Sob impacto do programa de descontos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os preços dos automóveis novos caíram 2,76% em junho, na maior redução em 11 anos no Brasil.
É o que apontam os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na semana passada.
A queda para o consumidor, contudo, deve ter fôlego curto, já que o programa de descontos para os chamados carros populares foi pontual, dizem analistas. O governo anunciou o fim da medida no início deste mês.
Leia mais:
Prefeitura publica edital para concessão da Rodoviária de Londrina por 30 anos
Comércio de Londrina abre nesta sexta e vai fechar no dia 20 de novembro
Empresas arrematam 39 dos 52 lotes da Cidade Industrial em Londrina
Estudo aponta que salário mínimo pode chegar a R$ 1.524 em 2025 com alta da inflação
"Os preços agora voltam para a vigência normal. O consumidor se depara novamente com valores mais elevados", afirma Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da consultoria Jato Dynamics do Brasil.
Segundo o IBGE, com a queda de 2,76%, os automóveis novos tiveram a maior contribuição individual (-0,09 ponto percentual) para a deflação (baixa) de 0,08% do IPCA como um todo em junho.
Porém, com o fim dos descontos, os carros zero-quilômetro devem subir 0,7% no índice de inflação de julho, projeta o economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Para o IPCA como um todo, a estimativa é de avanço de 0,15% neste mês, segundo Braz.
"A medida do governo federal não tem efeito duradouro. Do mesmo jeito que abriu espaço para a trégua em junho, pode acelerar a inflação em julho. Agora, os preços voltam a subir", aponta o economista.
A queda de 2,76% foi a maior para os automóveis novos no IPCA desde junho de 2012. À época, a retração dos preços havia alcançado 5,48%, também sob impacto de uma medida do governo federal para estimular o consumo.
Naquela ocasião, os automóveis ficaram mais baratos devido a uma redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) anunciada pela gestão Dilma Rousseff (PT).
JURO ALTO FREIA SETOR
Após o efeito do programa de descontos do governo Lula, a produção e a venda de carros tendem a reencontrar um cenário de obstáculos no Brasil, de acordo com analistas.
Kalume Neto afirma que o setor está sentindo os reflexos dos juros altos e das restrições na concessão de crédito. "O programa do governo movimentou o setor, evitou mais paradas de fábricas, mas é momentâneo", diz.
"Temos o copo meio cheio e o meio vazio. Os juros ainda estão altos, assim como os preços dos veículos. Tudo isso está impedindo o consumidor de comprar carro", acrescenta.
Braz vai na mesma linha. Segundo o economista, o BC (Banco Central) tende a cortar em agosto a taxa básica de juros (Selic), mas a redução não deve gerar grandes efeitos "de uma hora para outra" no setor automotivo. A Selic está em 13,75% ao ano.
"Se a Selic cair 0,25 ponto percentual, não vai mudar muito o juro do financiamento automotivo. O que vai contar é o acúmulo de cortes com o passar do tempo", afirma Braz.
"Você só vai comprar bens duráveis, como carro e apartamento, quando os juros permitirem que os pagamentos entre no orçamento", acrescenta.
Em junho, os preços dos automóveis novos caíram nas 16 capitais e regiões metropolitanas pesquisadas pelo IPCA. Fortaleza registrou a maior deflação (-5,08%).
Rio Branco (-4,94%), Aracaju (-4,17%), Goiânia (-4,15%) e Rio de Janeiro (-3,80%) vieram em seguida. São Paulo teve baixa de 2,51%. O menor recuo ocorreu em Curitiba (-1,40%).
O programa de descontos do governo Lula para os carros de até R$ 120 mil entrou em vigor no início de junho, com duração de um mês. O término foi confirmado no dia 7 de julho.
A estimativa do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) é de que 125 mil unidades tenham sido vendidas com descontos.
Além dos carros novos, os automóveis usados também mostraram redução de preços no IPCA de junho. Nesse caso, a queda foi de 0,93%, a maior desde julho de 2017, quando a baixa também havia sido de 0,93%. A deflação dos automóveis novos pode ter influenciado os preços dos usados, dizem analistas.
A pandemia de Covid-19 desalinhou cadeias produtivas globais, elevando os custos de fabricação dos veículos. Isso motivou repasses para os preços finais dos carros.
No acumulado de 12 meses, os automóveis novos registraram inflação (alta) de 0,49% até junho no Brasil, segundo o IPCA. Já os preços dos usados caíram 3,08% no mesmo período.