Para cada DVD original de filme são comercializados seis piratas, segundo estimativa mundial da Associação Antipirataria Cinema e Música. Nos últimos dois anos, a pirataria derrubou até 60% do movimento das locadoras, que agora criam novos serviços e lançam promoções para sobreviver no mercado. Empresários do setor ouvidos pela FOLHA afirmam, porém, que ainda existe um público cativo, além daqueles consumidores que circulam entre o mercado formal e o informal de DVDs.
A concorrência é desleal. Enquanto cada locação de DVD original custa de R$ 4,50 a R$ 7,50 para a pessoa ficar no máximo 48 horas com o filme, uma cópia nas ruas pode sair por R$ 2 (5 DVDs por R$ 10). Além disso, tem a facilidade do dowload pela internet em casa. Quem recorre às locadoras? ''É um público variado e independe de classe social. Consumir DVD pirata vai muito da consciência de cada um'', observa Odival Benedito de Matos, proprietário do Delta Vídeo Mega Store, em Londrina.
Aberta em 1986, a locadora já chegou a ter cinco lojas na cidade e hoje mantém apenas uma. O melhor momento da empresa foi entre 2004 e 2005, quando a matriz mudou de endereço adotando o conceito de mega store. A partir de 2006, porém, a pirataria fez as locações caírem em média 40%, segundo Matos. Para atrair e fidelizar os clientes, a locadora lançou novidades como um plano mensal em que o consumidor paga a partir de R$ 89,90 para retirar um determinado número de filmes, sem prazo para devolução.
Outra saída foi a implantação da venda de livros, brinquedos, chocolates, bebidas, salgadinhos e uma quantidade maior de revistas. ''A locadora que depender só de locação vai ter que fechar. Estamos procurando vários caminhos para sobreviver, mas sabemos que o mercado não está bom para ninguém'', diz Matos. Ele diz que ainda continua investindo em lançamentos e novidades do mercado (ver matéria nesta página), mas reduziu pela metade a compra de DVDs por mês.
A locadora 100% Vídeo, franquia que tem duas lojas em Londrina, também adota estratégias para contornar os efeitos da pirataria. Uma delas é incentivar o público infantil a assistir DVDs originais: todo dia 12, as crianças têm direito à uma locação gratuita. ''Estamos trabalhando de diversas formas para atrair os clientes. Temos livros, revistaria, canecas com caricaturas de artistas e uma conveniência grande'', afirma Michail Balan da Silva, gerente de uma das lojas da rede.
Silva abriu uma franquia na cidade há dois anos e conta que na época as pesquisas indicavam que o mercado era bom. ''Hoje, as locações caíram 60% (em relação a 2006) e o mercado se mostra bem instável. Há muitos altos e baixos'', avalia Silva. Segundo ele, diversas situações levam clientes de perfis variados para as locadoras hoje.
Tem gente que procura filmes antigos que são difíceis de encontrar no mercado pirata, tem aquele que compra pirata e também aluga original, além de uma parcela que é totalmente contra a pirataria. ''Outros buscam os filmes novos que não vão para o cinema. São filmes bons, que são difundidos no boca-a-boca e acabam demorando para serem pirateados'', informa o gerente.
Para impulsionar o comércio de DVD original, a locadora também trabalha com o sistema de pré-venda de lançamentos, em que o consumidor paga metade antecipado e o restante quando o produto estiver disponível.
‘Quem compra DVD pirata alimenta indústria do crime’
''Sei que ser politicamente correto no Brasil é careta. Mas me recuso a comprar produtos piratas por uma questão de princípios'', afirma o empresário Claudio Massami Missaka, que gasta cerca de R$ 300 em locação de filmes originais. Ele vai três vezes por semana à locadora e assiste em média seis títulos por semana, de gêneros variados.
Ele afirma reconhecer que a distribuição dos recursos gerados com a venda dos DVDs originais nem sempre é justa, em especial com artistas, mas não se rende à pirataria. ''Também sei que existem famílias que tiram o sustento do mercado pirata. Mas é subemprego. Então, sou totalmente contra. Você compra um DVD pirata e alimenta a indústria do crime. Sem falar que aumenta o lixo do planeta, já que você assiste em média duas, três vezes, risca e joga fora'', contextualiza o empresário.
Missaka diz que incentiva os filhos, de 8 e 13 anos, a consumirem somente produtos originais. Mas eles nem sempre seguem os conselhos do pai. ''Estou plantando a sementinha e torço para que se transformem em adultos conscientes. Quando eles aparecem em casa com DVDs piratas e acontece de o produto ser ruim eu dou risada e digo 'viu, jogou dinheiro fora''', diz.
Nova tecnologia blu-ray já tem adeptos
Algumas locadoras do país já oferecem filmes em blu-ray, tecnologia de alta definição que veio para substituir o DVD. Apesar de estar há cerca de um ano no mercado, só agora estão surgindo mais títulos no formato. ''Ainda é um produto elitizado que demanda investimentos aos quais a classe média não tem acesso'', pondera Odival Benedito Matos, da Delta Vídeo Mega Store, que oferece cerca de 50 filmes em blu-ray.
A tecnologia requer uma TV de alta definição (plasma ou LCD) e os aparelhos para a sua reprodução custam cerca de R$ 2 mil. A vantagem é que também podem ser reproduzidos em equipamentos de PlayStation 3. ''A maioria dos clientes que procura o blu-ray na locadora usa o PlayStation mesmo'', informa Matos.
Ele diz que está investindo no blu-ray para manter a tradição de pioneirismo da empresa na cidade, mas informa que as locações ainda não são significativas. ''O blu-ray vai ser o futuro das locadoras. Mas é um produto daqui uns dois anos, até se popularizar'', diz Silva. O produto tem preço de locação igual ao DVD, mas para compra é mais caro: em torno de R$ 100.
O médico Alexandre Basso Pretti é adepto do blu-ray. Ele aluga filmes em locadora e também compra títulos nos Estados Unidos. ''Tenho um amigo que me envia pelos Correios. Lá é bem mais barato, custa em média 20 dólares'', conta. Ele tem usa aparelho de PlayStation 3 e um projetor LCD de 100 polegadas.
''A imagem fica excelente e o som também. Parece um cinema. Quando você começa assistir blu-ray não quer mais saber de DVD. A qualidade de imagem, por exemplo, é seis vezes melhor'', diz Alexandre.