Inovação em comunicação foi tema do meu PhD, é o assunto que norteia meu pós-doutorado, é o cerne do meu livro Inovação em Comunicação no Brasil, faz parte da minha vida acadêmica e profissional há décadas. Ao mesmo tempo, é um campo que me desafia sempre.
É curioso isso porque há uma impressão de que é tudo muito simples e fácil no campo da comunicação. Você quer inovar? Faça um vídeo diferente para o TikTok. Você quer fazer diferente? Então pense em stories curiosos para o Instagram. Alguém quer ser um especialista em algo? Crie um canal no YouTube. Longe de serem soluções milagrosas, essas impressões trazem mais sombras que luz.
Sempre afirmo em minhas aulas ou nos meios de comunicação que atuo: as mídias sociais são muito bacanas, mas você tem baixíssimo controle sobre ela. Por melhor que seja seu trabalho, você não define como e quando vai ser remunerado, se é que será remunerado, e ainda corre o risco de ver todo seu esforço ruir, caso a plataforma seja descontinuada, por exemplo. Alguém se lembra do Orkut por acaso? Ao que tudo indica, o Facebook está no mesmo caminho.
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Quando fiz minha pesquisa para o doutorado, procurei exemplos de startups pelo mundo que tenham feito sucesso na área de comunicação/marketing. Um dos meus resultados foi: nenhuma startup no mundo, e no Brasil não foi diferente, cresceu e se tornou referência utilizando-se de plataformas de terceiros. Por quê? Simples, quem ganha é o terceiro, não você. Ao depender exclusivamente de outra empresa para desenvolver eu negócio, o empreendedor sequer será um empregado, mas um terceirizado que socializa seus bônus e assume sozinho muitos ônus.
Certamente que as mídias sociais trouxeram uma série de benefícios ao cidadão comum, como liberdade de escolha, possibilidade de criar seu próprio conteúdo, além de ampliar absurdamente as fontes de informação. Na mesma medida, porém, contribuiu para a ampliação de notícias falsas, deu voz a grupos que difundem mensagens apócrifas e ainda dificultou a monetização do produtor de conteúdo de qualidade, como é o caso do jornalismo profissional. Isto é, aquilo que aparentemente não tem custo, está cobrando um preço alto de todos nós.
Está em debate no Brasil e já foi implementada em vários países pelo mundo, regulamentação que obriga as novas mídias, como motores de busca e redes sociais, a pagar os veículos jornalísticos pelas notícias que circulam por essas plataformas. Alguns países, como o Canadá, estão indo além. A proposta, que também vem sendo defendida em nosso país pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), não é pagar os veículos jornalísticos, mas criar um fundo para o jornalismo profissional, gerido por entidades da sociedade civil organizada, com independência editorial para fazer um jornalismo de utilidade pública.
Como isso não é simples e tampouco fácil, ainda há muito mito debate pela frente. O que é fato: inovação em comunicação, sobretudo na produção de conteúdo de qualidade, depende de monetização da informação, o que perpassa por fatores legais, culturais e tecnológicos. Mas isso é assunto para novas colunas ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.