Uma reportagem do jornal britânico The Times afirma neste sábado (25) que uma das companhias que fornecia o lixo que chegou ao Brasil com resíduos perigosos já foi multada por razões ambientais quatro vezes.
De acordo com o jornal, no último processo, em dezembro de 2008, a Hills Waste Solutions admitiu ter falhado no controle dos níveis de lixívia, um líquido resultante da decomposição do lixo que pode conter metais pesados, como o arsênico.
Outras duas multas teriam sido aplicadas quando a companhia operava sob outro nome, Hills Mineral and Waste.
Apesar disso, a empresa recebeu um contrato de 20 anos para gerenciar centros de reciclagem em Swindon, no condado de Wiltshire, de onde o lixo provinha, apontou o jornal.
A reportagem põe em questão a confiabilidade da indústria de reciclagem britânica e a capacidade das autoridades de garantir a lisura ambiental do setor.
Empurra-empurra
O caso já levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, a apontar o dedo contra a Grã-Bretanha e acusar o país de manter uma prática ambiental diferente do discurso.
Na quarta-feira, o ministério das Relações Exteriores do Brasil instruiu a Delegação Permanente em Genebra a apresentar, nos termos da Convenção de Basileia, uma denúncia de tráfico de resíduos perigosos provenientes da Grã-Bretanha.
Desde a descoberta do caso, a Hills Waste Solution trava com a Worldwide Biorecyclables, do brasileiro Julio da Costa, uma disputa de empurra-empurra em relação às responsabilidades de cada uma no contrato.
Em entrevista à BBC Brasil, Júlio da Costa afirmou que suas responsabilidades se limitam a prensar o plástico enviado por seus fornecedores e exportar o resultado para o Brasil, e que cabe à Hills Waste Solution separar o material que fornece.
Em uma nota divulgada na semana passada, a Hills Waste Solution disse que essa responsabilidade era da empresa do brasileiro.
Ouvida pelo The Times, a empresa disse que é "extremamente improvável" que tenha enviado resíduos perigosos, como seringas e material hospitalar, para a empresa de Costa.
Mudança nas regras
O diário afirmou que o caso pode levar as autoridades ambientais britânicas a rever as regras da indústria da reciclagem.
Segundo o jornal, a empresa de Julio da Costa operava dentro de uma brecha legal que lhe evitar uma supervisão ambiental mais rígida.
Três pessoas foram presas no caso, e posteriormente liberadas, segundo o Times. A agência ambiental britânica disse que as empresas pagarão pela carga enviada ao Brasil.
A diretora de gestão de resíduos da agência ambiental britânica, Liz Parkes, disse que "o governo britânico assumiu uma liderança global forte para combater o comércio ilegal de lixo, com objetivo de proteger as pessoas e o ambiente".