No quarto onde o empresário Paulo César de Barros Morato, 48 anos, foi encontrado morto na última quarta-feira (22), em um motel de Olinda (PE), foram recolhidos sete pen drives (dispositivos portáveis para armazenar dados) e três celulares que podem conter provas de transações investigadas pela Operação Turbulência, deflagrada pela Polícia Federal (PF) na terça-feira (21).
As informações foram divulgadas pela Polícia Civil de Pernambuco (PC/PE) hoje (23). Os policiais disseram que a principal linha de investigação da morte de Morato é causa natural ou suicídio.
Os detalhes coletados até agora pelas Polícia Civil e Científica foram apresentados em entrevista no fim da manhã desta quinta-feira. Além dos pen drives e dos celulares, três cheques em branco de outras pessoas também estavam com o empresário. O carro que ele dirigia, um Jeep Renegade, também está em nome de outra pessoa.
"Não é comum estar com tantos pen drives e celulares, e aparentemente e isso pode ajudar nas investigações tanto da Polícia Federal (PF) como da Polícia Civil", disse o chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Antônio Barros. A divisão ocorre porque a PF é a responsável pelas investigações em torno da lavagem de dinheiro pela suposta organização criminosa investigada na Operação Turbulência. Já a Polícia Civil apura a morte de Paulo César Morato.
Cena do crime
De acordo com o secretário executivo da Secretaria de Defesa Social, Alexandre Lucena, a Polícia Federal já solicitou oficialmente o material apreendido na cena do crime, e ainda hoje os objetos vão ser entregues.
Diversos outros objetos foram apreendidos no quarto do motel: mais de uma dezena de óculos escuros e de grau, dois relógios, 53 envelopes de depósitos bancários vazios, um chip de celular, R$ 3 mil, cartelas de medicamentos para hipertensão e diabetes e documentos pessoais.
Causa da morte
De acordo com o secretário executivo da Secretaria de Defesa Social, os indícios da cena do crime levam a crer que não se trata de homicídio. "Primeiro, a pessoa era hipertensa. Já existia histórico, segundo informações da advogada, de que ele teria tentado suicídio. Terceiro, ele estava sendo perseguido pela Polícia Federal, sob tensão muito grande. Os funcionários do motel não perceberam que ninguém entrou no local. Ele [o corpo] não tinha sinal nem externo, nem interno de violência e a porta [da suíte] estava fechada pelo lado de dentro. Então, são indícios que levam a crer em suicídio ou morte natural", afirmou Alexandre Lucena.
No entanto, a hipótese de assassinato não será completamente descartada até que a investigação seja concluída, disse o o secretário de Defesa Social. Para saber se houve morte natural ou suicídio, várias perícias estão sendo realizadas no corpo do empresário, disse a gerente geral da Polícia Científica, Sandra Santos.
"Hoje estamos trabalhando na perícia tanatoscópica para identificar a causa da morte. A princípio, não foi detectado sinal de violência. Desta perícia derivam outras importantes como a toxicológica, onde coletamos diversos fragmentos de vísceras para investigar a possibilidade de envenenamento; e a histopatológica, análise dos tecidos para verificar se ele morreu, por exemplo, de infarto", afirmou.
Sandra Santos também confirmou que havia sinal externo de um possível infarto, como urina e fezes feitas na roupa. As imagens das duas câmeras de segurança do local também vão ser usadas na investigação. Uma delas está posicionada de forma a conseguir filmar a garagem do quarto usado por Morato. No entanto, os funcionários do motel afirmaram aos policiais que não notaram a entrada de ninguém no quarto onde Morato foi encontrado.
Operação Turbulência
O empresário Paulo César Morato se hospedou sozinho no motel por volta de 11h40 da terça-feira, dia em que a Operação Turbulência foi deflagrada. No dia seguinte, como ele não saiu do quarto ou pagou nova diária, a equipe do motel tentou contato com ele, mas não conseguiu e acionou a polícia ao constatar que ele estava morto. As primeiras informações da Polícia Científica é que a morte ocorreu ainda na terça-feira, provavelmente pouco tempo depois da entrada do empresário no motel.
Morato era considerado foragido pela Polícia Federal. Ele tinha um pedido de prisão preventiva em aberto por causa da Operação Turbulência, deflagrada terça-feira (21). A PF investiga uma suposta rede criminosa de lavagem de dinheiro formada por pelo menos 18 pessoas físicas e jurídicas, a maior parte empresas de pequeno porte e de fachada. Elas teriam movimentado mais de R$ 600 milhões desde 2010. A suspeita é que a organização teria atuado no financiamento das campanhas eleitorais do ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República Eduardo Campos.
Paulo César Morato era apontado com um dos testas de ferro do grupo. De acordo com as investigações, o empresário se apresentava como dono da empresa Câmara e Vasconcelos Locações e Terraplenagem, que, segundo a PF, era de fachada. A organização foi uma das compradoras do avião usado por Eduardo Campos na campanha presidencial. O avião caiu em Santos matando Eduardo Campos e outras pessoas. No mesmo ano da compra da aeronave, em 2014, a empresa recebeu quase R$ 19 milhões de contrutora OAS por serviços de locação e terraplenagem que teriam sido realizados nas obras de transposição do Rio São Francisco.