Seu bolso

Consumidores mirins e conscientes

06 out 2010 às 11:19

Cada vez mais o mercado abre espaço para produtos infanto-juvenis. As crianças e adolescentes ganham prateleiras exclusivas e as pesquisas demonstram o aumento do poder de influência das crianças sobre os pais. Se antes os produtos direcionados aos pequenos eram quase exclusivamente roupas e brinquedos, atualmente este universo abrange muito mais categorias e inclui bens de grande valor, como apartamentos, carros e viagens.

Segundo recente pesquisa do Instituto Interscience, as crianças têm influência em 80% das decisões de compra de uma família. Por isso, mesmo as propagandas direcionadas aos adultos têm apelo infantil.


Conforme a psicóloga do Instituto Alana Laís Fontinelli, atualmente as crianças já nascem inseridas em uma realidade mercadológica. ''Hoje o mercado não as vê como filhos do cliente, mas sim como clientes em potencial. Elas não consomem apenas produtos ligados ao universo infantil. Atuam como promotores de vários produtos na família.''


Pesquisa realizada pelo Datafolha, a pedido do Instituto Alana, aponta que o que as crianças mais pedem aos pais são alimentos não saudáveis. ''Sabemos que o que interfere na decisão delas é a publicidade, o personagem famoso e a embalagem, nesta ordem. No entanto, a maioria dos produtos alimentícios direcionados ao público infantil unem esses três fatores.'' O instituto desenvolve trabalho de conscientização com o governo federal, em busca da regulamentação da publicidade dirigida às crianças. ''Além disso, fazemos palestras com pais e educadores. É importante que os pais saibam dar limites e também que as escolas trabalhem o tema.''



Pais devem 'abrir o jogo', diz psicóloga



O fato dos pais em geral terem muito pouco tempo com seus filhos é um fator que influencia na relação dos pequenos com o mercado, afirma a psicóloga Giuliana Temple. ''O pai acaba fazendo todas as vontades da criança como forma de compensar o pouco tempo passado em família. Na verdade eles atendem às necessidades materiais para camuflar uma ausência educacional que a criança tem e que nem sempre é suprida.''


Ela destacou que é importante que os pais gastem o tempo com os filhos longe das compras e da alimentação em excesso. ''Sabemos que sempre que temos um sentimento que não conseguimos identificar, encontramos duas saídas: a comida ou as compras. Por conta disso temos tantas crianças - e adultos - obesas, e o consumo exagerado ganha cada vez mais espaço.''


Para Giuliana, a melhor forma de lidar com isto é abrindo o jogo. ''Os pais devem mostrar as possibilidades de compra e deixar as crianças conscientes da situação financeira da família.'' Ela destacou que as crianças precisam ouvir ''não'' e aprender a viver com a sensação de frustração. ''É preciso mostrar que, como na vida adulta, nem sempre elas terão aquilo que querem'', disse.


Não ceder aos apelos do filho muitas vezes é uma tortura, segundo a psicóloga, a maioria dos pais não sabe lidar com a própria frustração e em vez de encarar que não tem condição financeira de comprar o objeto que a criança deseja, parcelam a compra e acabam se endividando por conta disso.


Para aqueles que optam pelo sistema da ''mesada'', a orientação de Giuliana é que os pais respeitem o desenvolvimento mental de cada criança. ''Recomendo que os pais de crianças com menos de dez anos que queiram estipular a mesada, dividam o dinheiro e entreguem semanalmente. Para eles, é mais fácil administrar o dinheiro durante um tempo mais curto, como uma semana, do que durante o mês todo. Vale lembrar que até os sete anos de idade as crianças não têm nem noção de valor nem de tempo.''



Orientação começa em casa


Rita Marcia Aragão é mãe da Manuella, de 4 anos. Conforme a mãe, a menina costuma pedir para comprar objetos durante os passeios. ''Ela pede muitos doces e salgadinhos, sempre compro mas não exagero. Avalio com cuidado antes de comprar o que ela quer, minha filha não tem todas as vontades atendidas, sei que desta forma estou contribuindo com a educação dela.''


De acordo com a mãe, a menina é levada em conta nas compras da família. ''Se formos ver um carro, é claro que vamos procurar saber se tem espaço suficiente para ela, se há conforto e segurança. Ela acaba interferindo sem querer nas nossas decisões.'' Manuela disse que gosta de ir ao mercado com a mãe. ''Peço para ela comprar chocolates, balas e pirulitos.''


Louise Tivirolli de Paula tem 13 anos e desde os 11 recebe mesada. Com o tempo ela está aprendendo a administrar o dinheiro. Conforme a mãe, Katia, a família orienta para que a menina não gaste toda a mesada. ''Sempre questiono se precisa mesmo e vai usar o objeto que está comprando. Acredito que a minha filha está desenvolvendo o consumo consciente e que isto acrescenta na formação dela como pessoa.''

Louise afirma que aprendeu a guardar o dinheiro para comprar produtos de valor mais alto. ''A minha meta agora é guardar o suficiente para ir ao show da Lady Gaga quando ela vier ao Brasil. Estou me esforçando e já tenho uma parte do valor necessário.'' Ela acrescentou que procura pesquisar preços e que gosta muito de sapatos, mas pensa duas vezes antes de fazer uma compra.


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