Um só tênis com várias tecnologias. A ''ficha técnica'' dos calçados esportivos modernos costuma ser extensa e, às vezes, complicada para grande parte dos consumidores. Traduzindo, os principais benefícios, no final das contas, se concentram no conforto, no melhor rendimento e na proteção contra lesões. O diferencial são os modelos desenvolvidos para vários tipos de pisadas.
Pelo menos duas marcas investem mais fortemente nesses modelos específicos e os demais fabricantes concentram a linha de produção na pisada neutra. ''De uns nove anos para cá começaram a surgir alguns modelos, por exemplo, para quem pisa para fora (supinação) ou para dentro (pronação). Muitas pessoas já chegam pedindo esses tipos de tênis por recomendação médica ou porque viram reportagens sobre o assunto'', afirma Marcelo Maronato, vendedor da Bolivar Esportes, em Londrina.
O mercado também oferece calçados direcionados para alguns tipos de atividades físicas. Os mais comuns são corrida e caminhada. Nestes casos, as novas tecnologias focam principalmente no sistema de amortecimento. Existem modelos que permitem a interação perfeita dos movimentos do pé com o tênis, com uma construção especial que aliviam o estresse causado no calcanhar durante a prática de exercícios.
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Algumas tecnologias minimizam o tempo de transição da passada por meio da redução do impacto e do aumento da flexibilidade do tênis, proporcionando uma corrida mais eficiente e macia. Há modelos que trazem lingueta anatômica que envolve o pé com objetivo de aumentar o conforto e a estabilidade.
O vendedor Marcelo Maronato avalia que um tênis de qualidade traz benefícios no conjunto (sola, entressola e cabedal). Ele diz que um bom sistema de amortecimento (há gel, cápsulas de ar, entre outros) e a ventilação (geralmente nylon com tela) são os principais itens para quem corre.
Enquanto um calçado com tecnologia para corrida custa entre R$ 490 e R$ 800, um indicado para caminhada pode ser encontrado a partir de R$ 100. ''É preciso analisar a relação custo-benefício. Para caminhar ou até correr na esteira, o tênis não precisa de tanta tecnologia, um sistema de amortecimento simples já é suficiente. É diferente dos tênis para corrida ao ar livre, muitas vezes em terreno irregular, que trazem inclusive placa antitorção'', observa.
Assim como os calçados esportivos evoluem, o consumidor fica mais exigente. ''Praticamente não existe mais aquele cliente que vem atrás do bom, bonito e barato'', diz Maronato. Quanto à vida útil de um tênis, ele diz que é de 10 a 14 meses para quem corre, por exemplo, entre cinco e seis quilômetros por dia. Também é importante ter mais de um par para fazer o revezamento do calçado.
Na hora de comprar, é recomendado calçar o tênis e andar um pouco dentro da loja. Quem trabalha com o produto afirma que o calçado esportivo escolhido com cuidado e critério nunca vai fazer bolha ou machucar os pés. ''Se isto acontecer é porque está muito grande ou apertado, ou é incorreto para a prática de determinada atividade'', explica Maronato.
'Nem sempre o mais caro e bonito é o melhor'
O ''boom'' do mercado dos calçados esportivos, com inúmeros modelos e marcas que chegam a confundir o consumidor, não deve ser encarado pelo lado negativo. A aparente complexidade trouxe, na realidade, muitos benefícios, segundo o médico Áureo Cinagawa, especialista em ortopedia e medicina do esporte. ''Nossos pés agradecem (a evolução da tecnologia) e não sentem saudades dos tempos dos antigos calçados'', diz.
Ele alerta, no entanto, que o consumidor não deve ser influenciado pelas promessas e ofertas que não correspondem às suas reais necessidades. O médico diz que muitas vezes um tênis mais caro e bonito, de marca famosa, não é melhor que outros menos conhecidos e de baixo custo.
Independentemente da modalidade esportiva, diz Cinagawa, o tênis deve proporcionar conforto e proteção, corresponder ao custo-benefício desejado e se adaptar às condições individuais do atleta quanto ao tipo do pé, condições atléticas, idade, sexo, peso, composição corporal, entre outros.
Ao escolher um tênis, o ortopedista sugere que o consumidor o avalie por partes. ''A primeira parte a ser considerada é a porção posterior. O contraforte deve ser firme e unificado à sola como um monobloco, para proporcionar estabilidade e evitar a deformação resistindo às flexibilidades do retropé e às variáveis do terreno'', diz.
Cinagawa explica que na parte anterior, a mobilidade deve ser adequada para permitir a movimentação, obedecendo a plasticidade natural do pé e permitindo a ação dos músculos e ligamentos.
''A sola rígida ou flexível deve exercer uma harmonia com a forma e a função do pé, de acordo com a exigência de cada esporte. No caso de corridas, o solado precisa absorver o impacto e proteger os pés, além de proporcionar um apoio confortável e permitir a propulsão, com equilíbrio'', esclarece o médico. A palmilha interna tem que se adaptar às curvaturas dos pés, resultando em um apoio uniforme.
Cinagawa pondera que a escolha inadequada do calçado esportivo pode trazer consequências como bolhas, ferimentos, dores, calosidades e deformidades. ''Uma boa análise clínica do médico ortopedista em relação ao tipo e formato do pé, o estudo da marcha e os exames complementares, quando necessário, darão subsídios para a escolha do tênis e para a prática esportiva'', afirma.