar", salienta a professora. Já a gordura insaturada é benéfica ao organismo. Ainda é preciso atenção para mais um detalhe: muitos ingredientes podem estar "escondidos". Por exemplo, em uma embalagem de pipoca para micro-ondas de manteiga, entre os ingredientes está listada a gordura vegetal.
Neste caso, a pipoca não tem sabor de manteiga porque a gordura constante neste alimento deveria ser a animal. Outro problema recorrente são em produtos diet e light. Pesquisas desenvolvidas pela professora Rejane com cinco marcas de pão light revelaram que as amostras têm mais calorias do que a versão tradicional do produto. O valor calórico dos produtos informado nos rótulos era menor do que o normal, mas a porção indicada também era menor. Se fossem utilizadas as mesmas porções, curiosamente as calorias do "pão light" seriam maiores.