O ex-policial militar Ronnie Lessa contou ter ido a um motel abandonado para testar a submetralhadora usada para matar a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, em 2018. O relato foi feito no âmbito do acordo de delação premiada firmado com a Polícia Federal e a PGR (Procuradoria-Geral da República). Órgãos ainda investigam se conteúdo da delação é todo verdadeiro.
O que disse Lessa
Ex-PM detalhou "testes mecânicos" feitos com a arma do crime. Lessa explicou que esse tipo de teste é de praxe, já que toda arma equipada com supressor de ruídos "tem que estar muito bem alinhada". "Senão pode ocasionar um acidente até grave para o atirador", completou. O vídeo do depoimento foi obtido pelo jornal O Globo e divulgado nesta terça-feira (4).
Lugar escolhido foi um motel abandonado na Estrada do Catonho. O local fica em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. "Aproveitei para efetuar os disparos com a submetralhadora MP5, utilizada no homicídio da vereadora Marielle. Eu aproveitei para testá-lo, para saber se o supressor de ruídos estava efetivamente bem adaptado e se realmente estava abafando", disse Lessa.
Foram disparados cinco ou seis tiros, "no máximo". Os projéteis atingiram um barranco próximo ao que seria "uma nova série de apartamentos que, na verdade, ficou inacabada", continuou o ex-PM. "Eu disparei uma rajada curta, de uns cinco ou seis tiros, no máximo. (...) [Era] Um barranco pequeno. Eu posicionei a metralhadora, engatilhei e disparei".
É possível que os projéteis ainda estejam alojados no barranco. "Como nós sabemos, um disparo feito na terra não ultrapassa 30, no máximo 40 centímetros, de penetração. É de fácil resgate", afirmou. "Eu não tive a preocupação de catá-los. É muito provável que se ache".
"Em se tratando de uma, digamos, missão que não poderia ter erros, então eu fui ter a certeza de que a arma estava em condições de ser empregada", disse Ronnie Lessa, em depoimento.
Envolvidos
Ronnie Lessa foi denunciado como executor da morte de Marielle. Em delação à PF, ele disse que a morte da vereadora lhe renderia um loteamento irregular na zona oeste do Rio e um lucro estimado de mais de US$ 20 milhões (cerca de R$ 105 milhões, pela cotação atual).
Irmãos Brazão e delegado foram denunciados por envolvimento no crime. O deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do TCE-RJ, Domingos Brazão, seriam os "mentores intelectuais" do assassinato de Marielle. Já o delegado Rivaldo Barbosa teria ajudado no planejamento e recebido propina para atrapalhar as investigações. Os três negam as acusações.