Brasil

Maia diz que Meirelles deveria apresentar agenda pós-Previdência

08 jan 2018 às 07:48

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acredita que o ministro da Fazenda e possível candidato à Presidência da República, Henrique Meirelles (PSD), deveria apresentar à sociedade uma agenda que avance além da reforma da Previdência. "Na minha opinião, a agenda do ministro Meirelles, e não estou aqui querendo criticar... Ela comete (um erro), do meu ponto de vista, e já disse (isso) a alguns assessores dele. Ela vai só na primeira parte do processo. A sociedade quer saber como você faz a segunda", disse o deputado, em entrevista ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, exibida no início da madrugada desta segunda-feira, 8. "Todos nós que temos essa agenda (da reforma) como prioritária, temos que falar da segunda parte da agenda. Senão fica muito árida. Fica só a parte que, em tese, vai tirar alguma coisa de alguém. Que não é verdade, mas é o que se vende aí, pelos campos da esquerda."

Ao responder uma questão sobre a convergência de pensamento de pré-candidatos que se colocam como alternativas de centro nas eleições deste ano - caso de Meirelles e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) -, Maia demonstrou distanciamento do ministro da Fazenda. "Discordo frontalmente de que a minha agenda necessariamente é 100% igual ao que pensa o Meirelles", afirmou, para então dizer que o possível candidato do PSD à Presidência deveria apresentar à sociedade um discurso que justifique a reforma da Previdência e que mostre o impacto que ela terá na vida das pessoas. "Por que vai fazer a reforma da Previdência? Ela existe porque na hora que tem uma rebelião em Goiás (como ocorreu no início deste ano), os governadores fazem uma carta e todos os pedidos deles têm relação com dinheiro. Porque está faltando recurso para a segurança. A gente quer a reforma da Previdência para reduzir o gasto aqui para sobrar recurso e cuidar da segurança", afirmou o parlamentar.


A respeito da votação da reforma na Câmara, marcada para a semana do dia 19 de fevereiro, Maia manteve o discurso otimista. "Dia 19 vamos ter voto", afirmou. "O deputado é pragmático. É um tema polêmico, mas fundamental." O parlamentar afirmou que o governo, "em um primeiro momento", falhou na comunicação das mudanças na Previdência. Agora, no entanto, ele acredita que o "que está colocado para a população é facilmente explicável para a sociedade". Maia contou um episódio recente em que teria saído aplaudido após fazer um discurso em defesa da reforma em um "bairro simples" (sem identificar a cidade).


O presidente da Câmara voltou a lamentar que a reforma não tenha sido aprovada no ano passado, por causa das denúncias da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer. "Em março ia votar. A gente estaria hoje com previsão de crescimento de 4% a 4,5% da economia. Ia ter que estar controlando o consumo de energia por causa disso."


Presidenciável. Maia participou do programa Canal Livre no âmbito de uma série de entrevistas dedicada aos possíveis candidatos à Presidência. Apesar disso, disse que, no momento, a chance de ser o escolhido do DEM é "zero", embora reconheça que seu nome esteja "colocado no debate". "O DEM vai ter um candidato nessa bancada aqui (durante as eleições), o candidato do DEM, não estou dizendo que sou eu." Ele citou como outros possíveis nomes do partido o ministro da Educação, Mendonça Filho (PE), e o prefeito de Salvador, ACM Neto. A última vez que o DEM encabeçou uma chapa presidencial foi em 1989, com Aureliano Chaves (o partido ainda se chamava PFL).


Maia disse que, acima da discussão sobre candidaturas ou sobre a eventual união de partidos de centro-direita, é preciso que seja definido um projeto "que saia do populismo, da demagogia". "Quero fazer parte de um projeto que seja muito transparente com a sociedade, que fale pra sociedade de forma clara: 'tem aqui um volume de despesas que é incompatível com a realidade do Brasil'." Não é possível, no entanto, "misturar o governo com a construção de um projeto", disse Maia. "O governo é beneficiário desse candidato (que defenderia a agenda reformista e de corte de gastos). A agenda que o governo colocou na pauta é uma agenda que é convergente com a desse candidato. Agora se você começar a estar preocupado com candidato que é pra defender governo, não vai sair do lugar. Você vai perder a oportunidade de atrair outros polos da sociedade em um primeiro momento."


O presidente da Câmara acredita ser possível participar da eleição com o discurso da austeridade. "Se for pra ganhar mentindo, é melhor perder falando a verdade." Em tom de brincadeira, Maia afirmou que o centro está congestionado (por causa do grande número de pré-candidatos), mas ao mesmo tempo vazio (pois não há um pré-candidato dessa linha que apareça bem nas pesquisas). "Tem que ver como se constrói um cento com votos." Maia declarou "apostar tudo" na ideia de que a aprovação da reforma da Previdência irá gerar efeitos econômicos positivos ainda em período eleitoral, o que tem o potencial de beneficiar eleitoralmente seus defensores. "Se (a reforma) não for aprovada, o cenário econômico será pior para a eleição e ruim para quem está na base do governo, mas o debate da reforma do estado está colocado", disse.


Lula. Sobre o líder das pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Maia disse preferir que ele seja vencido nas urnas. "Queria disputar com o Lula. Ele sairá derrotado da eleição. Vamos acabar com o mito." Segundo o presidente da Câmara, a campanha servirá para mostrar que o petista é o "culpado" pela crise. "Lula está bem nas pesquisas porque o governo do presidente Michel está injustamente muito mal avaliado", disse. "O candidato que for para o debate, colocar o dedo na ferida, tem espaço para que ele (Lula) não tenha os 30% (de intenção de voto) que tem hoje." Maia disse não crer em "convulsão social" caso a condenação de Lula seja confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, no dia 24.


Regra de ouro. O presidente da Câmara afirmou que a flexibilização da chamada "regra de ouro", que impede o governo de emitir dívida em volume superior a investimentos, é necessária para 2019. Segundo ele, com o atual crescimento das despesas, "a regra de ouro fica impossível de ser atingida" no próximo ano. Maia disse que a discussão sobre a medida é a "prova" da necessidade de aprovar a reforma da Previdência.

O parlamentar aproveitou a discussão sobre o tema para alfinetar o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro. O deputado lembrou que o cumprimento da regra para este ano pode ser assegurado com a devolução de R$ 180 bilhões pelo banco ao Tesouro Nacional. Rabello, no entanto, já mostrou resistência em devolver os recursos. "Ele deve ter sido nomeado pelo presidente (dos Estados Unidos, Donald) Trump e aí não quer devolver", comentou Maia.


Continue lendo