Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% da população no Brasil faz uso da fitoterapia, tratamento ou prevenção de doenças por meio de plantas. Os produtos são vendidos em farmácias e lojas especializadas nas formas de extrato, cápsula, xarope, pomada, creme, enxaguatório bucal, entre outros. Na maioria dos casos não é exigida receita médica. O médico Rui Cépil Diniz, especialista em fitomedicina, alerta que este tipo de tratamento tem eficácia comprovada em diversos casos, mas usado de forma incorreta pode causar problemas à saúde.
Doses excessivas, tratamento prolongado e diagnóstico equivocado estão entre os principais riscos. Segundo o médico, com exceção do extrato manipulado em farmácia, o restante dos produtos é vendido livremente. Nestes casos, Diniz observa que os funcionários e proprietários das lojas não devem fazer indicações. Ele recomenda que os consumidores pesquisem sobre as plantas e seus efeitos antes de comprar algum produto.
''Essa pesquisa deve ser feita em livros e sites de instituições de pesquisa, como universidades, e nunca em publicações comerciais, pois são tendenciosas'', destaca Diniz. Outra dica é sempre chegar ao estabelecimento com o nome científico da planta, já que há muita variação entre os nomes populares.
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Segundo o médico, o consumidor precisa saber que a fitoterapia é indicada para doenças consideradas simples. ''Em casos graves, como Aids, câncer, a fitorerapia pode apenas complementar o tratamento (alopata)'', esclarece. É importante, segundo ele, que a pessoa seja consultada por um médico para obter o diagnóstico da doença antes de comprar qualquer produto para tomar.
Diniz cita como exemplo o hábito de recorrer à planta espinheira-santa para curar gastrite, sem diagnóstico médico. ''Se a pessoa tiver um câncer de estômago, cujos sintomas são parecido com gastrite, pode atrasar o diagnóstico'', observa.
Os usuários da fitoterapia, segundo o médico, devem escolher um estabelecimento ''idôneo'' e sempre observar o rótulo dos produtos. É preciso saber se eles trazem registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ou do Ministério da Agricultura (em muitos casos, os rótulos podem trazer também a inscrição ''isento de registro''). A variação acontece, conforme Diniz, porque esses produtos não entram como remédio, mas como suplemento alimentar.
Ainda no rótulo, o consumidor vai encontrar as precauções e a dosagem. ''Embora não sejam considerados medicamentos e não exijam receita, os fitoterápicos podem ter efeito colateral'', alerta o médico. Ele observa, por exemplo, que os chás são contra-indicados para as gestantes pelos riscos de aborto, malformação do feto, entre outros.
Diniz reforça que os produtos manipulados por farmácia fazem parte de uma outra linha da fitoterapia e exigem prescrição médica. Esses estabelecimentos vendem os produtos na forma de extrato, que tem padronização de princípio ativo. ''É muito mais seguro. Os efeitos são mais previsíveis'', diz.
Como escolher os chás
As plantas medicinais desidratadas, usadas para fazer chá, exigem muito cuidado por parte do consumidor. O médico Rui Diniz esclarece que, vendidas desta forma, as plantas não são classificadas como produtos fitoterápicos. Mas são indicadas para diversos tratamentos de saúde e podem ser melhor aproveitadas quando há prescrição médica. Veja as recomendações do médico:
- Comprando o chá
- Além de escolher uma loja idônea, observe o aspecto da erva (ver se não tem mofo) e como ela está acondicionada.
- Evite os chamados raizeiros, onde geralmente não há um cuidado com o produto.
- Fique com os locais em que as plantas estejam em recipientes, de preferência de vidro, e tampados.
- Observe se não há manipulação direta com as mãos.
- Preparando o chá
- Para se conseguir ''tirar o remédio da planta'' de forma adequada, o preparo do chá deve seguir algumas regras.
- Tudo que é ''delicado'' (pó, flor, folha) deve ser feito através de infusão (5 a 10 minutos). Porém, nunca em água quente, mas morna. Para ervas nas formas mais ''grosseiras'' (sementes grandes, cascas, raízes) a recomendação é a fervura (até 5 minutos). Nos dois casos, os recipientes de alumínio devem ser evitados.
- A regra básica é misturar uma colher (sopa) de erva para cada xícara (150 ml) de água.
- Nunca misture mais de quatro plantas no mesmo chá.
- O uso de fitoterápicos em gestantes deve ser sempre criterioso.
Programa difunde o uso das plantas medicinais
Criado em 2003, o Programa Municipal de Fitoterapia em Londrina vem colhendo bons resultados. Segundo o coordenador, o médico Rui Cépil Diniz, o trabalho foi iniciado em 13 unidades de saúde do Município com a utilização de seis produtos e hoje atinge 22 postos com 35 fitoterápicos e mais seis tipos de chá: camomila, funcho, capim-limão, quebra-pedra, cavalinha e guaco.
As equipes dos postos envolvidos são treinadas e o tratamento é sempre feito por indicação médica. Os fitoterápicos prescritos são extratos manipulados em farmácia. No caso dos chás, as unidades dispõem das ervas recomendadas aos pacientes.
Segundo Diniz, o objetivo do trabalho é difundir o conhecimento sobre as plantas medicinais entre a população e indicar o seu uso. ''Há unidades em que conseguimos reduzir em mais de 50% o uso de psicotrópicos (calmantes) nos pacientes. Isso com a adoção de plantas como valeriana, passiflora, kava-kava, hipérico'', relata.