Poesia e Banana
>efemérides
Aqui, nesta esquina
onde hoje reluz
a máquina de suco de laranja
Houve outrora
uma prateleira de ovos
e uma balança
onde se pesavam
frutas e legumes
Nesta esquina
encontrei, certa vez, Maria Célia
Ela carregava uma penca de bananas
Eu tinha os cabelos molhados
Tínhamos, as duas,
a afobação de mães
em hora de almoço
em dia de colégio
Pouco que nos conhecíamos
nos reconhecemos
e nos abraçamos
abrançando-nos
às bananas
Ocorreu, então,
que falamos de poesia
por meio minuto
Por meio minuto atrasamos
o nutrir das nossas crias
Por meio minuto
falamos
de poesia
Em meio minuto
doméstica liturgia
consagramos a esquina dos ovos
banana e poesia
Reconhecemo-nos
eternamente
Etel Frota