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Linhaça triturada na hora faz mais efeito

20 jul 2009 às 11:22

A linhaça, semente do linho, utilizada pela humanidade há pelo menos 5 mil anos, alcança hoje o topo dos itens mais vendidos em lojas de produtos naturais. Com ajuda da mídia, o produto entrou e permanece em evidência no Brasil há menos de uma década e é oferecido pelo comércio de diversas formas (sementes inteiras, farelo, óleo, cápsulas). Mas, afinal, quais são as principais propriedades deste alimento considerado funcional e a melhor maneira de consumi-lo?

Para responder a estas questões, a FOLHA consultou profissionais das áreas de saúde e de engenharia de alimentos. O consenso é que o consumo da linhaça deve ser orientado por algum profissional de saúde e que a semente inteira, por ser muito lisa, pode passar intacta pelo trato intestinal. O ideal é que o produto seja processado (em liquidificador ou processador) para que seus nutrientes possam ser absorvidos pelo organismo. A recomendação, no entanto, é que a semente triturada seja consumida imediatamente para evitar a oxidação (rancificação) dos ácidos graxos.


Segundo a engenheira de alimentos Rosemar Antoniassi, pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, do Rio de Janeiro, a semente de linhaça apresenta em torno de 40% de óleo rico em ácido alfa-linolênico, que pertence à família dos ácidos graxos ômega-3, mas não possui as mesmas atividades terapêuticas do ômega-3 encontrado, por exemplo, em alguns peixes de águas frias. Quanto aos benefícios do alfa-linolênico, Rosemar diz que ''é um ácido graxo essencial e, portanto, deve ser consumido pelo ser humano''.


A pesquisadora informa que este ácido está presente também nos óleos de soja e de canola, porém, em menor quantidade. O problema é que, em virtude da grande concentração de linolênico, a semente de linhaça quando quebrada, é mais suscetível à oxidação, que gera radicais livres. Daí a necessidade de se consumir rapidamente e nunca guardar, nem mesmo na geladeira.


Neste sentido, seria menos recomendável consumir o óleo de linhaça. ''Dentro da semente, o óleo está protegido. Removido dali, está sujeito à oxidação'', pondera Rosemar. Ela esclarece, porém, que a Embrapa não faz indicação nutricional, nem apologia a qualquer tipo de produto. E reforça: ''Como os resultados de pesquisa ainda não são suficientes ou conclusivos e, algumas vezes, controversos, o indivíduo que deseja fazer uso de qualquer produto com propriedades ditas terapêuticas deve receber orientação médica''.


A pesquisadora destaca que a semente de linhaça é valorizada também pela presença de proteína e minerais, mas principalmente pelas lignanas (uma classe de fitoestrógenos). E existem muitos estudos sobre os possíveis benefícios tanto da semente quanto do óleo e de extratos contendo estas lignanas. Rosemar cita que as pesquisas quanto aos prováveis efeitos da linhaça e seus derivados sobre a saúde humana estão relacionadas a problemas de constipação intestinal, doenças cardiovasculares, sintomas da menopausa, câncer, entre outros.


Quanto aos tipos de linhaça comercializados no Brasil (a marrom e a dourada), Rosemar ressalta que ''não há informações suficientes na literatura'' sobre as possíveis vantagens de uma sobre a outra. O que deve ser levado em conta na hora de comprar, segundo ela, é a qualidade do produto: os consumidores devem optar pelas sementes embaladas, com selo de procedência; os grãos devem estar inteiros e sem a mistura de outros tipos de sementes.


Em relação à quantidade consumida, o melhor caminho é o bom senso. ''Qualquer alimento ingerido em grande quantidade pode trazer malefícios. Até mesmo tomar água em excesso'', pondera.


Variedade dourada custa o dobro


A comerciante Marilda Bocatti Vieira, do Empório Natural, em Cambé, diz que a linhaça está entre os produtos mais vendidos na loja. Ela oferece as sementes inteiras (a dourada custa R$ 12 o quilo e a marrom R$ 6), o óleo em cápsula (de R$ 18 a R$ 25, dependendo da quantidade da embalagem), o óleo em vidro de 250 ml (R$ 18) e o farelo por quilo (R$ 20 a dourada e R$ 9 a marrom).


Segundo Marilda, a linhaça dourada é mais cara porque é importada. Entre todos os itens, o mais procurado na loja é o farelo. ''As pessoas preferem o farelo pela praticidade'', observa a comerciante, que compra o produto já triturado. Segundo ela, os fornecedores informam que o processo de moagem é especial, o que reduziria os problemas de oxidação do produto.


Enfermeira consome a semente há dez anos


A enfermeira e oligoterapeuta Dagmar Lachner utiliza a linhaça em sua alimentação há cerca de dez anos. Desde então, vem sentindo resultados positivos, principalmente em relação à saúde da pele, ao funcionamento do intestino e à diminuição dos sintomas da tensão pré-menstrual. A partir das próprias experiências, passou a indicar o consumo da linhaça aos pacientes.


A enfermeira se baseia em pesquisas feitas no Canadá e nos Estados Unidos para afirmar que a linhaça é rica em ácidos graxos que quando consumidos regularmente podem afastar o risco do câncer e outras doenças degenerativas, além de potencializar seus tratamentos.


Ela lembra que os estudos mostram que a semente pode ser benéfica para a estrutura óssea de mulheres pós-menopausa, devido ao seu poder antioxidante, e ajudar na prevenção da depressão. Dagmar ressalta, porém, que os benefícios são mais facilmente percebidos desde que a pessoa tenha uma alimentação equilibrada.


Nos últimos anos, a enfermeira vem ''testando'' diferentes formas de consumir a linhaça. Ela recomenda a ingestão da semente triturada na hora (com iogurte, frutas ou no meio da comida). Sugere também a mastigação (lenta) das sementes cruas ou depois de deixadas de molho por meia hora.


Outra dica é deixar a linhaça de molho durante uma noite. ''Na manhã seguinte, as sementes brotam e você pode batê-las junto com um suco de clorofila (folhas verdes como couve e agrião, além de cenoura e limão). Assim, é possível aproveitar a energia da semente. Fica um suco energético e rejuvenescedor'', revela.

Dagmar ainda não utilizou o óleo da linhaça, mas pelas suas pesquisas sobre o assunto, acredita que o produto em cápsula tem oxidação mais lenta. Ela diz que não vê diferenças importantes entre as variedades dourada e marrom, e sugere que o consumidor opte pelo produto orgânico.


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