A Folha de Londrina publica na edição deste domingo uma entrevista com Anderson Varejão, fetia por este blogueiro/repórter. Ele é [b]o cara do Brasil na NBA. Foi o primeiro brasileiro a disputar uma final da liga e está bem próximo de mais uma. Vale lembrar que o papo aconteceu antes da terceira vitória sobre o Atlanta Hawks, na noite de sábado por 97 a 82. Pra quem se interessar, segue abaixo a entrevista:
"O Brasil vai voltar ao lugar que merece"
Thiago Mossini
Reportagem Local
Um dos principais nomes do basquete brasileiro na atualidade, Anderson Varejão vive a melhor fase da carreira. O ala-pivô caminha para sua segunda final da badalada NBA - foi vice em 2007. Até ontem à noite, o Cleveland Cavaliers é a única equipe que ainda não havia perdido nos playoffs da liga norte-americana. Massacrou o Detroit Pistons por 4 a 0 e agora já abriu 2 a 0 no Atlanta Hawks - ontem às duas equipes voltariam à quadra - e está bem próxima de carimbar o passaporte para as finais da Conferência Leste.
Aos 26 anos, Varejão ganha cada vez mais destaque no Cavaliers. Com seus 122 quilos, distribuídos por 2m11 de altura e sua cabeleira a la Valderrama - ex-jogador da seleção colombiana de futebol -, o brasileiro encantou os torcedores de Cleveland, que o têm como xodó. As medidas e o estilo de jogo que tem seu ponto forte na marcação, lhe renderam o apelido de ''Wild Thing'', Coisa Selvagem. Perucas imitando a cabeleira de Varejão são vendidas na cidade e há até o ''Varejão Day'', dia em que a torcida lota o The Quicken Loans Arena com as tais perucas.
Capixaba de Colatina, Varejão tinha em quem se inspirar quando decidiu jogar basquete. Afinal, é o irmão mais novo de Sandro, hoje no Saldanha da Gama. No Brasil, jogou na atual equipe do irmão e no Franca, antes de ir para o Barcelona, em 2002. Lá, ganhou duas Ligas Espanholas e duas Taças do Rei. Também no Barcelona, venceu a Euroliga, em 2003. No ano seguinte, participou do Draft da NBA e foi o escolhido pelo Cleveland.
Em entrevista exclusiva à Folha, Varejão fala do sucesso nos Estados Unidos, da parceria com LeBron James e do futuro do basquete brasileiro e sentencia: ''Sem união, não vamos conseguir reerguer o nosso esporte''. Confira o papo:
Folha: O Cleveland fez a melhor campanha da temporada regular da NBA e arrasou o Detroit nos playoffs. Isso põe o time na condição de favorito ao título desta temporada? Como é entrar em quadra sob esse favoritismo? Atrapalha ou ajuda?
Varejão - Acho que somos candidatos ao título, sim, mas como outras equipes são, há outros times na mesma condição. Favoritos não, até porque favoritismo não vence jogo, mas chegamos com confiança, com a certeza de que estamos fazendo um bom trabalho e podemos ir longe. Basta olhar as equipes que estão ainda no campeonato e ver o tamanho, a tradição dessas franquias. A campanha que fizemos foi muito boa, conseguimos colocar em prática tudo o que treinamos, tudo o que planejamos, mas agora é diferente, em playoffs cada partida é uma final. Tivemos a melhor campanha na primeira fase, isso aumenta a nossa responsabilidade, claro, mas não fugimos dela, o Cleveland é um time que gosta de desafios, gosta de pressão, e estamos fortes nesses playoffs.
Folha: Cleveland e Boston são apontados como favoritos a decidirem a Conferência Leste. Vocês estão ansiosos por uma revanche?
Varejão: Não estamos pensando no Boston. Temos um adversário muito forte pela frente, o Atlanta Hawks, e estamos concentrados, focados apenas nesta série semifinal contra eles. É um confronto muito difícil, Atlanta vem jogando muito bem, e estamos pensando um jogo de cada vez. Para falarmos de Boston, primeiro temos que passar pelo Atlanta e eles pelo Orlando.
