Seu bolso

Feiras livres preservam qualidade e tradição

31 dez 1969 às 21:33

Feira livre ainda é lugar de tradição. Tanto da parte de quem compra quanto de quem vende. Entre a grande quantidade de idosos, os mais jovens que se vê por lá herdaram da família o negócio ou o hábito de consumir naquele ambiente. São pessoas que cresceram na feira e acompanham suas transformações há mais de 20 anos. Embora a proliferação dos supermercados afete o volume das vendas, a qualidade dos produtos é apontada pelos feirantes como arma eficaz para sobreviver.

‘A arma do nosso negócio é a mercadoria boa’, confirma Cláudio Fernando Pedro, que começou a trabalhar na feira há mais de duas décadas, ainda menino, e há cinco anos adquiriu sua própria banca. Ele lembra que na década de 1990 a banca em que trabalhava tinha 15 funcionários, cinco balanças, formava fila e vendia ‘de caminhão’.


‘Vendíamos 120 caixas de tomate. Hoje, se sair 10 tem que tirar o chapéu’, compara. Se o volume de vendas não é o mesmo, a qualidade permanece segurando os fregueses fiéis. Pedro trabalha com uma grande variedade de legumes e verduras, e alguns tipos de frutas, incluindo produtos não muito comuns na maioria das bancas. Tem aspargo, broto de bambu, tofu (queijo de soja) endívia, almeirão italiano, ervilha torta, entre outros.


Pedro afirma que não se baseia na concorrência e faz o seu preço de acordo com o que paga pelos produtos. Assim como nas demais bancas da feira, as frutas e legumes são vendidos por dúzia e não por quilo. ‘Se você fizer as contas, não sai mais caro. E ganha na qualidade’, defende. O feirante nunca pensou em adotar a máquina de cartão de crédito e diz que recebe muito cheque, já que os consumidores são quase todos conhecidos. ‘É comum as pessoas darem cheque para pegar troco’, conta.


Em contato com a feira desde muito jovem, Rildo Dias Prado começou a trabalhar com o pai, na década de 1970, e desde 1988 se tornou dono de banca. Hoje, conta com apoio da esposa Joêmia da Silva Prado. Ao contrário do pai, que vendia batata, cebola e alho, ele optou por trabalhar com produtos com maior prazo de validade como grãos e seus derivados. Prado vende cerca de 20 tipos de feijão, com destaque para as diversas variedades de carioca.


‘Londrinense gosta de caldo clarinho. Na preferência, depois do carioca vem o bolinha’, constata. Nesses 20 anos, Prado não considera que a feira perdeu consumidores, mas admite que a concorrência interferiu. ‘Antes, a cidade só tinha um grande supermercado e alguns pequenos. Olha hoje, quantos são’, diz.


O feirante acredita que o consumidor dos supermercados vai atrás de preço e quem vai à feira prioriza qualidade. ‘Comprar feijão em feira, por exemplo, é bem mais garantido, pois você vê o que está levando. Já o feijão empacotado não dá para ver a qualidade’, defende.


Prado também incorporou novas variedades ao mix da banca. Os principais são produtos para quem busca uma alimentação mais equilibrada e saudável, como trigo e soja em grãos, linhaça, granola e frutas secas. ‘A castanha-do-pará é campeã. As vendas aumentaram em mais de 50% nos últimos dois anos’, diz.


Produtos frescos atraem consumidores


A administradora Olinda Ivamoto cresceu vendo os pais irem à feira fazer compras e se tornou também uma frequentadora do local. Hoje os pais são idosos e já não saem muito de casa, então é ela que busca as frutas e hortaliças para o casal. ‘Japonês tem esse hábito de comer verduras, legumes. Venho à feira todos os domingos e compro o que sei que eles gostam e o que a gente consumia em casa quando eu era criança’, conta.


Ela diz que prefere a feira porque encontra produtos mais frescos. Para o consumo diário da sua casa, porém, Olinda opta pelo supermercado por causa da praticidade. ‘Penso que os preços são os mesmos, não vejo muita diferença’, afirma.


Para o agricultor Virgílio Mendes, ir à feira é, acima de tudo, um ‘hábito saudável’. ‘É uma tradição que não vai morrer. Veja os países europeus, bem antigos, com seus mercados e feiras em praça pública’, observa. Ele conta que vai à feira sempre que pode, motivado pela qualidade dos produtos e pelo ambiente. ‘Não venho mais por falta de tempo. Aqui é mais gente, os supermercados são frios’.

Alho-poró, tempero fresco e bucha natural estavam entre as compras da atendente de call center Sandra Silveira Nakatsukasa, que tem o hábito de fazer feira todos os finais de semana. ‘Eu morava no Norte do país e lá eu já ia na feira. Acho que os produtos tem sabor diferente e duram mais do que os de supermercado. É tudo fresquinho, você caminha ao ar livre’, repara. Além da qualidade, ela destaca o fato de encontrar ali produtos diferenciados como queijo fresco e pamonha.


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