Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Preocupação entre mães

Desligamento de funcionários do projeto Viver preocupa vítimas de abuso sexual

Sayonara Moreno/Agência Brasil
04 jun 2017 às 08:23
siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

A redução no quadro de assistentes do projeto Viver, do Governo da Bahia, causou preocupação entre mães e familiares de crianças vítimas de abuso sexual. O projeto é da Secretaria Estadual de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), que desligou funcionários – contratados na modalidade de Regime Especial de Direito Administrativo (Reda) – após o vencimento do prazo do contrato, sem substituição do pessoal desligado.

A psicóloga Selma Evangelista é uma das funcionárias que deixou o projeto após o vencimento do contrato, no dia 25 de abril. Ela explica que o Projeto Viver é o único, no estado, a atender vítimas de violência sexual de qualquer gênero e idade, de forma exclusiva e multidisciplinar, há 15 anos.

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


"Entendemos que a violência sexual, na grande maioria dos casos é um fenômeno dentro de um contexto da estrutura familiar ou no círculo de amizades. Os casos têm características específicas, além da violência, na qual há uma ruptura de contexto. A gente se depara com pessoas e suas histórias, com familiares também surpresos e em choque pela ação praticada por pessoas do convívio, que deveriam proteger crianças, por exemplo", relata a psicóloga.

Leia mais:

Imagem de destaque
Independência

Em Brasília, Desfile de 7 de setembro destaca importância da vacinação e homenageia gaúchos

Imagem de destaque
Relatório preliminar

'Bastante gelo', disse copiloto da Voepass um minuto antes de queda de avião

Imagem de destaque
Confira os números:

Mega-Sena acumula mais uma vez e prêmio vai para R$ 40 milhões

Imagem de destaque
Atenção

Entenda a diferença entre assédio e importunação sexual no ambiente de trabalho


Após o fim do contrato, a secretaria de justiça conta com cinco pessoas no programa, para atender as demandas: uma enfermeira, um assistente social, um gerente, uma coordenadora técnica (formada em psicologia) e um coordenador administrativo (formado em direito). A secretaria informou também que dois cargos administrativos serão substituídos "em breve, por dois novos profissionais de psicologia".

Publicidade


Grupos que atuam em defesa dos direitos humanos na Bahia também estão preocupados. É o caso de Sandra Muñoz que participa da organização de uma agenda de mobilizações em Salvador. "Esse serviço é de excelência e as pessoas precisam de atendimento imediato, tomar coquetéis contra doenças sexualmente transmissíveis, receber assessoria jurídica e psicológica. A gente quer ver se consegue fazer com que reativem o Viver", diz Sandra.


Reformulação

Publicidade


Diante da preocupação das famílias e de grupos que atuam na defesa dos direitos humanos, a SJDHDS disse que o programa funciona, mas vai passar por uma "reformulação". Segundo nota do órgão, a nova proposta foi feita pelo titular da pasta, o secretário Carlos Martins, no início do ano.


O objetivo é envolver outras três secretarias no projeto: a de Políticas para as Mulheres, de Saúde e de Segurança Pública. Após a integração entre as pastas, a SJDHDS informou que "a ideia de reformulação é de que a tecnologia social ali aplicada possa ser disseminada para todos os municípios do Estado, através do assessoramento prestado pela equipe do Projeto Viver", que continuará sendo coordenado pela secretaria de Justiça e Direitos Humanos.

Publicidade


De acordo com a SJDHDS, com o deficit no quadro de atendentes, as pessoas que precisam de acolhimento e atendimento após sofrerem violência sexual estão sendo encaminhadas para outros locais, como o Hospital da Mulher, os Centros de Referência Especializados em Assistência Social (CREAS) e os Centros de Referência em Atenção à Mulher.


Inaugurado em janeiro deste ano, o Hospital da Mulher tem algumas restrições para o caso específico de violência sexual: só pode atender vítimas do sexo feminino e com idade superior a 12 anos. Já os CREAS, coordenados pelos municípios, não são especializados em violência sexual. Os Centros de Referência em Atenção à Mulher também não são especializados em casos de violência sexual e o público-alvo são apenas mulheres – o que não abrange todas as vítimas desse tipo de abuso.

Publicidade


Para a psicóloga Selma Evangelista, as opções oferecidas pela Secretaria não atendem as demandas da população de Salvador. "Esses serviços oferecidos não são completos e nem exclusivos, porque não suportam a demanda de todas as pessoas. Nenhuma outra instituição do estado e município possui esse tipo de serviço, que deveria ser ampliado para outras cidades, não reduzido", disse a profissional desligada. "Lamento muito ver o estado, que tem um serviço qualificado, de referência e excelência, chegar a esse ponto".


Acolhimento

Publicidade


Mesmo com a equipe reduzida, a SJDHDS garantiu que o programa continua em funcionamento, até que passe pela reformulação anunciada. O espaço funciona ao lado do Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues, vinculado à Polícia Civil da Bahia, em Salvador.


Marta* é mãe de um menino de cinco anos, abusado pelo pai, que compartilhava com ela a guarda da criança. Em novembro do ano passado, Marta notou mudanças no comportamento do menino, que relatou os abusos. Para ela, ainda é difícil contar o que passou e garante que só se manteve "em pé para lutar por Justiça", graças o acolhimento da equipe multidisciplinar do Viver.

Publicidade


"No Viver, eu encontrei equilíbrio, suporte e atendimento que não vi em nenhuma outra entidade. Não é a mesma estrutura, não é o mesmo serviço. Sempre tem alguém que atende, acolhe e nos dá força para seguir a vida em busca de paz. Não é só o atendimento, é o trabalho com o grupo familiar e individual, de escuta pelo processo de sensibilização dos relatos do meu filho", conta.


Marta ainda enfrenta o risco de ser acionada judicialmente, porque não permite que o pai veja mais a criança. Como a justiça ainda não autorizou o afastamento do pai, a proibição de convívio imposta por ela pode ser entendida como alienação parental. Marta conta que já foi denunciada uma vez, pelo ex-marido, por esse motivo e explica que, desde novembro de 2016, espera uma medida protetiva da Justiça, que determine que o pai não tenha mais contato com o filho.


"É uma situação difícil e me sinto violada junto com o meu filho. O projeto Viver nos dava esse auxílio para suportar o peso das coisas, sem tanto sofrimento. As psicólogas nos tratavam com humanidade e tanto carinho que até o meu advogado se surpreendeu com a forma como consegui lidar com tudo isso, e devo à equipe do Viver", conta emocionada.

*Marta é um nome fictício, usado como forma de resguardar a segurança de mãe e filho, que ainda aguardam decisões judiciais sobre o caso


Publicidade

Últimas notícias

Publicidade