Tem muita gente que faz cara feia só de ouvir falar em determinados alimentos. Chuchu, abobrinha, jiló, berinjela, ovo, pimentão, músculo, fígado, milho e seus derivados, entre tantos outros, dificilmente figuram entre os preferidos dos consumidores.
Num misto de preconceito com questões culturais, nem mesmo o preço mais em conta de muitos deles – dias atrás o chuchu custava R$ 0,05, o quilo, e a abobrinha R$ 0,30, o quilo, em um supermercado de Londrina – atraem os consumidores. Especialistas garantem que para gostar de comer, o que falta é conhecer melhor os alimentos, ter tempo de prepará-los e de descobrir todas as suas possibilidades.
Segundo a doutora em ciência de alimentos Lúcia Helena da Silva Miglioranza, o mito em relação a alguns alimentos, na verdade, são gerados porque as pessoas nem sempre sabem prepará-los corretamente ou ao menos conhecem suas propriedades. ‘Já aconteceu de eu ir ao supermercado, comprar salsão e a atendente de caixa me perguntar como se prepava ‘aquilo’, relembra Lúcia, professora da Universidade Estadual de Londrina.
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Ela ainda reforça que tratar alguns produtos como alimentos de gente pobre ou de rica, ‘sem glamour’ ou ‘chique’, não faz nenhum sentido, pois na maioria das vezes as pessoas têm acesso aos mesmos alimentos. A professora acrescenta que o status financeiro não necessariamente é acompanhado de melhores hábitos alimentares.
Lúcia observa que há um movimento, quase generalizado, em busca de produtos mais saudáveis, que tem feito legumes, verduras e frutas – muitas vezes preteridos – entrarem no cardápio do dia a dia. A especialista elenca que esse grupo normalmente é rico em nutrientes, fundamentais para o ser humano. ‘Costumam ser fontes de vitaminas, de fibra, que ajudam na digestão’, diz.
Ainda assim, reforça que os consumidores não sabem o que fazer com esses alimentos. ‘Muitas vezes não dispõem de tempo e, por isso, não fazem coisas diferentes. É preciso saber explorá-los’, recomenda. Lúcia cita como exemplo, que com a abobrinha é possível fazer um risoto, com camarão, tipicamente italiano. E ainda sugere uma maionese com caule de erva-doce picado e manga. Suflê de chuchu também é uma ótima oção segundo ela.
Ao falar de alimentos e receitas chiques ou não, a doutora em alimentos destaca que a culinária de países como França ou Itália prioriza tudo o que os brasileiros dispensam. ‘Além de legumes e verduras, as receitas têm ingredientes como miolo, fígado, músculo, rim, coisas que muitas vezes jogamos fora. A gente não usa o que tem’, conta. ‘E as pessoas ainda consideram essa culinária glamorosa!’, frisa. Quanto ao ovo, um produto que sofre bastante preconceito, ela ressalta: ‘na cozinha italiana eles não dispensam ovos, leite e vegetais’.
Lúcia lamenta que hoje em dia a refeição das pessoas seja caracterizada pela monotonia e sente o fato de uma combinação básica como arroz e feijão ser deixada de lado. ‘As pessoas têm que adquirir hábitos de consumo mais saudáveis, equilibrar as refeições. Os pais, principalmente, precisam comer alguns alimentos e incentivar as crianças e os adolescentes, pois alguns produtos são fundamentais para o crescimento e fortalecimento’.
‘Eu como todos os dias legumes e verduras. Sempre tivemos horta em casa, que meu pai plantava, então sempre fomos acostumados a comer esses alimentos. Não tem nada que eu não goste. Meus filhos também comem e não reclamam, quando eram crianças ajudavam o avô a fazer a horta. Sei que hoje em dia, com tantos produtos industrializados e salgadinhos é difícil os pais conseguirem fazer os filhos comerem legumes, mas eles precisam insistir, porque são alimentos importantes. Gosto muito de inhame, que é bom para a pele e também de quiabo, que costumo cozinhar e fazer salada’. Laura Basso, massoterapia.
‘Lá em casa tem legumes e verduras todos os dias. O que mais comemos é a cenoura. Costumo misturá-la no arroz ou fritar junto com o bife. Também faço legumes gratinados, com brócolis e abobrinha. Desse jeito as crianças comem sem problemas. Minha filha mais velha, de oito anos, também come todos os tipos de saladas, adora rúcula e alface, e não toma refrigerante. Quando ela não quer comer alguma coisa, insisto porque sei que são alimentos importantes para o seu desenvolvimento. Assim que a minha filhinha mais nova puder comer essas coisas vou dar. Acho que são os pais que têm que incentivar esse tipo de alimentação mais saudável’
Mônika Papke, designer
Chef acredita na gastronomia popular
O chef de cozinha Djalma Araújo acredita que as pessoas têm que se voltar para uma gastronomia mais popular. ‘Eu ‘desglamorizo’ a culinária, acabo com a ideia de que a gastronomia é feita apenas de pratos lindos e caríssimos. Essa é a mensagem que sempre passo para os meus alunos’, afirma Araújo, que além de comandar a cozinha do Brickell Key Restaurante ainda é professor na Unopar.
Ele conta que tem um trabalho voltado para utilizar o alimento integralmente, desde as cascas, folhas, sementes até os talos. ‘Talo da salsinha com limão, gelo e açúcar dá uma limonada mara-vilhosa’, exemplifica. Para ele, o fato de muitas pessoas não gostarem ou fazerem cara feia quando se fala em algum alimento é uma questão cultural. ‘A mãe só fazia abobrinha ou chuchu refogadinho, então as pessoas acham que esses alimentos são sempre sem graça, uma comida trivial. E, na verdade, é possível fazer coisas maravilhosas com legumes, verduras, temperos e frutas’, enfatiza.
Ele cita que um dos temperos mais valorizados na cozinha asiática é o coentro, mas que no Brasil, com exceção do nordeste, sofre um pouco de preconceito. ‘Claro que nem todas as pessoas vão gostar de todos os alimentos, mas é uma questão de prestar mais atenção, procurar saber quais os benefícios que esses produtos podem trazer e conhecê-los integralmente’, frisa.
‘Eu ‘desglamorizo’ a culinária, acabo com a ideia de que a gastronomia é feita apenas de pratos lindos e caríssimos’, diz o chef Djalma Araújo.
O chef ainda destaca que verduras e legumes, geralmente são produtos com preços mais atrativos. ‘Além disso, é interessante saber quais são os produtos de época, porque geralmente estão mais baratos’, enfatiza Araújo.