Um mercado que surgiu e anda aquecido em decorrência da insegurança: as empresas de blindagem comemoram os números que não param de crescer. No Paraná, por exemplo, a MS Blindados, há seis anos no mercado e a única do ramo no Estado, aponta um aumento de 40% no número de blindagens em comparação ao ano de 2009, quando 100 veículos foram blindados pela empresa. Neste ano, até o momento, 130 carros passaram pelo processo e, segundo o representante para o Norte do Paraná, Junior Bley, a expectativa é que se feche o ano com 140 ou até 150 carros blindados, sendo que desse total, 70% são importados e 30% nacionais, com modelos SUV predominando.
‘O setor tende a crescer muito mais. Quem tem um carro blindado tem uma sensação de segurança e tranquilidade que não tem preço; e se mostra preocupado em passar segurança para toda a família, blindando também o carro da esposa e dos filhos’, comenta.
Moradores do Norte e Noroeste do Paraná, em especial das cidades de Londrina, Maringá, Arapongas e Apucarana, estão entre os que mais procuram pelo serviço. Até o momento, a MS Blindados entregou 13 carros na região; no ano anterior foram 10. ‘A maioria para empresários e executivos’, explica Bley.
Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Blindagem (Abralin), 3.432 veículos receberam esse tipo de proteção no Brasil nos seis primeiros meses de 2010. No mesmo período do ano anterior esse número foi de 3.147, o que representa um aumento de 9% até o momento. Encabeçam o ranking das cidades que lideram essa procura São Paulo e Rio de Janeiro.
A pesquisa também constatou o perfil do usuário da proteção balística. O sexo masculino compõe o percentual de 67,5%, sendo que 22% estão na faixa etária de 50 a 59 anos. As mulheres ficam com 32,5%, com a faixa etária entre 40 a 49 anos predominando: 30%. Do número total de usuários, os executivos e empresários somam 71%; 4% artistas e cantores; 4% políticos; 5% juízes; 16% outras ocupações.
No Brasil o nível de blindagem feito pelas empresas é classificado como III-A, contra violência urbana (sequestros e assaltos). O veículo, que depois de pronto passa a pesar de 200 a 250 quilos a mais, resiste a tiros de calibres 22, 38, pistola 9 milímetros, Magnum 357 e Magnum 44 - capazes de perfurar uma parede de tijolos a 15 metros de distância -, e a submetralhadora 9 milímetros.
A blindagem de nível III, mais potente, capaz de resistir a tiros de fuzil, requer uma autorização especial, concedida pelo Exército Brasileiro mediante explicação dos porquês de tamanha proteção. A de nível IV é somente de uso militar. Os demais tipos de blindagem também necessitam de um registro fornecido pelo Exército e uma licença dada pela Polícia Civil. Hoje existem despachantes específicos desse segmento que cuidam de toda a documentação.
O preço da proteção gira em torno de R$ 45 mil a R$ 70 mil. A variação é em decorrência de fatores diversos, entre eles o nível de blindagem: quanto maior a proteção, mais caro. Isso também ocorre em relação à área a ser blindada. A de um carro maior é mais onerosa comparada a de um carro pequeno, onde a área a ser protegida é menor.
As empresas de ponta costumam utiliza6r mais a manta de aramida (tecido de fios entrelaçados de mais ou menos 5 milímetros de espessura) do que o aço, que está sendo usado apenas nas colunas de sustentação. O vidro, que chega a responder por 30% (ou mais) do custo da proteção, se importado também é mais caro.
Um trabalho artesanal e minucioso
Blindar um carro é um trabalho 100% manual, que dura 30 dias e envolve especialistas em cada etapa da blindagem. A FOLHA acompanhou esse processo na Só Veículos, que atua há 10 anos no ramo de blindagem na capital paulista.
No galpão, de mais de 3 mil metros quadrados, cerca de 30 carros estavam em linha de produção de blindagem. Entre os modelos, carros de luxo, a maioria SUVs, como Porsche Cayenne, Q5, da Audi, ix35, Vera Cruz, Santa Fé da Hyndai, BMW X6 e X1, XC60, da Volvo. O trabalho é rico em detalhes.
