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No aeroporto internacional

Loja em Salvador deixa de vender escravos de cerâmica após repercussão sobre o caso

Franco Adailton - Folhapress
09 fev 2022 às 19:00

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- Reprodução/Instagram/@paulao_rj
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A loja Hangar das Artes, localizada no aeroporto de Salvador, chegou a colocar à venda, por R$ 99,90 a unidade, pelo menos sete souvenires de cerâmica com imagens de pessoas negras representadas como escravos acorrentados.


Nesta quarta-feira (9), o Ministério Público da Bahia determinou a notificação da representante da loja para que forneça informações em um prazo de cinco dias, a contar da data do recebimento.

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Em publicação nas redes sociais também nesta quarta-feira (9), a loja disse ter errado e classificou a exposição como uma infelicidade, "mesmo tomando os cuidados na seleção dos produtos a serem comercializados".

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Os produtos foram retirados das prateleiras depois da repercussão do caso.

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O estabelecimento recebeu uma enxurrada de críticas depois que um passageiro expôs nas redes sociais, no domingo (6), uma foto da vitrine com as representações como artesanato sob a identificação "escravo cerâmica".


A imagem foi registrada pelo historiador Paulo Cruz, 39, quando ele voltava com um casal de amigos para o Rio de Janeiro, onde mora. Estava em uma viagem de dez dias para ver a família na Bahia, onde não pisava havia mais de duas décadas.

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"No aeroporto internacional de Salvador, a loja @hangardasartes exibe em sua prateleira figuras de escravos à venda. ACORRENTADOS. No porto de entrada e saída da cidade mais preta das Américas. O preço da nossa história, genocídio e dor? R$99,90", publicou.


"Enquanto aguardávamos o voo, entramos na loja, quando nos deparamos com aquelas imagens na prateleira principal", disse Cruz, que é negro. "No primeiro momento, foi um choque. Depois, o sentimento passou a ser de indignação".

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Segundo o passageiro, as imagens tinham um tamanho aproximado de 15 a 20 centímetros. "Eu só quis sair dali. Não cheguei a interpelar ninguém, porque só estavam duas vendedoras, uma delas negra. Imagino o constrangimento", disse.


O caso repercutiu na segunda-feira (7) após a publicação original ser reproduzida pelo ativista Antônio Isupério, que compartilhou a denúncia de Cruz com seus mais de 85 mil seguidores na rede social Instagram.

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"Você imagina que poderia ter um boneco de crianças judias em 'forninhos' para serem vendidas como adereços? Então, isso não acontece porque o repúdio à violência do nazismo já está em domínio público, enquanto nós n*gros ainda estamos em processo de conquista da nossa humanidade", escreveu Isupério.


Lívia Vaz, promotora da área de Justiça de Combate ao Racismo do Ministério Público da Bahia, faz questionamento semelhante. Ela indaga se esculturas de corpos brancos acorrentados, com vestes com a estrela de Davi, seriam comercializadas como objetos de decoração.

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"Por que naturalizar quando se trata de corpos negros? No Brasil, último país do Ocidente a declarar abolida a escravidão, há uma necropolítica essencialmente antinegro, que envolve não apenas o extermínio físico, mas diversas formas de morte simbólica", comentou.


Além de publicar a nota com um pedido de desculpas, a Hangar disse ter retirado todas as peças de circulação, mas, segundo a empresa Vinci, que administra o aeroporto, a solicitação partiu da concessionária responsável pelo terminal.

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Ainda na segunda-feira (7), a loja publicou havia publicado nota de retratação na qual dizia que as esculturas era imagens "do Preto(a) Velho(a), espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente, como escravizadas" e afirmava que, ainda assim, aquela era uma forma errada de representá-las.


O presidente da AFA (Associação Brasileira de Preservação dos Cultos Afro-Ameríndios), Leonel Monteiro, afirma que, embora em vida as entidades chamadas de pretos velhos possam ter sido escravizadas, no plano espiritual, a representação imagética delas é de pessoas livres.


"O racismo estrutural de parte da sociedade brasileira se manifesta de várias maneiras, uma delas como intolerância religiosa, mas, nesse caso, retrata a forma de pensar que esse tipo de coisa é normal. Pior ainda, cultural", afirmou Monteiro.


A loja foi alvo de notas de repúdio da presidente da Comissão de Direitos Humanos e de Defesa da Democracia da Câmara de Salvador, Marta Rodrigues (PT), e do vereador Sílvio Humberto (PSB), que defendeu boicote ao estabelecimento.

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