A tendência de aumento de calotes em 2021 está no radar dos quatro maiores bancos de capital aberto do país (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander), que já projetam um possível aumento em seus respectivos índices de inadimplência ao longo dos próximos meses.
A expectativa de falta de pagamentos é reflexo da redução do auxílio e de linhas de crédito emergenciais, bem como do fim do prazo para pagamento de parcelas prorrogadas de dívidas.
A projeção é que esse indicador só comece a estabilizar nos três últimos meses do próximo semestre.
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A deterioração do cenário de pagamentos acompanha os debates do governo federal em torno dos programas emergenciais. No final de abril, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cumpriu o acordo que havia feito com o Congresso e sancionou o Orçamento para 2021 de maneira a destravar as contas públicas.
A medida flexibiliza as normas orçamentárias e ajuda a acelerar as discussões sobre o Pronampe, por exemplo, programa que ajudou na manutenção dos pequenos empresários ao longo de 2020 e que pode ser essencial neste ano, diante da lentidão nos planos de vacinação e do vaivém dos lockdowns ao redor do país.
Ainda não houve, porém, nenhuma determinação do governo para dar andamento às novas linhas do programa.
Em março, a produção industrial caiu 2,4% em relação a fevereiro, zerando os ganhos acumulados até então, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (5). O comércio também teve resultado ruim.
Além disso, o agravamento da pandemia também sinalizava piora nos setores de comércio e serviço em março. Em fevereiro, a XP projetava uma queda de 4,2% no segmento de serviços para o mês, por exemplo, enquanto dados preliminares da Getnet sinalizavam um recuo de 5,6% nas vendas do comércio.
Além de um possível impacto no caixa das empresas, a nova redução observada nesses setores essenciais pode trazer novos reflexos negativos para a população, aumentando o desemprego -já recorde no país-, diminuindo a renda e reduzindo a capacidade das pessoas em honrar seus compromissos.
Por ora, o movimento ainda não foi sentido pelas instituições financeiras. No primeiro trimestre, os índices de inadimplência acima de 90 dias de todas os quatro bancos vieram em níveis historicamente baixos.
O Itaú registrou 2,3% de inadimplência para o período -uma queda de 0,8 p.p. (ponto percentual) em relação aos primeiros três meses de 2020-, enquanto o do Bradesco ficou em 2,5%, recuo de 1,2 p.p. na mesma base de comparação.
O índice do Santander ficou em 2,1% (queda de 0,9 p.p.) e o do Banco do Brasil em 1,95%, leve alta de 0,05 p.p. na mesma relação.
No início da pandemia, os bancos prorrogaram o prazo de pagamento de dívidas de empresas e pessoas físicas. A ação, junto a medidas como o auxílio e o lançamento de créditos com garantia do Tesouro, melhorou a condição de pagamento de devedores, evitando uma explosão de novos atrasos e empurrando a inadimplência para baixo.
"A inadimplência tem vindo melhor do que imaginávamos no primeiro trimestre, refletindo a atividade, a expansão fiscal importante que tivemos no ano passado com o auxílio emergencial e o aumento da poupança, na medida que as pessoas reduziram seus gastos", afirmou Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú, em teleconferência com jornalistas na última terça-feira (4).
Os baixos níveis de calotes têm sido sentidos por todo o sistema financeiro. Segundo o último relatório de estatísticas monetárias e de crédito do Banco Central, divulgado no final de abril, a média da inadimplência no sistema ficou em 2,2% em março, 1 p.p. menor do que o registrado no mesmo mês de 2020.
A inadimplência de pessoas físicas ficou em 2,9% no mês e a de pessoas jurídicas, em 1,2% -ambas também com queda de 1 p.p. na mesma base de comparação.
"Todos os nossos modelos para calcular perda esperada foram redimensionados e agravados por conta do cenário de pandemia que estamos vivendo, e fizemos as provisões que entendemos necessárias ao longo de 2020 para suportar o momento de maior inadimplência que prevíamos", afirmou o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari.
