Economia

Copel: crescem as críticas à privatização

15 jan 2001 às 11:14

A intenção do governo do Estado de privatizar a Companhia Paranaense de Energia (Copel) começa a ser alvo de críticas por parte de alguns especialistas do setor. Engenheiros, professores e políticos consultados nesta semana avaliaram que há um equívoco no programa nacional de privatização do setor elétrico. A maior crítica está no fato de os governos estaduais estarem vendendo suas empresas para aplicar o dinheiro no ajuste fiscal.

O presidente do Sindicato dos Engenheiros, Carlos Bittencourt, critica esta estratégia. "É um erro privatizar para fazer caixa. O Estado abre mão de uma empresa que era usada como referência até para conquistar empréstimos internacionais", avalia.


O engenheiro Luiz Carlos Soares lembra que as empresas estatais aplicam seus lucros no Brasil e, desta forma, promovem o desenvolvimento. "As empresas privadas estrangeiras lucram e remetem os lucros para o exterior", diz Soares. A remessa de lucro para o exterior foi de US$ 1,9 bilhão, em 1995. No ano passado, a estimativa é que tenha chegado próxima a US$ 7 bilhões.


O governo do Estado justifica a venda da Copel como sendo a única alternativa para não engessar a empresa, que começaria a perder competitividade em relação aos grupos privados. O presidente da Copel e secretário da Fazenda, Ingo Hubert, costuma dizer que a lei de licitaçãoes impõe regras rígidas para as estatais, enquanto as empresas privadas ganham agilidade.


O BNDES também está impedido de liberar financiamento para as estatais investirem em novos projetos, enquanto libera financiamento para a iniciativa privada. "As estatais estão em franca desvantagem porque o conjunto de leis e regulamentos que as cerca impõem uma série de restrições e as torna mais lenta que as empresas privadas", afirma Ingo Hubert.


Esta fórmula adotada pelo governo federal é alvo de críticas por parte do deputado federal Gustavo Fruet (PMDB). "Não concordo com o modelo de privatização adotado no País, onde os recursos são usados para o ajuste fiscal", diz o deputado.


O coordenador do curso de graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ewaldo Luiz de Mattos Mehl, avalia que privatizar as empresas de energia no Brasil é apenas uma questão política que nada tem a ver com economia ou eficiência. "Uma empresa estatal pode ser bem ou mal administrada da mesma forma como ocorro com a iniciativa privada", opina.


Mehl lembra de que a maioria das estatais de hoje já foram empresas privadas no passado. "Basta lembrar dos problemas daquela época, que chegaram até a envolver o embaixador norte-americano contra o prefeito João Moreira Garcez devido à exploração de uma empresa totalmente insensível à necessidade do povo", conta o professor.


"Na minha avaliação, a venda é injustificável e até irresponsável", diz Mehl. Ele cita que as indústrias cada vez serão mais dependentes da energia elétrica e para a Copel produzir energia basta que chova, pois o parque gerador é formado por usinas hidráulicas. "Vender a Copel é o mesmo que matar a galinha dos ovos de ouro. Teremos um belo jantar, mas nunca mais teremos os ovos", compara.

O professor do curso de Engenharia Elétrica da UFPR, Eduardo Parente Ribeiro, também afirma ser contra a privatização da Copel, apesar de defender a administração pela iniciativa privada. Mas ele avalia que não é o momento de privatizar. "Ter um monopólio privado é pior do que um estatal. Resta saber se o governo conseguirá realizar a fiscalização". Ele questiona ainda: "Somente agora as hidrelétricas da Copel estão se pagando. A empresa dá lucro. Por que vender agora?".


Continue lendo