Assim que chega à empresa, o carro é submetido a uma avaliação para identificar se o mesmo possui algum problema. Em seguida, começa a fase de blindagem, com o veículo sendo completamente desmontado. Com cuidado, cada peça é embalada e identificada separadamente, seguindo para um depósito.
O ''esqueleto'' do carro e a parte elétrica são protegidos por um plástico. Depois, o veículo segue para a aplicação da manta. Nesse momento cada parte do carro possui um molde, semelhante a um molde de roupa. A manta é recortada em cima de cada modelo e colada com cola especial. O aço é aplicado apenas nas colunas de sustentação do automóvel, norma estabelecida pelo Exército Brasileiro. ''Nem todas as empresas cumprem essa norma. Muitas, para baratear, colocam aço no lugar da manta, deixando, consequentemente, a blindagem muito mais pesada'', revela Kelly Lagoa, proprietária da empresa.
A blindagem dos locais de um veículo não é feita onde o dono quer e, sim, nos lugares que o protegem. Cada modelo tem locais específicos a serem blindados. Depois de receber a manta, o carro segue para a parte da montagem, que começa pelos vidros São eles que vão guiar como o montador vai trabalhar a interna.
É a parte mais trabalhosa Pronto, o vidro fica com uma espessura de 25 milímetros. ''Depois que você blindou, fez toda essa sobreposição de material, todas as peças do carro não se encaixam mais É preciso retrabalhá-las. Então, lixamos, cortamos manualmente, mantendo todo o acabamento original'', explica Kelly.
Os pneus também podem receber proteção. As rodas ganham uma fina cinta de metal, com cerca de 2,5 milímetros, que impede os pneus de se esvaziarem se atingidos, permitindo que o carro percorra cerca de 20 quilômetros numa velocidade baixa. Algumas empresas envolvem a roda com uma rígida fibra de náilon, com espessura aproximada de 6,5 centímetros. Ela não deixa a roda tocar no chão e o carro consegue percorrer cerca de 35 quilômetros a 80 km/h.
Por último, está a parte de qualidade, onde o veículo é submetido a teste de água para verificar se não há infiltração e teste de rua para averiguar se não está com entrada de vento e ruído. Depois disso uma pessoa checa, minuciosamente, item por item, para ver se tudo está fixo e no seu determinado lugar. Por último, faz-se uma higienização na parte interna do carro e, exteriormente, polimento e espelheamento.
Vida útil de oito anos
A blindagem de um carro dura oito anos, período em que a manta, material de proteção que reveste todo automóvel, resiste a projéteis disparados por armas de fogo. Apesar de ser um fio de náilon, muito resistente, a manta é um tecido que se desgasta com o tempo.
Os vidros também sofrem desgastes. ''O processo de fabricação do vidro é muito complicado. É feito uma fusão a quente, onde ele é recortado, elevado a uma alta temperatura e sofre um processo de pressão. Imagine um sanduíche de vários vidros que são colados. Entre esses vidros, existem microbolhas transitando, que não são perceptíveis ao olho humano. Mas com a exposição do carro ao calor e ao frio, essas bolhas vão se unindo e formam um processo que chamamos de delaminação. Isso começa a ocorrer a partir de dois, três anos, ou às vezes com seis anos de uso'', explica Humberto Neiva, gerente da Só Veículos.
A maneira como a pessoa cuida do carro determina, e muito, o tempo de duração do processo de delaminação. ''Se o carro é guardado sempre na garagem e pertence a uma pessoa que mora em um lugar onde as mudanças de temperatura não sejam bruscas, esse tipo de problema demora mais para ocorrer'', completa Neiva.
As blindadoras oferecem garantia de, no mínimo, cinco anos de toda parte opaca e três anos do vidro. É recomendável e de extrema importância que o proprietário faça a revisão a cada seis meses.
Quem investe nesse tipo de segurança não está preocupado com a desvalorização da blindagem. Comercialmente a blindagem tem valor agregado até os primeiros cinco anos Nos primeiros doze meses, perde-se de 30% a 40% do investimento Vender um carro blindado depois de cinco anos de uso significa que as cifras investidas vão de brinde para o comprador.
''Uma blindagem com mais de cinco anos de uso está muito próxima do fim da vida Então vendemos esses carros para pessoas que fazem serviço de transporte de pessoas ou valores'', disse Humberto.