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Preso na segunda

Youssef recebe habeas corpus em meio a guerra de decisões de juízes nesta terça

Catarina Scortecci - Folhapress
21 mar 2023 às 16:45

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- Valter Campanato/Agência Brasil
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O doleiro Alberto Youssef, um dos pivôs da Operação Lava Jato, foi autorizado a deixar a prisão por volta das 17h desta terça-feira (21), na segunda decisão a respeito de seu caso expedida ao longo do dia pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região). O magistrado Marcelo Malucelli, da segunda instância, havia despachado ordem de soltura mais cedo, mas o juiz de primeira instância, Eduardo Appio, publicou um novo mandado de prisão pouco depois.


O doleiro tinha sido preso preventivamente no início da noite de segunda-feira (20) no litoral de Santa Catarina por ordem de Eduardo Appio, que assumiu os processos da Lava Jato em Curitiba em fevereiro. O juiz de primeira instância afirmava na decisão que o acordo de colaboração firmado pelo doleiro na operação em 2014 não abrangia procedimento da Receita Federal acerca de possíveis crimes tributários atribuídos ao réu.

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Nesta terça, Malucelli, magistrado de segunda instância, expediu ordem afirmando que o Código de Processo Penal estabelece que a prisão preventiva só pode "ser decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial". "Nesse contexto, revela-se ilegal a decretação da prisão preventiva de ofício", diz Malucelli.

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Em sua segunda ordem de prisão, Eduardo Appio afirmou que a ida dos agentes da Polícia Federal à casa do doleiro em Itapoá (SC), na segunda-feira, revelou indícios de sonegação de imóveis. Em audiência de custódia, na tarde desta terça, a defesa de Youssef apresentou pedido de relaxamento da prisão preventiva, afirmando que se tratava de uma medida ilegal e abusiva.

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Na decisão mais recente, Marcelo Malucelli afirma que "inexiste alteração fática ou documento novo juntado que justifique a mudança de entendimento exarada em decisão que havia dado às 15h". "Ao que consta, houve apenas a renovação do decreto de prisão preventiva anteriormente expedida, com diversos fundamentos. Na realidade processual, é isso que se tem, descabendo falar-se em novo decreto que demande o ajuizamento de um novo habeas corpus, podendo ser enfrentado diretamente nestes autos", afirma Malucelli.


Por fim, às 17h54 Appio expediu o alvará de soltura para o doleiro.

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MOTIVAÇÃO DA PRISÃO


A representação fiscal que motivou a prisão estava suspensa desde 2020, por determinação da juíza federal substituta Gabriela Hardt. Ela havia acolhido uma manifestação do Ministério Público Federal que defendeu a suspensão pelo período de dez anos, na esteira dos benefícios obtidos por Youssef em seu acordo de colaboração premiada firmado na Lava Jato.

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Naquele ano, o MPF argumentava que o acordo de colaboração premiada previa a suspensão das investigações em curso e os prazos prescricionais quando a soma das penas nas condenações transitadas em julgado (quando não há mais possibilidade de recurso) resultasse em 30 anos de prisão, no mínimo.


Em decisão, Appio, contudo, contestou a suspensão. Ele entende que a representação fiscal não integra o acordo de colaboração firmado na Lava Jato. O juiz afirma que, se a colaboração premiada abrangesse o procedimento fiscal, ela poderia ser considerada "uma carta em branco genérica que envolveria toda e qualquer investigação criminal". "Não creio tenha sido este o escopo da lei ou mesmo a intenção do acordo então firmado", escreveu Appio.

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O magistrado cita que, de um total de 28 processos movidos contra Youssef, 13 estão hoje suspensos por dez anos, a pedido do Ministério Público.


Em seu despacho, o juiz aproveita para criticar o compromisso de colaboração premiada da Lava Jato, porque o doleiro já havia descumprido acordo anterior, feito em 2004, no caso Banestado. Os dois acordos foram feitos sob o aval do então juiz Sergio Moro, hoje senador pela União Brasil-PR.

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De acordo com Appio, a legislação estabelece "de maneira clara e solar" que "não se pode premiar quem já descumpriu um acordo anterior".


"Houve manifesta reiteração delitiva após este acordo de colaboração premiada em 2004, tendo o condenado sido preso, novamente, em 2014, também por decisão do então juiz federal e hoje senador pelo Paraná doutor Sergio Moro", diz Appio.

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Para o novo juiz da Lava Jato, o doleiro foi "um verdadeiro arquiteto de diversas organizações criminosas ao longo dos últimos 20 anos, sendo certo que a sua multireincidência revela sua incompatibilidade com o regime de liberdade provisória sem condições".


Youssef foi preso por volta das 18h30 desta segunda-feira em um condomínio onde morava, no balneário de Itapoá, no litoral norte de Santa Catarina. Ele foi levado por agentes da Polícia Federal de Joinville (SC) para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba ainda na segunda-feira.


Ao chegarem no condomínio, os agentes da PF foram informados pelo porteiro de que Youssef mantinha uma rotina de trabalho no porto privado de Itapoá. Ainda segundo o relato da PF, Youssef chegou no condomínio perto das 19h e ficou "bastante inconformado" com o mandado de prisão.


Ele foi encaminhado para a viatura, sem algemas, e chegou na capital do Paraná por volta das 21h.


Ao determinar a prisão do doleiro, o juiz Appio afirma em seu despacho que Youssef não resolveu todas as suas pendências com a Receita. Também afirma que o doleiro não mantém atualizado seu endereço junto à Justiça Federal, o que demonstraria "certeza de impunidade".


O juiz afirma ainda que o doleiro está vivendo em uma situação "muito privilegiada em relação à imensa maioria dos cidadãos brasileiros" e "incompatível com todas as condenações já proferidas em matéria criminal". Ele cita que Youssef teria, por exemplo, tentando comprar um avião e um helicóptero.


O advogado de Youssef, Gustavo Flores, ainda não respondeu ao contato da reportagem para comentar o assunto.


Eduardo Appio já disse em entrevistas ser crítico aos métodos da Lava Jato no período em que a operação era conduzida por Moro e tinha Deltan Dallagnol como chefe da força-tarefa do Ministério Público.


Ao assumir a 13ª Vara Federal de Curitiba, afirmou à Folha que um dos seus objetivos era o de resgatar a credibilidade da Justiça Federal e assegurar a neutralidade "ideológica ou político-partidária" nos julgamentos, afastando o que classifica de "populismo judicial".


Uma procuradora da República do Paraná, Carolina Bonfadini de Sá, pediu que o juiz se declare suspeito para atuar na operação, afirmando que ele não tem o distanciamento necessário para julgar os casos.


Deltan, hoje deputado federal pelo Podemos-PR, criticou em rede social a prisão de Youssef. "Agora pode prisão preventiva de ofício, sem pedido da Polícia ou do Ministério Público?", escreveu o hoje deputado.


A procuradora Monique Cheker, que também atuou na Lava Jato, também fez críticas à prisão. afirmando que representações fiscais da Receita Federal são "documentos ordinários e cotidianos que são enviados ao MPF/PF e geram primeiro procedimentos investigativos".


"Alguém está decretando prisão preventiva de ofício e de forma ilegal?", diz ela, em rede social.

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