Mulheres e mães de policiais militares que estão acampadas há uma semana em frente aos batalhões do Espírito Santo impedindo as viaturas de saírem dizem que não vão recuar do protesto por melhores salários. "A gente só sai daqui quando o governo atender ao que nós viemos buscar", disse uma delas.
Mais cedo, a cúpula da segurança pública no estado anunciou o indiciamento de 703 PMs pelo crime de revolta. Se condenados, a pena é de 8 a 20 anos de detenção em presídio militar e expulsão da corporação. Esses policiais tiveram o ponto cortado desde sábado (4) e não vão receber salário. O secretário de Segurança Pública, André Garcia, informou que eles foram indiciados pelo crime militar de revolta, por estarem armados e aquartelados nos batalhões.
A policial civil aposentada Selma Souza, mãe de um policial militar, disse que as mulheres têm recebido ameaças de processos e de medidas legais punitivas desde o primeiro dia de protestos.
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"Quando a gente entra numa guerra, a gente sabe que vai haver consequências. Nós vamos ter que arcar com elas. Também sabemos que tudo depende de um processo legal. Eles vão processar um policial por estar fazendo greve? Mas eles não estão fazendo greve. Eles estão vindo trabalhar e estão sendo impedidos de sair dos quartéis. É diferente", disse Selma.
O anúncio das punições foi feito após a reunião que terminou sem acordo entre os secretários do governo do estado e representantes das mulheres e das associações dos policiais militares no início da madrugada desta sexta-feira (10) após dez horas de negociação.
"Recebemos o resultado negativo da reunião, que só serviu para tentar desmotivar as mulheres, como um remédio amargo que vamos continuar engolindo porque não vamos arredar pé daqui enquanto o governo não trouxer uma proposta decente", disse Selma. Uma das participantes do encontro, a esposa de um policial militar, de nome Ângela, que não quis informar o sobrenome, disse que as mulheres saíram mais fortalecidas da reunião. "Nós vamos continuar aqui", falou.
O secretário de Segurança Pública afirmou que o governo está identificando, por meio de imagens, as mulheres e os parentes dos policiais que estão participando das manifestações e bloqueiam a entrada dos quartéis para evitar a saída das viaturas. O objetivo é responsabilizar civilmente essas pessoas para que paguem os custos de mobilização das Forças Armadas. A relação dos parentes que estão à frente do movimento será encaminhada para o Ministério Público Federal (MPF/ES).
"Não fomos nós que chamamos as forças federais. Quem chamou é que vai arcar com isso. Nós não causamos prejuízo nenhum a ninguém até este momento. Nosso movimento é pacífico", afirmou Selma. "Eu rogo para a população que pare um momento do seu dia e tente exercer a empatia. Coloque-se no lugar de um familiar de policial que é uma pessoa que sai de casa para ir trabalhar e defender a vida dos outros sem saber se vai voltar vivo ou dentro de um caixão. Pratiquem a empatia. Aí sim, venham nos criticar".
A paralisação dos policiais capixabas já completa uma semana sem solução até o momento. Moradores do estado relatam que a sua rotina mudou drasticamente, já que não podem trabalhar nem estudar. Ônibus, escolas, unidades de saúde, agências bancárias, repartições públicas e a maior parte do comércio está sem funcionar desde que os protestos começaram.