Enquanto em residências, o uso de freezers, geladeiras e chuveiro elétrico corresponde a até 30% do consumo de energia elétrica, em edifícios públicos o maior vilão do desperdício é a iluminação, responsável por 38% dos gastos. Frente a dados como esses, especialistas representantes de diversos órgãos do setor participam, durante três dias, em Curitiba, de um workshop organizado pela Comissão Interna de Conservação de Energia do Centro Federal de Tecnologia do Paraná (Cice-Cefet/PR), à procura de medidas de combate ao despedício de energia.
"O Brasil joga pelo ralo entre R$ 4 a R$ 5 bilhões com o desperdício de 15 a 20% da energia produzida no País", diz Milton Marques, responsável pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), lançado pela Eletrobras em 1986, como forma de dar maior eficiência ao sistema energético do País.
Uma alternativa, de acordo com Moacyr Trindade, comissário-chefe da Comissão de Serviços Públicos de Energia de São Paulo, é promover parcerias entre as empresas de energia com universidades e prefeituras, por exemplo, para elaborarem planos conjuntos de economia de energia. Essa ação pode ser feita, inclusive, com recursos das empresas de energia privatizadas. É que portaria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), segundo ele, prevê o repasse de 1% da receita líquida dessas empresas para pesquisas no setor.
Segundo Carlos Henrique Mariano, presidente da Cice, a unidade do Cefet em Curitiba já vem adotando medidas de combate ao desperdício há dez anos. Foram trocadas luminárias de baixa por alta eficiência, os chuveiros eléricos foram susbtituídos por modelos a gás e instalados detectores nos banheiros, de modo que as lâmpadas só ficam acesas quando alguém entra no recinto. "Estamos pensando em novas medidas, porque vai ser difícil reduzir nosso consumo em mais 20%", diz. A unidade gasta R$ 500 mil por ano em energia elétrica.
Dados da Aneel mostram que o Brasil gastou, no ano passado, 306 bilhões Kilowatts por hora. Com isso, o consumo per capita de energia ficou em 1,8 mil KW/hora. Esse valor é bastante inferior ao gasto de países como a Noruega e Canadá, por exemplo, que chegam a gastar 25 mil KW/hora por habitante e 18 mil KW/hora/habitante, respectivamente. A diferença é que o Brasil é um país tropical, que não requer o uso constante de calefação em todos os ambientes, ao contrário daqueles países.
"Nós consumimos pouca energia, mas somos perdulários", ressalta Marques, lembrando que, caso não se consiga chegar às metas de corte do governo, a região Sul também poderá entrar nos planos de racionalização. "Essa questão é preocupante porque o Brasil precisa de energia e 85% da sua produção é de hidrelétricas", afirma. Em sua palestra, ele ressaltou, inclusive, a necessidade dos engenheiros pensarem em outras alternativas energéticas. Só 15% de energia produzidas no País vêm de outras fontes térmicas, como a aeólica, correspondente a apenas 0,02%.