O programa do governo federal de instalação de usinas termelétricas em todo o País foi analisado ontem como "ineficiente" e condenado ao fracasso pelos debatedores que participam do seminário sobre Matriz Energética, promovido pelo Crea-PR. O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Fernando Siqueira, disse que não vale a pena trocar a energia limpa das hidrelétricas por uma fonte poluidora das termelétricas.
Siqueira ressaltou que o projeto das termelétricas não conseguiu deslanchar porque as empresas não estão interessadas em investir no país. "Elas querem que a Petrobras construa as usinas. Depois elas vêm e as compram", criticou. Hoje o consumo de gás no Brasil representa 2,6% do total de outras fontes energéticas, enquanto que a média mundial é de 23%. Siqueira disse ainda que não é conveniente para a Petrobras ter de bancar o risco cambial do gás.
Os grupos estrangeiros que haviam manifestado interesse em construir termelétricas praticamente desistiram diante do impasse de ter de comprar gás da Bolívia em dólar e cobrar tarifa em reais. Outro problema é que a Petrobras pagou todos os custos de construção do gasoduto Bolívia-Brasil e agora irá ceder a concessão de uso para uma empresa privada, a British. "Empresas de consultoria internacionais aconselharam o governo brasileiro a investir em termelétricas para obrigar o País a comprar equipamentos de fora", disse.
O presidente da Comissão de Pós-gradução em Energia da USP, Ildo Sauer, também atacou o programa de construção de termelétricas e estendeu sua crítica a todo modelo de privatização adotado pelo governo. Ele citou como resultado negativo da desestatização, até agora, está o encarecimento das tarifas, que tiveram reajuste de 81% acima da inflação de 1995 até agora. "O novo modelo não levará energia para a população que precisa. O lado social ficará desassistido", disse Sauer. O Brasil tem 17 milhões de pessoas sem luz.