Por hobby ou necessidade de reduzir custos, aumenta a parcela da população no Brasil que assume os pequenos consertos dentro de casa sem buscar ajuda de um profissional. Existe um mercado atento aos adeptos da bricolagem - expressão de origem francesa, associada à ideia de consertar -, que traz cada vez mais opções para a montagem da caixa de ferramentas voltada aos primeiros socorros no ambiente doméstico.
Em lojas especializadas já é comum encontrar produtos que trazem na própria embalagem a expressão ''faça você mesmo''. São jogos de chaves, alicates e lixas, cartelas com parafusos e buchas, furadeiras e parafusadeiras domésticas, serras e serrotes pequenos, entre outros materiais básicos que são úteis na hora de pregar um objeto na parede ou resolver problemas como uma torneira que pinga, uma fechadura enguiçada, um chuveiro com a resistência queimada.
''Muitos produtos (como pregos, buchas, chaves) hoje vêm em cartelas e não somente a granel como antigamente. Isso facilita a vida do consumidor'', observa Francisco Mirallia, supervisor de vendas da Telhanorte, em Londrina. Ele diz que o kit básico para quem quer iniciar na bricolagem começa por uma boa furadeira doméstica (média de R$ 70). ''Depois que você compra a furadeira, aos poucos vai adquirindo outros itens até obter um kit'', diz.
Um kit para com 23 itens básicos custa em média R$ 300, incluindo a própria caixa de ferramentas em material plástico. Para quem quer incrementar a ''caixa'' há materiais que podem tornar os consertos domésticos mais fáceis. Alguns exemplos são os neutralizadores de ferrugem aplicáveis com pincéis (para focos de ferrugem) e o silicone (para casos vazamentos na pia, frestas indesejáveis, peças de acabamento).
Conhecendo bem o perfil da pessoa, uma caixa de ferramentas pode ser uma alternativa interessante de presente. Na internet, é possível achar a bricolagem como tema de cursos para iniciantes. E isso incentiva o consumo de produtos do gênero. As mulheres engrossam a lista de adeptos, não só interessadas nos setores de jardinagem e decoração, mas também nos pequenos consertos.
''Percebemos que muitas mulheres e jovens recém-casados fazem compras nesta categoria (da bricolagem). As mulheres tem grande interesse em economizar e dispensar mão de obra. Já os homens procuram simplicidade e praticidade dos produtos, via de regra optam não pelo faça você mesmo, mais pelo multifuncional'', afirma Tiago Guimarães, do setor de marketing da Todimo.
Em geral, ele diz que a demanda por produtos dentro do conceito ''faça você mesmo'' vem aumentando. ''É uma cultura que começou nos Estados Unidos e cresce muito hoje no Brasil inteiro. As pessoas estão dispensando mão de obra e indo atrás de soluções, inovações para simplificar a vida'', constata.
Além do kit básico, Guimarães diz que há procura por produtos fáceis de instalar e itens relacionados a pintura e acabamento de paredes e móveis, além da decoração simples e funcional. ''As pessoas procuram principalmente produtos com manuais, pois elas próprias instalam'', afirma.
Eles resolvem quase tudo em casa:
Furadeira, serra tico-tico, jogo completo de chaves de fenda, chave philips, alicate, entre outros itens, fazem parte do kit que a professora de inglês Marcela Bigardi utiliza para os ''primeiros socorros'' domésticos. Casada e mãe de dois filhos, ela é a responsável por consertar quase tudo dentro de casa. ''Quando eu não sei fazer alguma coisa, chamo um profissional. Mas fico do lado observando para aprender'', revela Marcela, que está iniciando o filho, o estudante universitário Alexandre Bigardi Pereira, 20 anos, na arte da bricolagem.
Arte que Marcela aprendeu sozinha e vem aprimorando com o passar dos anos. Ela conta que o marido também sabe fazer alguns serviços e a filha ajuda esporadicamente. ''Já meu filho se interessa mais. Ele tem até uma caixa de ferramentas básica que ganhou da gente quando era criança. Quando casar, a mulher dele vai ser muito feliz'', brinca a professora.
Ela diz que está sempre comprando ''alguma coisa'' para manter o kit de ferramentas em dia. E quando vai a uma loja do gênero, fica observando o que existe de novidade. ''Alguns serviços, como consertar máquina de lavar roupa, precisam realmente de um técnico, mas a maioria dá para a gente fazer. Pinto portão, quarto, arrumo telefone, penduro quadros e objetos na parede, troco tomadas. Só a parte elétrica mesmo que não sei. Mas daí meu marido faz'', conta. Além do alto preço de alguns serviços, Marcela considera difícil achar mão de obra de qualidade.
O funcionário público Wagner Ribeiro de Castro Bonini não delega a nenhum profissional os consertos dentro de casa. Até no trabalho e no condomínio onde mora (e é o síndico), ele resolve muita coisa. ''Desde criança, sempre tive facilidade para aprender todo tipo de serviço elétrico, hidráulico, mecânico. Até informática eu já resolvo muito bem sozinho'', conta Bonini.
Com R$ 300 é possível obter Kit básico
Para quem quer começar a fazer pequenos consertos dentro de casa, um kit básico com pouco mais de 20 itens já é suficiente. A lista fica em torno de R$ 300, mas o preço pode variar de acordo com a marca e a sofisticação dos produtos
- Caixa de ferramentas com compartimentos para parafusos, pregos, buchas
- Cartela de buchas (para fixar itens como prateleiras, varais, quadros)
- Cartela de parafuso com bucha
- Cartela de prego com cabeça
- Broca para concreto
- Extensão (para acessar ferramentas elétricas em locais distantes de tomadas)
- Feltro sintético
- Furadeira e parafusadeira portátil
- Fita crepe (para proteção de rodapés, maçanetas, batentes e dobradiças durante a pintura)
- Plug elétrico (conhecido como benjamin)
- Lanterna manual
- Martelo
- Jogo chave de fenda
- Alicate universal
- Trena (para medições)
- Chave ajustável (para ajustar torneiras)
- Micro óleo (ajuda a abrir dobradiças, evita que produtos metálicos enferrujem e facilita a retirada de parafusos enferrujados)
- Cola multiuso
- Estilete
- Fita isolante
- Fita veda rosca
- Multímetro (para identificar voltagem das tomadas da casa)
Organizado, ele mantém em casa pelo menos quatro kits completos para serviços variados. ''Conforme vou precisando, vou fazendo a reposição das ferramentas'', diz. Um dos destaques é uma furadeira doméstica comprada há 10 anos numa promoção. ''Achei que era descartável, mas a danada é muito boa. Nunca me deixou na mão''.