O volume de água tratada que o Brasil perde anualmente com vazamentos na distribuição seria suficiente para abastecer cerca de 54 milhões de pessoas. É o que aponta um estudo feito pelo Instituto Trata Brasil com base em dados públicos disponibilizados no SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento).
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Em 2022, foram mais de 3,6 bilhões de metros cúbicos de água potável jogados fora somente por esse tipo de desperdício (chamado de "perdas físicas" no jargão do setor).
Considerando outros problemas, como perdas comerciais, erros de medição e furtos de água, o valor é ainda maior. Foram 7 bilhões de metros cúbicos de água não faturada, o equivalente a quase 7.636 piscinas olímpicas desperdiçadas diariamente.
Segundo a entidade, no país, cerca de 37,8% da água foi perdida durante a distribuição em 2022 e não chegou às residências. O Trata Brasil afirma que o patamar está mais de 20 pontos percentuais acima da média registrada nos países desenvolvidos, de 15%.
Uma portaria do Ministério do Desenvolvimento Regional publicada em 2021 determinou que, para ter acesso a recursos públicos federais e a financiamentos com verba da União, os municípios precisam seguir metas relacionadas à perda de água na distribuição, conforme cronograma divulgado pela pasta à época.
Para Luana Pretto, presidente do Instituto Trata Brasil, o ideal é que o percentual de água desperdiçada durante o abastecimento gire em torno dos 25% ou menos. De acordo com o levantamento, somente 9 dos 100 municípios mais populosos do país conseguiram ficar abaixo desse índice em 2022.
Metade das cidades com padrão de excelência nesse quesito fica em São Paulo, sendo elas Limeira, Campinas, Suzano e São José do Rio Preto. Também estão na lista municípios como Maringá e Petrópolis. As únicas capitais com níveis considerados adequados pela entidade são Goiânia e Campo Grande.
Por outro lado, Rio de Janeiro, Recife, Cuiabá, Rio Branco, Macapá e Porto Velho são as capitais que aparecem com os piores índices entre as cidades mais populosas.
Segundo o Trata Brasil, 60% do problema está relacionado a perdas físicas.
"Com esse mesmo volume [3,6 bilhões de metros cúbicos], seria possível abastecer os 17,9 milhões de brasileiros que vivem em favelas por mais de três anos. Ao meio ambiente, a redução dessas perdas implicaria a disponibilidade de mais recurso hídrico para a população sem a necessidade de captação em novos mananciais", afirma o estudo.
Segundo Luana Pretto, é impossível diminuir as perdas a zero porque há limites técnicos e econômicos que impedem isso. No entanto, ela afirma que o patamar pode ser reduzido para atingir a meta fixada pelo governo. Para isso, será necessário investimento.
"A média de investimento no Brasil é de R$ 111 por habitante por ano. A gente deveria estar investindo R$ 231 por ano para habitante. Existe uma correlação direta entre investimento e acesso ao saneamento básico e redução de perdas. É pouco dinheiro que está sendo investido. Não existe um plano estruturado de redução e por outro lado ainda tem muita gente que ainda não tem acesso ao saneamento."
Pretto diz que, diante de catástrofes causadas por efeito das mudanças climáticas, o tema precisa ganhar mais atenção de autoridades.
"A gente não vai mais ter a vazão e o regime de chuvas que a gente teve no passado. Não podemos garantir que a vazão média de um rio vai ser a mesma vazão daqui a dez anos e, por conta disso, vamos precisar reduzir perdas para ter um volume maior de água no sistema de distribuição. A população vai continuar crescendo e vai consumir mais água."