Sofisticação requer tecnologia. Esta é a máxima que tem sido aplicada na indústria alimentícia e já chegou ao consumidor na forma de bebidas energéticas. Disponíveis em pequenas embalagens, o destaque é a alta concentração de nutrientes como carboidratos, açúcares e proteínas. Por isso, atraem sobretudo atletas devido pela capacidade de repor energia em competições que exigem preparo físico dos competidores.
Para esportista Alexandre Augusto Amaral, o 'Xandão', os energéticos funcionam como ''uma recarga nas baterias''. Como é praticante de corrida de aventura - uma variação do triatlon, que mistura mountain bike, corrida, escalada de montanhas e travessia de rios - afirma que estes produtos são fundamentais em provas de longa duração que se arrastam por até 14 horas.
Para garantir a eficácia nas dosagens, a composição dos energéticos combina altas concentrações de estimulantes como guaraná, carboidratos e açúcares com vitaminas e ingredientes de ervas exóticas com a finalidade de recobrar o fôlego e trazer de volta a energia. ''Mas a cafeína, a taurina e os aminiácidos são os que atuam na hora de espantar o cansaço'', completa o atleta.
Além dos energéticos propriamente ditos, Xandão elenca alimentos funcionais como as barras de cereais, sachês de carboidratos em gel, isotônicos e sucos como o kit básico para as provas de resistência. A vantagem é a rápida digestão, afinal o atleta não tem tempo suficiente para fazer uma refeição e a absorção instantânea não atrapalha o rendimento durante a competição. ''Além de reduzir do impacto na parte física tem o desgaste de raciocínio'', define.
Conforme esclarece Kátia Tookuni, especialista em nutrição esportiva, é a alta concetração de carboidratos que funciona como fonte de energias durante as atividades físicas. Já a concentração de cafeína tem efeito ergogênico, ou seja, possui um ativo que estimula o sistema nervoso central agindo de maneira positiva no desempenho do atleta. A taurina age como redutor do efeito repressor do álcool.
''A cafeína também relaxa a musculatura, aumenta o alerta e alivia o sono e fadiga. Além disso, pode estimular a transformação da gordura durante a prática esportiva e economiza glicogênio muscular que é um 'combustível' do músculo'', detalha.
De acordo com Xandão, os gastos de um atleta com os suplementos nutricionais podem chegar com facilidade aos R$ 200. Tendo como exemplo seu consumo, por competição são gastos 10 latas de energéticos que ao todo custam R$ 60, 10 sachês de carboidratos em gel e 10 de proteínas que saem por R$ 30 cada, mais alguns isotônicos e barras de cereais.
Esse público é o responsável pela média de crescimento de 12% ao ano, segundo uma pesquisa encomendada pela Packaged Facts. Diante do mercado global, existe uma estimativa de que até 2001, seus ganhos ultrapassem os US$ 9 bilhões, alicerçado por um faturamento de US$ 6,6 bi no ano passado. O aumento no número de fabricantes é o que garante as boas perspectivas, uma vez que a fatia referente aos energéticos dentro da categoria de não-alcoolicos é de modestos 2%.
É importante ter cautela em meio às inúmeras ações de marketing que objetivam aumentar o consumo. O uso de energéticos, segundo esportistas, deve ser restrito a quem pratica atividades físicas e não podem ser consumidos aleatoriamente. Segundo conta, doses acima de 250mg de cafeína (o equivalente a três latas) podem causar intoxicação, nervosismo e irritabilidade e equivale a três xícaras de café.
A nutricionista Kátia, lembra ainda que até 2004, os atletas que utilizassem estimulantes eram enquadrados no doping. Porém, a Agência Mundial Anti-Doping (Wada) retirou a cafeína da lista de substâncias proíbidas e o consumo agora é liberado entre atletas.
O esportista Xandão afirma que a preferência pelos energéticos se dá apenas durante as competições. Adeptos do fisiculturismo chegam a priorizar o uso destes e outros suplementos para o desenvolvimento da massa muscular, mas este não é seu caso. ''No dia-a-dia, eu prefiro um prato com arroz, feijão, carne, massas e uma salada o mais coloridas possível para repor minhas energias porque eles são sinônimos de saúde'', arremata.
‘Isotônicos não podem ser consumidos como sucos’
Os isotônicos também são tidos como bebidas energéticas. Sua composição é diferente dos energéticos à base de cafeína, porque atuam na reposição de eletrólitos como o sódio e o potássio que são fundamentais para o equilíbrio hídrico. De acordo com o atleta Alexandre Amaral, eles reduzem a desidratação porque aumentam a concentração de sal no organismo e faz reter água, diminuindo as perdas por meio de transpiração.
Mas seu uso é restrito, porque o aumento da concentração de sais consequentemente se reflete na retenção de líquidos. Isso pode agravar problemas de pressão e por isso ''os isotônicos não podem ser consumidos como sucos''. ''É uma bebida para quem pratica atividade física e o uso deve ser bem taxativo. Isso pode acarretar uma sobrecarga nos rins, principalmente se o organismo for propenso aos cálculos renais'', explica.
Para a nutricionista Kátia Tookuni, os isotônicos devem ser usados apenas durante a prática de esportes, porque elevam a pressão arterial quando a presença dos sais minerais se acumulam no organismo. ''Eles são eletrólitos que servem para repor os sais minerais perdidos pelo suor, por isso não podem ser confundidos como bebidas refrescantes'', finaliza.
Combinação com álcool pode ser explosiva
Se existe uma mistura explosiva na balada é a de álcool com energéticos. Elas são mais utilizados pela moçada para aumentar a resistência e enganar a embriaguez. O comerciante João Henrique Oliveira mistura uma lata de energético à sua dose de whisky, para ''melhorar o sabor da bebida''. Outra forma de consumo adotada por ele é após beber algumas cervejas a mais, quando está afim de ''prolongar'' uma noitada. ''Ele dá mais resistência'', definiu.
De acordo com a nutricionista Katia Tookuni, quando misturados às bebidas alcoólicas reduzem a percepção da incapacitação de quem consumiu. Por causa da taurina, substância responsável por inibir a ação do álcool, o consumo desmedido não afeta momentaneamente o organismo fato que a longo prazo será prejudicial.
Porém, a combinação pode amenizar a sensação de cansaço e sonolência, mas não reduz os efeitos da perda da coordenação motora característica da embriaguez. ''Com isso, a pessoa não percebe e na hora de tomar decisões apresenta reações mais lentas'', explica.
Kátia cita um estudo publicado em 2004, por pesquisadores da Universidade Federal do Estado de São Paulo, que discute o consumo da combinação energéticos/bebida alcoólica. A pesquisa diagnosticou que as pessoas que não têm o hábito de consumir bebidas destiladas, como vodka e whisky, bebem mais quando associadas aos energéticos, pois o sabor agradável induz à ingestão em grande quantidade.
''Além disso, muitos consumidores relatam que o aumento do prazer e do efeito do álcool serve como estimulo ao consumir com maior frequência. No entanto, sem perceber, perdem a capacidade de coordenação motora e de ação e reação sendo uma causa comum de acidentes. Por isso, é importante tomar muito cuidado para não exagerar na dose'', aconselha Tookuni.