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Abismo no Brasil

Brancos 10% mais ricos ganham 56 vezes a renda dos negros 10% mais pobres no Nordeste

Leonardo Vieceli - Folhapress
06 mar 2024 às 12:15

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- Unsplash
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A desigualdade de renda entre brancos e negros diminuiu em 2022, mas um abismo ainda separa ricos e pobres desses grupos no Brasil, principalmente na região Nordeste. É o que indica um levantamento de pesquisadores do Núcleo de Estudos Raciais do Insper.

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Segundo a análise, os brancos 10% mais ricos tinham uma renda média domiciliar per capita (por pessoa) que correspondia a 56,2 vezes a dos negros 10% mais pobres no Nordeste em 2022. O rendimento médio dos grupos era de R$ 4.961,44 e R$ 88,31, respectivamente.

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Ao marcar 56,2 vezes, a razão teve uma forte queda ante o recorde de 90,8 vezes registrado na região em 2021 -à época, a renda média per capita dos dois extremos havia sido de R$ 4.386,53 e R$ 48,29. Mesmo em baixa, a diferença verificada no Nordeste ainda é a maior do Brasil.


No país, a razão entre a renda média dos brancos 10% mais ricos (R$ 7.027,74) e a dos negros 10% mais pobres (R$ 152,46) recuou a 46,1 vezes em 2022.

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A disparidade diminuiu no Brasil em relação ao recorde de 2021 (71,8 vezes) e é a segunda menor da série histórica, atrás apenas da mínima registrada em 2014 (45,5 vezes). A série começou em 2012.


Conforme o economista Alysson Portella, um dos pesquisadores do Insper responsáveis pelo levantamento, os dados avaliam a renda média domiciliar per capita do trabalho e de outras fontes.

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A análise foi construída a partir de estatísticas da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).


"A razão da renda dos 10% mais ricos e dos 10% mais pobres é uma medida clássica, mas geralmente pega os 10% mais ricos e os 10% mais pobres da população como um todo. A ideia aqui é chamar atenção para o fosso entre brancos e negros", afirma Portella, que trabalhou na análise com os pesquisadores Michael França, colunista da Folha, e Erivelton Souza.

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Os dados de 2023 ainda não estão disponíveis. De acordo com Portella, a queda na diferença de rendimentos em 2022 pode ser associada em parte à retomada do mercado de trabalho.


Outro fator que ajuda a explicar o movimento à época, diz o economista, é a transferência de recursos via programas como o Auxílio Brasil, ampliado pelo governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições.
O auxílio voltou a ser chamado de Bolsa Família em 2023, na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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"As pessoas que estão na base são realmente muito pobres. Qualquer aumento de benefício faz com que a razão [de rendimentos] caia muito", afirma Portella.


Após o Nordeste, o Norte registra a segunda maior diferença na comparação da renda média per capita dos brancos 10% mais ricos (R$ 5.240,31) com a dos negros 10% mais pobres (R$ 115,40). Em 2022, essa razão foi de 45,4 vezes na região, abaixo do pico de 74,4 vezes registrado em 2021.

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Sudeste (37,5 vezes), Centro-Oeste (34,8 vezes) e Sul (25,9 vezes) completam a lista de 2022. Todas as regiões tiveram queda em relação a 2021.


Naquele ano, o mercado de trabalho era afetado pela crise da pandemia de Covid-19, e o país teve redução de medidas de transferência de renda.


O auxílio emergencial, por exemplo, foi paralisado no início de 2021, e a retomada dos pagamentos ocorreu posteriormente com corte nos valores e na cobertura do público-alvo.


Apesar da melhora do quadro em 2022, Portella diz que as diferenças ainda existentes na distribuição de renda refletem "desigualdades estruturais" que afetam sobretudo a população negra no Brasil.


"Os resultados [razões] ainda são muito grandes para o Brasil como um todo, principalmente no Nordeste e no Norte. Isso está associado à renda mais baixa nessas regiões, a taxas de pobreza mais altas", afirma.


"Estamos falando de questões estruturais, de investimento nas pessoas. O acesso à educação ou à saúde, por exemplo, teve muitas restrições no Brasil", diz.


De acordo com Portella, a manutenção de programas sociais e a mudança na forma de cobrança de impostos de ricos e pobres podem colaborar para uma nova melhoria do quadro.


"É uma questão estrutural mesmo [a desigualdade], e tem coisas que levam tempo para mudar."


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