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Diretora alvo da CPI conseguiu mudança a jato em pagamento da Covaxin após recorrer a Elcio Franco

Vinicius Sassine/Folhapress
14 jul 2021 às 11:29

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- Pedro Ladeira/Folhapress
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Um ofício da diretora da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, ao então secretário-executivo do Ministério da Saúde, coronel Elcio Franco Filho, levou a uma mudança a jato na forma de pagamento pela vacina indiana Covaxin.


A ação da diretora junto ao coronel do Exército fez com que o ministério alterasse a forma de pagamento pelos 20 milhões de doses previstos, a um custo de R$ 1,61 bilhão.

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Com a mudança, o pagamento deveria ser internacional, em dólar, a partir da emissão das chamadas invoices (faturas internacionais), diretamente à fabricante indiana. Documentos obtidos pelo jornal Folha de S.Paulo mostram que a alteração nas regras ocorreu no mesmo dia do ofício de Emanuela a Franco.

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Às 15h55 daquele dia, 22 de fevereiro, o Ministério da Saúde concordou com o pedido da diretora da Precisa e alterou o termo de referência que embasou a assinatura do contrato. O contrato foi firmado três dias depois. Nesta quarta-feira (14), Emanuela estará na CPI da Covid para prestar depoimento.

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Um dia antes, ela ficou em silêncio. O ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu que se calar é permitido para não se incriminar, mas definiu que a comissão deve avaliar se há abuso da prerrogativa.


Intermediadora da Covaxin, produzida pela empresa indiana Bharat Biotech, a Precisa Medicamentos tentou por duas vezes garantir um pagamento antecipado de US$ 45 milhões por um primeiro lote de imunizantes.

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Para isso, a empresa fez uso de duas faturas emitidas no processo de importação. A responsável pela emissão foi uma terceira empresa, a Madison Biotech, com sede em Singapura.


As faturas, com data de 19 de março, previam o pagamento antecipado, apesar de não haver essa previsão em contrato.
Os documentos fazem parte das investigações conduzidas pela CPI da Covid no Senado, após o chefe de importação do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, apontar irregularidades na emissão dessas faturas.

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Um depoimento de Miranda ao MPF (Ministério Público Federal), em que denuncia pressão atípica para liberação da Covaxin, foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo em 18 de junho, o que abriu uma nova fase da CPI.


A própria Emanuela havia entregue as faturas à pasta, nas tratativas para tentar viabilizar a importação de um primeiro lote de 3 milhões de doses.

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O setor de importação do ministério identificou irregularidades e pediu correção de dados, o que só ocorreu numa terceira fatura.


A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), diante da falta de documentos básicos que atestassem a qualidade do imunizante, negou o pedido de importação ainda em março. Nenhuma dose desembarcou no Brasil até agora.

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O caso chegou ao presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada, pelas mãos do servidor do ministério e de seu irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF). O congressista diz ter denunciado irregularidades e apresentado documentos ao presidente, como cópias das faturas.


Por não ter levado o caso à Polícia Federal, como teria prometido que faria, Bolsonaro é investigado por prevaricação em inquérito instaurado pelo STF.

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Quando Emanuela enviou o ofício ao "cel. Élcio Franco", o Ministério da Saúde já havia ajustado por três vezes o termo de referência que oferece as condições para a assinatura do contrato.


Por esse termo, o pagamento deveria ocorrer a partir do recebimento da nota fiscal ou fatura, por meio de ordem bancária, com depósito numa conta corrente indicada pela empresa contratada.


A diretora da Precisa Medicamentos pediu uma mudança a Elcio Franco. No ofício, ela solicitou que o pagamento fosse feito diretamente à Bharat Biotech, "através de invoices a serem emitidas a cada embarque".


Um despacho foi emitido no mesmo dia pelo ministério. "Considerando a apresentação da proposta pela empresa Precisa, que condicionou o pagamento à empresa estrangeira Bharat Biotech, foi necessário alterar os itens relativos ao pagamento", cita o despacho, assinado por Thiago Fernandes da Costa, assessor, e Lauricio Monteiro Cruz, diretor do Departamento de Imunização.


Monteiro Cruz foi demitido do ministério no dia 8 de julho, após informações sobre a existência de um mercado paralelo de vacinas ofertadas à pasta.


O novo termo de referência passou a prever que o pagamento à empresa contratada, Bharat Biotech, ocorreria com base em proposta de preço em moeda estrangeira, em até 30 dias, contados a partir da apresentação de documentos que comprovem a efetiva entrega do objeto contratado.


São citados os documentos "AWB, invoice, packing-list". Esse tipo de pagamento passou a constar da minuta de contrato submetida à análise pela consultoria jurídica do Ministério da Saúde.


Em parecer em 24 de fevereiro, véspera da assinatura do contrato, os advogados da União recomendaram que o prazo de pagamento só fosse iniciado após algum tipo de aprovação da Anvisa para a vacina (emergencial, temporária ou definitiva) e após a entrega do imunizante, "cumulativamente". A cláusula foi incluída no contrato.


Munida de um habeas corpus concedido por Fux, Emanuela decidiu ficar em absoluto silêncio na CPI nesta terça. O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), suspendeu a sessão para, então, consultar o STF sobre a extensão do habeas corpus.


Segundo nova decisão de Fux, cabe à depoente decidir se a resposta a uma pergunta poderá incriminá-la, o que justificaria o silêncio. Porém, segundo ele, nenhum direito é absoluto. A comissão tem instrumentos para adotar providências em caso de abuso, conforme o magistrado.


O depoimento foi retomado à noite e, diante de novo silêncio de Emanuela, encerrado, com reconvocação da diretora para as 9h desta quarta. Também está marcada para o mesmo dia a oitiva do dono da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano.


Emanuela não respondeu a mensagens da reportagem. A Precisa afirmou ter sido transparente e ter seguido a legislação ao negociar a Covaxin. Ela negou ter existido qualquer vantagem ou favorecimento.


"A Precisa informa que as tratativas entre a empresa e o Ministério da Saúde seguiram todos os caminhos formais e foram realizadas de forma transparente junto aos departamentos responsáveis do órgão federal", disse a empresa em nota.

O Ministério da Saúde suspendeu o contrato, por determinação da Corregedoria-Geral da União. A pasta avalia se rescinde a parceria. Enquanto isso, mantém válida a nota de empenho que reserva R$ 1,61 bilhão, desde 22 de fevereiro, para a compra do imunizante.


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