A maioria das crianças e dos adolescentes brasileiros utiliza redes sociais várias vezes ao dia. A depender da faixa etária, esse uso excessivo pode chegar a quase 80%.
A nova versão da pesquisa TIC Kids Online Brasil, referência em comportamento digital na infância e adolescência, traz esse e outros dados que apontam para o vício em telas. As crianças e os adolescentes relatam que tentam passar menos tempo na internet e não conseguem (24%) e que se pegam navegando sem estar realmente interessados (22%). Admitem ainda que passam menos tempo do que deveriam com a sua família, os amigos ou fazendo lição de casa porque ficam muito tempo na internet -são 22% no total e, na faixa dos mais velhos, de 15 a 17 anos, o índice chega a 30%.
Esses números podem ser ainda maiores, se considerarmos que essas são questões mais sensíveis, muitas vezes difíceis de serem percebidas e/ou admitidas por crianças e adolescentes -ainda que, no caso dessas perguntas, os entrevistados deem suas respostas em um tablet, em vezes de oralmente, para os pesquisadores.
O estudo é feito desde 2012, anualmente (com exceção de 2020, na pandemia), pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, que reúne representantes governamentais e da sociedade civil para estabelecer as diretrizes do uso da internet no país. A pesquisa conta com o apoio da Unesco (braço da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Apresentado nesta quarta-feira (23) no 9º Simpósio de Crianças e Adolescentes na Internet, em São Paulo, o levantamento deste ano entrevistou presencialmente, entre março e agosto, 2.424 usuários de internet de 9 a 17 anos. Os pais ou responsáveis também participaram da pesquisa. A amostra tem abrangência nacional.
Dentre toda a população brasileira nessa faixa etária, 93% são usuários de internet e, de acordo com a pesquisa, 81% possuem um aparelho celular.
Esta é a primeira vez que a pesquisa traz o indicador de frequência do uso das plataformas digitais, a fim de elucidar o seu uso excessivo na infância e adolescência.
O WhatsApp, por exemplo, é usado várias vezes por dia por 53% das crianças e dos jovens. Somando as respostas de um uso "várias vezes por dia" com a de "todos os dias ou quase todos os dias", o número chega a 71%. O uso é elevado também em outras plataformas digitais: YouTube (66%); Instagram (60%) e TikTok (50%).
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Outros 16% jamais tiveram a experiência de ficar na fila do caixa de uma agência bancária e 14% não sabem o que é realizar um saque em cédulas.
Dentre os menores, de 9 a 10 anos, esse uso mais frequente do YouTube chega a 70%. O Instagram é altamente utilizado também pela grande maioria dos que têm 13 e 14 anos (78%) e dos jovens entre 15 e 17 (81%). No caso dessa faixa etária mais velha, o uso do WhatsApp com essa alta frequência atinge 91%.
São 72% as crianças e os jovens que podem usar as redes sociais sozinhos, e 62% os que postam na internet fotos e vídeos em que aparecem.
A TIC Kids Online Brasil também evidencia o crescimento do uso do celular para acessar a internet. De 85% em 2015, passou para 98% neste ano. Paralelamente, o uso do computador caiu de 64% para 37% no mesmo período.
Essas novas evidências do uso excessivo das redes sociais, da onipresença do celular na infância e na adolescência e dos riscos desse cenário vêm à tona no momento em que o Brasil discute a proibição do uso dos smartphones por estudantes no ambiente escolar, seja nas aulas ou durante os intervalos.
O banimento vem crescendo no país e internacionalmente, tanto o voluntário como o imposto por leis. O governo federal deve encaminhar ao Congresso um projeto de lei para vetar os celulares nas escolas públicas e privadas, e em São Paulo, uma proposta semelhante, para banimento no estado, está em tramitação avançada.
Angustiados com os danos dos celulares à saúde física e mental e ao aprendizado de crianças e adolescentes, a maioria dos pais apoia o banimento, de acordo com uma pesquisa do Datafolha. O recente vício em bets e cassinos online, estimulado pelas empresas inclusive em perfis de influenciadores mirins, ampliou o medo das famílias.
Nesta edição, a TIC Kids Online não pesquisou o acesso às apostas online na infância e adolescência, mas, para o próximo ano, esse deverá ser o novo indicador do estudo.
"Essa é uma demanda, sim, e no ano que vem deveremos incluir algo nesse sentido", disse à Folha Luísa Adib, coordenadora da pesquisa.
Na edição de 2023, a TIC Kids Online Brasil ressaltou que dobrou o número de crianças que acessam a internet antes dos 6 anos. Na anterior, havia mostrado que quase metade das crianças e dos jovens não tem suas redes sociais verificadas pelos pais.
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