Idosos que fazem uso de antidepressivos, ansiolíticos, sedativos, antialérgicos, medicamentos que reduzem a glicose, analgésicos opioides e relaxantes musculares devem redobrar a atenção ao volante. Essas medicações comprometem a concentração, coordenação motora, os reflexos e a capacidade de dirigir, aumentando o risco de acidentes de trânsito.
O alerta é um dos capítulos da cartilha "Tenha uma Direção Segura! Manual da Pessoa Idosa Condutora", voltada à população com 60 anos ou mais e familiares, elaborada pela disciplina de geriatria e gerontologia da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), pela Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego) e pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).
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"O idoso começa a ter doenças crônicas, como o diabetes, cardiopatias, doenças neurológicas e, por isso, toma muitos medicamentos. O remédio para diabetes, por baixar muito o açúcar, pode fazer com que ele perca a consciência na direção. Os mais velhos também têm insônia e esse tipo de medicação interfere na direção veicular. As dores crônicas, às vezes, não passam com analgésicos comuns e há necessidade de utilizar os mais fortes", explica, diretor-científico da Abramet, Flavio Adura.
"Os sedativos, anticonvulsivantes, antidepressivos e os calmantes, em geral, são problemáticos para o idoso ao volante. Podem causar sonolência, desatenção, tontura, mal-estar, sudorese, palpitação e outros sintomas de hipoglicemia", orienta a médica Fânia Cristina dos Santos, doutora em geriatria e gerontologia da Unifesp e membro da Comissão de Dor da SBGG e do Comitê de Dor no Idoso da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor.
"Se ele sentir um dos sintomas mesmo tomando a medicação receitada pelo médico, precisa informar ao profissional e evitar a direção", afirma.
A especialista também chama a atenção para o perigo do uso indiscriminado de remédios vendidos sem a exigência de receita, como os antialérgicos e relaxantes musculares.
"Os idosos precisam conversar com o médico sobre as medicações que usa e as interferências na direção. Tenho muitos pacientes que não deveriam estar dirigindo, mas insistem. Para eles, dirigir é uma questão de empoderamento", diz a médica.
A cartilha, lançada em maio, reúne aspectos que devem ser observados quando atrás do volante há um motorista com 60 anos ou mais.
Além do uso de medicações, o material aborda o consumo de álcool, cuidado com o sono e a alimentação, atenção à saúde, dicas para a manutenção dos veículos, para o trânsito do pedestre com idade e de direção segura. Entre as recomendações estão: evitar dirigir à noite, em horários de pico e com tempo ruim; ficar perto de onde mora; evitar longas distâncias; dirigir sempre com um conhecido; descansar após uma hora e meia na direção; fazer exames oftalmológicos e de audição com maior frequência.
O status de força e vitalidade também é um ponto bastante valorizado pelos geriatras quando o assunto envolve pilotar um automóvel. Segundo Fânia Cristina dos Santos, atualmente, para liberar a carteira de habilitação aos idosos há a inclusão do medidor de força de pressão palmar nas avaliações.
Dor e direção segura
"Como estão suas juntas e músculos?" é uma das questões abordadas no manual. "Apesar de sentados, nos movimentamos muito atrás do volante. Sentir dor ou dificuldade para mexer as juntas e partes do corpo atrapalha a direção. Essas dores podem ser alterações osteoarticulares ou neuromusculares, como osteoartrites, hérnias de disco e torcicolos", explica a geriatra.
A mobilidade é um dos requisitos para dirigir com segurança. "Você tem que manobrar, estacionar, movimentar o pescoço. Precisa ter a perna forte para pisar no freio. Isso está relacionado à alimentação, força e prática de atividade física. O momento de parar de dirigir não depende da idade, mas da funcionalidade da pessoa", ressalta Santos.
"A sociedade se mobiliza sobre rodas e a perda da habilidade de dirigir é dolorosa. Há trabalhos que mostram que a pessoa idosa, quando para de dirigir, entra em depressão, tem mais internações hospitalares e términos de relacionamentos. Fizemos essa cartilha para chamar a atenção do idoso e dos familiares para o momento de parar de dirigir", finaliza Adura.
Segundo o Detran-SP, 27,3 milhões de condutores possuem CNH (Carteira Nacional de Habilitação) registrada no estado de São Paulo. Do total, 4,3 milhões (15,7%) têm 60 anos ou mais.
Conforme a legislação de trânsito em vigor no país, a renovação da CNH deve ocorrer a cada dez anos, para condutores com idade inferior a 50; com periodicidade de cinco, para quem tem de 50 a 69 anos; e de três em três, para os motoristas com 70 anos ou mais.
Alguns medicamentos para ter atenção ao dirigir
Antidepressivos: fluoxetina, amitriptilina, mirtazapina e trazodona
Ansiolíticos e sedativos: diazepam, lorazepam e clonazepam
Antialérgicos: dexclorfeniramina
Medicamentos que reduzem a glicose: glibenclamida, gliclazida e insulina
Analgésicos opioides: tramadol, metadona e morfina
Relaxantes musculares: ciclobenzaprina e orfenadrina
Infrações de trânsito mais cometidas por idosos
Segundo os estudos sobre segurança veicular que deram origem à cartilha, passar com o farol vermelho, conversão proibida à esquerda exige mais cognição, retorno proibido, ultrapassagem perigosa e não circular pelo lado direito da via são as infrações mais cometidas pelo condutor 60+, por estar sob influência de medicamento ou devido à perda cognitiva.
Em relação aos acidentes com vítimas fatais no trânsito, dados do Detran mostram que o estado de São Paulo registrou 1.525 mortes entre janeiro e abril deste ano. Em 941 registros, o condutor foi uma das vítimas. Em 119 (12,6%) dessas ocorrências, o motorista tinha 60 anos de idade ou mais.
No mesmo período do ano passado, foram contabilizados 1.584 óbitos no estado. Em 958 casos, o condutor era uma das vítimas e 106 desses motoristas (11%) pertenciam à faixa 60+.