Seu bolso

Cheque sobrevive à avalanche dos cartões

01 out 2009 às 13:12

''Para parcelar uma compra, ainda prefiro cheque porque é mais fácil de controlar o orçamento. Justamente por ser mais prático, o cartão te leva a sair gastando com risco de perder o controle do que já parcelou no mês. Em lojas que dão vantagem para cheque, não deixo de usá-lo'', diz o engenheiro agrônomo e empresário Leonardo Bodnar. Apesar de ter cartões de crédito e débito, ele nunca deixou de andar com talão de cheques no bolso.

Por causa de consumidores com esse perfil e de uma parcela do varejo - que utiliza esta forma de pagamento para fugir das taxas das operadoras de cartões ou por necessidade devido ao perfil da clientela -, o cheque sobrevive à avalanche do dinheiro de plástico. Entre 2000 e 2008, as operações com cartão de crédito/débito cresceram de 314 milhões para 2,021 bilhões, enquanto o número de cheques compensados despencou de 2,638 bilhões para 1,396 bilhão, segundo dados da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).


Conforme Walter Tadeu Pinto de Faria, assessor técnico da área de serviços bancários da Febraban, a inversão mostra que as pessoas estão deixando de utilizar cheque para pagar com cartão de débito ou crédito por causa da segurança. ''O cartão você mesmo passa, digita a senha e pronto. O cheque você passa no comércio e não sabe aonde ele vai parar, se vai cair nas mãos de falsificadores. O problema do cheque é a cadeia de transferência, onde perde-se o controle do seu destino'', analisa.


Apesar de grande parte dos brasileiros prefir o cartão e o comércio também priorizar o dinheiro de plástico, Faria não acredita no desaparecimento do cheque. ''Pode até diminuir ainda mais o uso em relação ao cartão, mas sempre vai existir'', diz. ''Veja o exemplo dos Estados Unidos, com toda a sua potência econômica e avanço tecnológico. Lá todo mundo tem cartão, mas o cheque continua sendo utilizado no mesmo patamar daqui'', considera.


O assessor da Febraban informa que São Paulo é o maior emissor de cheques do Brasil - levando em conta o tamanho e a importância econômica do Estado. No entanto, não há dados que mostrem se existe algum local do País em que o cheque é utilizado como principal forma de pagamento.


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Há lojas que priorizam o cheque nas compras parceladas para fugir dos juros cobrados pelas operadoras de cartão: de 3% a 4% sobre o valor da compra. Na franquia da grife Lacoste em Londrina, por exemplo, quem paga com cheque pode parcelar até cinco vezes sem juros, enquanto que no cartão é possível dividir em três vezes no máximo. As exigências são: compra acima de R$ 800 e cliente com cadastro, que já tenha consumido outras vezes no local.


''Tem clientes que utilizam mais o cartão por ser prático, mas há outros que adoram pagar com cheque, principalmente quando ficam sabendo das vantagens'', observa Jucielli Torres, funcionária da loja. Devido à seleção da clientela, ela informa que os problemas por falta de fundo quase não existem. ''Apenas 2% (dos cheques recebidos) voltam'', diz.


Existem setores do varejo em que esta forma de pagamento é valorizada por necessidade. É o caso dos postos de combustíveis de rodovias, onde o cheque é a principal moeda. ''As transportadoras pagam o frete com cheque e o motorista o desova nos postos'', afirma Durval Garcia Júnior, proprietário do Posto Prudentão, em Londrina, e diretor do Sindicato dos Postos de Combustíveis (Sindicombustíveis). Na empresa dele, o pagamento em dinheiro representa 2%, em cartão entre 2% e 3% e o restante é feito em cheque e carta-frete.


Segundo o empresário, o cheque ainda é ''muito utilizado'' tanto por transportadoras quanto por motoristas. E a inadimplência só cresce. ''Infelizmente, tem muita gente boa (com crédito) que está ficando ruim (sem crédito), por causa da situação do país. No meu posto, por exemplo, tive que negociar R$ 88 mil em cheques para novembro. São clientes que não puderam honrar com o pagamento e antes de o cheque voltar buscaram acordo'', revela. Nem com abertura de cadastro e consulta à Serasa evita-se o risco. ''Quem garante que daqui a 30 dias a pessoa não vai ficar mal (sem crédito)?''.

O empresário diz que vai continuar aceitando cheque em função do perfil da clientela. Mas contra a vontade. ''A coisa que eu mais queria era só pegar cartão, mesmo pagando 3% de taxa. É seguro, você não corre risco'', constata.


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