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Propaganda abusa do erotismo para vender mais

31 dez 1969 às 21:33

O erotismo, que tem sido usado como argumento para recuperar a audiência das novelas, está em "alta" também na publicidade. É comum se ver este tipo de apelo principalmente em anúncios de bebidas ou carros, em out-dours, na internet e até em campanhas promocionais de algumas lojas, em produções glamourosas.

A professora Flávia Pomin Frutos, coordenadora do curso de Marketing de Unopar, se mostra preocupada com o que considera excesso no apelo ao erotismo na publicidade. "Os apelos eróticos são cada vez mais utilizados na composição de textos de peças publicitárias de uma forma geral porque é fácil chamar a atenção do consumidor".


Para ela, um dos principais problemas é que este tipo de publicidade faz a cabeça do consumidor, que passa a acreditar que terá o mesmo estilo de vida dos protagonistas do anúncio. "A pessoa tem a falsa ilusão de que ao consumir aquele produto terá o seu corpo transformado, a sua vida transformada, os seus relacionamentos pessoais transformados; ela pensa que desta forma vai conseguir agregar algum valor a sua vida pessoal ou melhorar a sua autoestima".


De acordo com a professora, o que acontece hoje em dia é que muitas empresas, em busca de resultados rápidos, usam o erotismo de forma indiscriminada para vender um determinado produto a qualquer custo. "Muitas vezes se tem uma visão de curto prazo, se pensa apenas naquele produto, naquela venda, e se alcança, mas a que custo? A própria empresa, às vezes, vem a sofrer consequências de uma sociedade que vive conflitos éticos, de valores e de moral".


Na opinião de Flávia, não é apenas a empresa que deve ser responsabilizada por eventuais excessos, porque cabe ao publicitário manter uma assessoria adequada a seu cliente. "O profissional da área tem responsabilidade na formação de opiniões. A forma como ele desenvolve a propaganda, muitas vezes contribui para dizimar valores sociais e éticos, que acabam prejudicando a própria sociedade".


A professora explica que o Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária (Conar) não aprova o apelo ao erotismo para indução ao consumo, o que nem sempre é obedecido. "Percebemos que, em alguns casos, há apelação e até mesmo alguns excessos, e isso mina a formação de nossa sociedade. O marketing precisa ser ético e trabalhar com o que é socialmente responsável. O consumidor tem que comprar um produto pelas suas características e pelos benefícios que ele pode trazer, desde que sejam reais".


Segundo a professora, o apelo excessivo à sexualidade contribui para um fenômeno registrado pelos educadores: a erotização precoce. "Hoje as crianças estão amadurecendo muito mais rapidamente do que deveriam, algumas pulando etapas da infância e pré-adolescênia, e isso é altamente influenciado pela mídia, de uma forma geral. Desde os programas infantis, passando pelo estilo de moda e até mesmo a propaganda voltada volta às crianças, muitas vezes num apelo sutil".


A professora diz que toda campanha publicitária depende de um planejamento e ela desconhece estudos que comprovem que o apelo erótico estimule vendas. "O recurso realmente chama a atenção, mas é questionável se é convertido em vendas; porque uma coisa é chamar a atenção, outra é levar o consumidor a comprar".


Empresa aposta no público jovem


Uma indústria de confecção de Londrina criou uma campanha bem humorada para encerrar as coleções primavera/verão e outono/inverno nos últimos dois anos. A campanha com o nome "Abaixo as calças" associa o apelo erótico à redução de preços para a ocasião. As calças são vestidas nos manequins somente até o joelho. A ideia foi desenvolvida pelo designer gráfico Tiago Barião. "A campanha funciona muito bem, é uma coisa inusitada, inesperada e o público é extremamente receptivo".


Barião diz que a campanha é dirigida em especial ao público jovem, com idades entre 15 e 30 anos. Ele atribui o sucesso da campanha a essa faixa de clientes que considera mais aberta e descolada. "As pessoas entram na loja e entendem bem a proposta. Acho que o público mais velho poderia até repudiar", justifica.

A empresa tem uma equipe própria para desenvolver este trabalho de criação e, para o publicitário, "o apelo erótico realmente funciona".


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