Apesar da leve alta na inadimplência entre clientes do Banco do Brasil no primeiro trimestre, o índice está bem abaixo do registrado antes da pandemia, que ficava em torno de 3%. De acordo com vice-presidente de controles internos e gestão de riscos do BB, Carlos Bonetti, o aumento se deu por estratégia de negócio da instituição.
"Mudamos o perfil de clientes em algumas linhas de crédito pessoal para pessoa física e aumentamos a relação de risco e retorno dessas modalidades, então esperávamos essa elevação da inadimplência, mas que ainda é muito modesta", explicou o executivo.
Para Bonetti, a tendência é que os calotes aumentem ao longo do ano, mas se mantenham abaixo de 3%.
"Acreditamos que, na carteira total, o índice deve evoluir nos próximos meses, mas é difícil fazer uma previsão, dada a incerteza do momento. Mas deve ficar abaixo do que tínhamos antes da pandemia no cenário básico. Em cenários alternativos, isso pode mudar", disse.
Ao longo de 2020, os quatro maiores bancos do país chegaram a provisionar, junto, mais de R$ 93 bilhões para cobrir eventuais calotes.
No primeiro trimestre deste ano, essas reservas já demonstram quedas em relação ao observado em igual período de 2020. Ao mesmo tempo, a sinalização das instituições é que parte dessas provisões sejam usadas para cobrir o possível aumento de inadimplência ao longo dos próximos meses -diminuindo (ou até zerando), assim, os impactos nos resultados bancários.
Na prática, as provisões têm o papel de uma reserva de emergência. De acordo com as regras do Banco Central, os bancos já são obrigados a separar uma parcela de suas receitas para cobrir eventuais calotes de seus clientes, mas em cenários de risco elevado de crédito, provisões adicionais costumam ser feitas.
A quantia separada para essa "reserva emergencial" precisa ser suficiente para que, caso haja uma inadimplência em grandes proporções -como era previsto para essa pandemia- a instituição consiga arcar com os prejuízos sozinha sem que essas perdas abalem suas estruturas financeiras ou impactem seus clientes.
"Ainda temos muita incerteza ao olhar para frente, mas a principal mensagem é que, na medida que o cenário se normalize, nós devemos consumir parte do que provisionamos no ano passado. Mas é importante dizer que temos um cenário com viés positivo para o futuro, apesar da pandemia", disse Maluhy Filho, do Itaú.
No primeiro trimestre deste ano, o Itaú provisionou R$ 3,8 bilhões, queda de 57,3% em relação a igual período de 2020.
O Bradesco, por sua vez, reservou R$ 3,9 bilhões, queda de 41,8% e o Santander provisionou R$ 3,2 bilhões no período, recuo de 7,7% na mesma base de comparação.
O Banco do Brasil provisionou R$ 2,5 bilhões no período, redução de 54,2% em relação ao primeiro trimestre de 2020.
Em relatório, o BB informou que, por cautela, antecipou R$ 8,1 bilhões em provisões ao longo do ano passado para fazer frente à crise gerada pela pandemia. "Os volumes construídos em 2020 demonstram-se suficientes para a cobertura do aumento do risco de crédito da carteira até o momento", disse o documento.
Sobre as provisões de crédito, o presidente do Santander, Sergio Rial, também afirmou que manterá a provisão adicional feita em 2020 e que não descarta uma possível deterioração do crédito corporativo em alguns segmentos ao longo de 2021.
"Uma [deterioração] generalizada eu não vejo, mas será que é possível termos variações negativas de risco em alguns segmentos? Com certeza", disse Rial, sem detalhar quais seriam esses setores.
Diante do cenário de fortes provisões, os executivos afirmam, ainda, que não há risco para o balanço bancário em relação aos aumentos previstos na inadimplência.