Os criadores do Drousys, o sistema de informática para comunicação do setor de propinas da Odebrecht, entregaram para a Polícia Federal, na última quarta-feira (25), a lista de 73 usuários que tiveram acesso aos e-mails, chats e canais de telefonia voIP secretos que mantinham arquivos guardados na Suíça e depois na Suécia para dificultar o rastreio por autoridades.
São 112 nicknames identificados, outros sem identificação, de executivos da empresa, doleiros que prestavam serviço ao grupo e ainda outros que não integravam a máquina de propinas: como o ex-presidente da Eletronuclear Othon Pinheiro da Silva, o lobista Bruno Luz, o genro do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, entre outros.
Na lista estão ainda os cinco nicknames usados por pessoas da Grupo Petrópolis, dono da Cervejaria Itaipava, que eram parceiros da Odebrecht na lavagem de dinheiro do Setor de Operações Estruturadas. Os delatores da empreiteira, incluindo Marcelo Odebrecht - o presidente afastado do grupo preso desde junho de 2015 pela Lava Jato - confessaram que a cervejaria fornecia dinheiro vivo para a máquina de fazer propinas criada em 2006, em troca recebia dinheiro em contas secretas no exterior ou por meio de compensação em obras. A Odebrecht construiu duas fábricas da Itaipava, uma delas na Bahia inaugurada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2013.
"Com a deflagração da Operação Lava Jato, e a tomada de conhecimento do envolvimento da Odebrecht, a Draftsystems, como administradora do ambiente, sempre teve o cuidado na preservação das informações, uma vez que sabia que elas poderiam ser de extrema relevância", informou Paulo Sérgio da Rocha Soares, dono da Draftsystems do Brasil, que desenvolveu a ferramenta. Ele é irmão de um dos três executivos do setor de propinas da Odebrecht, Luiz Eduardo da Rocha Soares - delator da Lava Jato.
Segundo o criador do Drousys, a empresa não tem todos os arquivos do sistema, mas entregou aqueles que tiveram acesso a pedido de pessoas da Odebrecht. "O relacionamento da Draftsystems com as pessoas mencionadas resume-se aos contatos técnicos para apresentação do ambiente e suporte na utilização dos recursos de TI disponibilizados", informou o criador à PF - desde março de 2016 ele e seu funcionário Camillo Gornati colaboram com a Lava Jato.
Apurações
As informações sobre usuários com acesso ao sistema de comunicação secreta do Setor de Operações Estruturadas foram pedidas pelo delegado da PF Filipe Hille Pace, no último mês, nas investigações da Operação Abate I e II (44ª e 45ª fases da Lava Jato), para que a Draftsystems apresentasse a relação de "todos os clientes" e quem eram os usuários. A PF rastreia quem eram os outros usuários fora do setor de propinas que também utilizava as contas de e-mail que tinham servidores mantidos no exterior.
A Operação Abate I e II apura corrupção envolvendo o ex-líder do PT na Câmara Cândido Vaccarezza, o advogado Tiago Cedraz - filho do ministro do TCU Taldo Cedraz -, uma pessoa ligada ao ex-ministro Edison Lobão e os lobistas Jorge Luz e Bruno Luz. Os alvos estão envolvidos na criação de uma empresa, a Brasil Trade um "negócio criminoso" que renderia 40% ao "PT/PMDB".
O nome de Othon Pinheiro, que já é condenado na Lava Jato por corrupção e lavagem nas obras de Usina Eletronuclear Angra 3, de Humberto Mesquita - o genro do ex-diretor da Petrobras- e do lobista Bruno Luz está na mesma coluna de usuários ligados ao investigado Paulo Sérgio Vaz Arruda, suposto operador de propinas e controlador de contas no exterior.
"Em agosto de 2011 o sr. Paulo Arruda me foi apresentado pela Odebrecht", informou o dono da Draftsystems. "Foi solicitado que lhe demonstrasse o ambiente Drousys, pois ele representava uma pessoa de grande relacionamento com a empresa."
Nos autos da Abate, os lobistas Bruno Luz e seu pai Jorge Luz, considerados os mais antigos lobistas da Petrobras, com vínculos com políticos do PMDB, disseram que Arruda controlava contas em nome de offshores do patriarca no exterior. Os dois foram presos pela Lava Jato em fevereiro.
Jorge Luz narrou ao Ministério Público Federal que Arruda participou do repasse de R$ 400 mil a Vaccarezza em negócio de asfalto da empresa norte-americana Sargent Marine com a Petrobras.
Informou que o controlador de contas de Jorge Luz, que usava o nickname "Amex", "durante sua permanência no ambiente ele tentou colocar alguns usuários de seu contato, devidamente autorizados pelos executivos da Odebrecht". Entre ele estão o "Panda", o "Mengo" e outros sem identificação da pessoa: "Falcon", "Tiger" e "Thomaz".
Há ainda o nome de Diego Candolo, que usava o nickname "Jacob" e que já era alvo da Lava Jato. Seu nome apareceu pela primeiro vez em 2014 como operador de contas do lobista e pagador de propinas Fernando Soares Falcão, o Fernando Baiano - que virou delator ligado ao PMDB.
Mega delação
Os arquivos do Drousys fazem parte do acordo de delação premiada da Odebrecht - o maior da Lava Jato, em três anos e sete meses de investigações - fechado em dezembro de 2016 com a Procuradoria-Geral da República e homologado em janeiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Além do sistema de comunicação, espécie de intranet da empresa, havia um programa de contabilidade paralela, o MyWebDay B, também parte do acordo. A Odebrecht entregou cinco discos rígidos com memória de programas de propinas.
O dono da Draftsystems afirmou à PF, em resposta enviado por escrito via defesa, que a Odebrecht tem todos os detalhes sobre os clientes. E que a empreiteira foi a única compradora do Drousys, criado em 2007, sem contrato formal - ele afirmou que em 2008 chegaram a fazer um documento de prestação do serviço, mas nunca foi assinado.
"Todos os clientes da Draftsystems and Communications Ltd foram pessoas apresentadas pelos executivos da Odbrechet e dos contatos desses executivos. Esta era a única forma de ser usuário do Drousys. Eventualmente a Draftsystems era contata por algum dos executivos da Odebrecht e recebia a indicação a quem deveria procurar e instalar o acesso ao ambiente Drousys."
Segundo ele, durante quase oito anos de funcionamento do Drousys "diversos usuários foram cadastrados para acessos aos servidores". "Onde tinham disponíveis ferramenta MS-Office, acesso à internet, e-mail, telefonia voIP e chat interno entre os participantes, sem a possibilidade de contato com a internet."
O criador do sistema informou ainda que foi contratado pela Odebrecht para recuperar os dados nos servidores da Suíça e da Suécia, bem como para ajudar a força-tarefa da Lava Jato a ter acesso aos dados armazenados. "Diversas participações decisivas foram feitas nesta prestação de serviços, em apoio à Odebrecht, garantindo que as informações solicitadas pela força-tarefa fossem devidamente extraídas sem qualquer risco, das estruturas de arquivos do ambiente Drousys."
Por determinação do acordo firmado entre Odebrecht e MPF e até mesmo por serem apenas administradores dos servidores e não os proprietários das informações, os representantes da extinta Draftsystems, não detém em seu poder nenhuma cópia ou backup das informações referentes ao sistema Drousys e todas as informações extraídas tanto pela empresa FRA quanto pela OAG foram entregues pela Odebrecht ao MPF", informou o criador do sistema à PF.