Conhecida como Capital da Uva, Marialva (17 km a leste de Maringá) também se destaca como a terra do chapéu. Com aproximadamente 35 mil habitantes, o município é sede de duas empresas que vendem para quase todo o território nacional. O negócio tem história curiosa, a começar pelo fato de as fábricas - com público-alvo distinto - estarem nas mãos de representantes da mesma família. Uma delas entrou no mundo empresarial por meio do chapéu, há quase 40 anos, e segue apostando na força do produto. O impulso vem do agronegócio e da moda country.
De família mineira e desde cedo envolvido no ofício do chapéu, João Gonçalves de Medeiros abriu na década de 1970 a Chapebraz. No início, um sócio produzia e ele vendia. Depois, desfez a sociedade e prosseguiu com a produção, sempre contando com a ajuda da esposa, Aparecida Caparroz de Medeiros. A empresa nasceu numa época em que quase todo avô ainda usava chapéu. Com as mudanças de estilo e comportamento da sociedade, o negócio tomou outros rumos e hoje tem sustentação na linha promocional, voltada ao agronegócio.
São cooperativas, empresas de insumos e implementos agrícolas, entre outras - às vezes, patrocinadas por multinacionais -, que fazem grandes encomendas de chapéus para presentear os clientes. Há produtos simples e outros mais trabalhados, que, geralmente, levam a marca ''promocional'' bordada. ''É uma parceria muito forte que firmamos com estas empresas. A maioria tem o chapéu como brinde. Com ele na cabeça, os clientes vão da lavoura ao banco'', afirma Marcia Richarte, funcionária do setor administrativo da Chapebraz.
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A fábrica, porém, não deixa de lado a chamada linha lojista - aquele chapéu vendido em loja, seja moderno ou tradicional. ''O chapéu não mudou muito. Aquele que o seu avô, o seu tio usavam antigamente, se usa até hoje. É o caso do chapéu social'', observa Medeiros.
Com 50 funcionários, a empresa produz mais de 90 modelos de chapéus, como o australiano, o social, o redondo, o americano. A produção utiliza entre 15 e 20 tipos de matérias-primas, entre juta, palha, algas marinhas e lã. Algumas são importadas. Um exemplo é o material para a fabricação dos famosos chapéus Panamá, cuja palha (folha de palma), na verdade, vem do Equador. ''Esses chapéus já vêm com a carapuça pronta e aqui concluímos o processo'', diz Medeiros.
Da produção mensal média de 25 mil a 30 mil unidades por mês, 65% correspondem ao chapéu de juta, que começou a ser feito em larga escala há cerca de 10 anos, atendendo principalmente o mercado promocional. ''Fomos pioneiros na produção deste chapéu que hoje é nosso carro-chefe. Além do baixo custo, é discreto, combina com tudo e tem boa aceitação'', conta Marcia Richarte.
Onda country
A moda country que tomou conta de várias regiões do país, puxada pela música sertaneja, é o que impulsiona os negócios da Eldorado Company, também em Marialva. À frente da empresa está o filho de João Gonçalves de Medeiros, Flávio Caparroz Medeiros, a esposa dele, Elizangela Greco Medeiros, e o irmão dela, Adriano Greco. Flávio foi o único dos três filhos de Medeiros que seguiu os rumos empresariais do pai. Porém, com outro foco.
''Ainda trabalhava com meu pai quando percebi que havia um mercado a ser explorado na moda country. Como ele tinha outra visão, resolvi abrir a própria empresa para investir no que acreditava'', lembra Flávio. E deu certo. Com apenas sete anos, a fábrica tem 40 funcionários e produz em média 20 mil unidades/mês. Do total, 70% estão direcionados ao mercado country. A alta temporada das vendas é entre março e agosto, quando acontecem as principais feiras agropecuárias e festas de rodeio do país. O garoto-propaganda da marca é um conhecido locutor de rodeio.
Além do Paraná, a empresa atende os Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Roraima e Acre. No mercado country, o que mais cresce é o nicho feminino. Segundo os empresários, as mulheres trocam de chapéu como trocam de roupa. ''A cada seis meses lançamos uma coleção, com quatro a cinco modelos novos. As mulheres sempre querem comprar novidades. Era uma brecha no mercado, que agora estamos atendendo'', conta Elizangela. Ela diz que os chapéus femininos são mais despojados, com cores e cheios de detalhes.
No geral, as principais matérias-primas são lãs, palhas e fibras. Alguns itens vêm de países como China, Bolívia e México. ''O couro caiu muito. É quente, pesado'', constata Elizangela. O produto da empresa que mais vende é o chapéu de lona de algodão. ''Há alguns anos, esse chapéu só tinha linha importada no Brasil. Desenvolvemos a tecnologia para começarmos a produzi-lo aqui. Hoje é um sucesso de vendas'', conta Elizangela. Os chapéus feitos pela empresa chegam ao consumidor com preços entre R$ 50 e R$ 80.
Setor exige criatividade dos empresários
Como não há fábricas de máquinas no Brasil voltadas para o segmento do chapéu, os empresários do ramo aventuram-se a inventar e reinventar a sua própria engenharia. Aos 67 anos, João Gonçalves de Medeiros, dono da Chapebraz, é mestre nisso. Não fosse a sua ousadia, tudo ainda seria manual na fábrica de quase quatro décadas. Atualmente, está em teste uma prensa, criada por ele, que logo deve ser patenteada. ''Dá um melhor acabamento e agiliza a mão de obra'', explica o empresário, cujo avô já trabalhava com chapéu em Itajubá (MG).
Outro exemplo é uma máquina adaptada para fazer costura dupla na banda (faixa) dos chapéus. ''Isso reduziu bastante o trabalho. Antes, conseguíamos fazer apenas 200 bandas por dia. Hoje, a média é de 500'', conta Aparecida Caparroz de Medeiros, 66 anos, esposa de João de Medeiros, que trabalha na empresa desde o início.
Flávio Caparroz Medeiros seguiu os passos do pai e também faz suas adaptações na Eldorado Company. Ele viajou recentemente ao México, onde acontece uma importante feira country, e conheceu várias empresas de chapéu. ''Lá existe muita tecnologia para a produção de chapéu. Como importar tem alto custo, procuramos adaptar o que é possível. Neste setor no Brasil, é preciso muita criatividade para estar sempre inventando'', diz Medeiros.