Até ontem, 72% dos postos de gasolina de Curitiba aderiram ao boicote nacional do setor aos cartões de crédito. Os dados são do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Paraná (Sindicombustíveis), que incentivou a manifestação feita com o objetivo de denunciar as altas taxas cobradas pelas administradoras de cartões de crédito.
Segundo o presidente do Sindicombustíveis, Roberto Fregonese, a meta do boicote foi atingida. "Conseguimos mostrar para a sociedade o juro abusivo que temos que pagar", disse. Segundo ele, as administradoras cobram 3% das vendas realizadas, e só pagam o dinheiro ao proprietário do posto depois de 30 dias. "E se a gente precisa de um adiantamento, temos que pagar outros 7% de juros para receber algo que já é nosso", criticou. Fregonese afirmou que a manifestação serve para mostrar que o consumidor também é bastante prejudicado pelas práticas das empresas de cartão de crédito. "Se ela atrasar o pagamento, terá que pagar juros de até 14%, o que é uma extorsão", declarou.
O Sindicombustíveis está aguardando que a Secretaria do Direito Econômico, órgão do Ministério de Justiça, marque uma reunião com os representantes das administratoras para que se chegue a um meio termo, informou Fregonese. "O que nós queremos são regras fixas, onde o governo possa atuar como mediador", apontou. De acordo com ele, atualmente não há nenhuma instituição no Brasil que regule os serviços prestados pelas administradoras de cartões de crédito.
O modelo que o Sindicombustíveis defende é o que é adotado pelo Chile, Argentina e vários outros países, onde as taxas pagas pelo setor às administradoras são de 0,75%, e o dinheiro é devolvido em até 48 horas. "Não temos economia pior do que esses países para pagar taxas de 3%, e temos direito a um valor de pimeiro mundo", argumentou.
O boicote ao cartão de crédito movimentou outra área financeira: o da emissão de cheques. Segundo estimativa da Associação Brasileira das Empresas de Informação, Garantia e Verificação de Cheques (Abracheques), estão circulando cerca de 5 milhões de cheques a mais no Brasil por causa da manifestação dos postos de gasolina. Segundo essa instituição, o cheque seria uma maneira mais segura e menos burocrática para ser utilizada. Porém, para Fregonese, esse meio também tem riscos, como a alta inadimplência.