Folha: Você ganhou a Euroliga e foi o primeiro brasileiro a disputar uma final de NBA. Como encara esse sucesso na carreira? Esperava um dia atingir essas marcas?
Varejão: Estou muito feliz, vivendo o melhor momento da minha carreira. Sonhava com isso, sim, mas não sabia se conseguiria. Trabalhei muito para chegar até aqui, muita gente me ajudou, claro, e fico orgulhoso de estar podendo mostrar o meu basquete, de estar retribuindo a confiança de tanta gente e representando o meu país. Mas quero mais, ainda vou evoluir muito, quero chegar mais longe e vou chegar ainda mais longe.
Folha: A torcida do Cleveland te chama de ''Coisa Selvagem''. O pessoal usa perucas parecidas com seu cabelo, te idolatra. Como você encara esse carinho recebido em um outro país?
Varejão: É maravilhoso. Esta é a maior homenagem que já recebi em minha carreira, algo que me deixa muito orgulhoso e mexe muito comigo. Quando entrei no ginásio pela primeira vez com aquele povo todo de perucas, a sensação foi de que estava entrando numa sala cheia de espelhos. Tenho uma relação muito bacana com os torcedores, adoro eles e, quando entro em quadra, dou sempre o meu máximo.
Folha: Qual a diferença do basquete europeu para o norte-americano?
Varejão: É a escola, o tipo de jogo, o sistema de jogo. O europeu tem o seu padrão, o seu tipo de jogo, mais cadenciado, mais trabalhado, enquanto que o americano é um basquete de muita qualidade, aliando força e intensidade. Tanto o europeu, quanto o americano, são muito bons, muito fortes, são as melhores escolas de basquete da atualidade e com campeonatos de altíssimo nível.
Folha: Como é jogar ao lado do melhor jogador do mundo, o LeBron James?
Varejão: Um privilégio. LeBron não é apenas o melhor jogador do mundo, ele é um grande companheiro, um exemplo para nós e para os fãs. Ter ele do lado só facilita, é um privilégio, é muito melhor ter ele do lado do que ter de enfrentá-lo. LeBron é um fora-de-série, mas é um amigo também, um bom amigo, um cara simples e que merece o sucesso que alcançou.
Folha: Como você avalia essa queda sem fim da seleção brasileira? A que se deve isso?
Varejão: Os últimos anos não foram bons em termos de resultados, não foram, tivemos desfalques, problemas, pouco tempo para trabalhar, mas as coisas vão melhorar, tenho certeza de que as coisas vão melhorar e que o Brasil vai voltar ao lugar que merece, disputando competições importantes e conquistando títulos expressivos.
Folha: O que você espera dessa nova administração que assumiu a CBB? Acha que as coisas podem melhorar?
Varejão: Espero e torço muito para que as coisas sigam bem. Toda vez em que há mudanças, a esperança é de melhora, de crescimento, e é essa a minha expectativa também. Nosso esporte está precisando.
Folha: Na sua opinião, o que precisa ser feito para que o basquete brasileiro reencontre o rumo?
Varejão: União. Sem união, não vamos conseguir reerguer o nosso esporte. O basquete precisa de um trabalho sério e de todos focados nos mesmos objetivos. Temos talentos, jogadores e técnicos de ótimo nível, atletas atuando nos principais países, um esporte de muita emoção e muito apelo de público, nos falta só estrutura, nos organizarmos melhor.
Folha: A volta do Baby ao Flamengo, a criação de um novo Nacional administrado por uma Liga independente, isso é um sinal das mudanças e pode marcar o início de um novo tempo para o basquete nacional? Você tem planos de um dia voltar a jogar no Brasil?
Varejão: Sim, com certeza. Converso muito com alguns amigos do Brasil e estou ouvindo só coisas boas, que o esporte está voltando a aparecer na mídia, que temos bons jogos, que o novo campeonato está sendo bem disputado. Quero voltar ao Brasil, sim, mas não é um plano para agora. Também não é um plano de fim de carreira, quero voltar a jogar no Brasil, mas para jogar em alto nível, voltar bem e para jogar alguns anos.