Falando de Literatura

O Ponto de Vista ou as Vistas do Ponto? por Carla Ramos

17 ago 2015 às 12:43

Vesti uma camisa vermelha e saí por aí... Voltei para a casa, espancado, e de SAMU! Socorro! Todos são, seres humanos, até que se prove o contrário! Essa afirmação aparentemente insana e distante de nós. Algo como um profeta anunciando o Apocalipse. Está na verdade, muito próxima, e presente em nossa vida diária.

O mundo não precisa ser letrado para Ser Simbólico. Todas as ações, cores, sons e gestos dos outros são informações do mundo externo repercutindo em se tornar conhecido ao nosso Ser. Somos, iguais e diferentes, ao mesmo tempo. Seres Paradoxais, pertencentes à mesma espécie como Ser, dito humanos. Porém, diferentes no nosso modo único de captar, pensar, sentir e interagir no mundo. Apenas, vemos uma parte do Mundo sem enxergar toda a sua imensidão! Ao se saber disso, faz com que o Ser reconheça o seu real tamanho, promovendo o estado de humildade essencial, em nós. Palavra essa, que vem do radical, húmus, a capacidade de sermos férteis à novas ideias, em Vida!


O Seu Ponto de Vista defendido, com unhas e dentes, se torna apenas, um ângulo seu, o da Vista do Ponto! Essa é a fórmula individual da tão almejada cultura da Paz coletiva, que está em nossas mãos, ao nosso alcance, por atitudes preventivas internas diárias, em nós.


Mas, o triste é que o Ser Humano deixa de ser, sua essência humana, provando o contrário! Preso, inflexível e cristalizado, ao MEU ponto de vista, que é meu, em pronome de tratamento bem possessivo, determina o "Eu" como medida de todas as coisas, e o diferente e o desconhecido, a mim, se torna ameaçador, e na lei "da sobrevivência da espécie" ao MEU EGO, eles devem ser exterminado e não ter o direito de viver co habitando o MEU mundo!


Assim, se dá o mecanismo inconsciente de defesa, na criação dos conceitos prévios, os "pré-conceitos" que são crenças limitadoras quando não questionados à luz da razão.


Um espelho desse mecanismo individual, em comportamento ao coletivo, gera a violência: em batalhas, guerras e manifestações vicerais do MEU ponto de vista e não a flexibilidade que o MEU é a Vista de um Ponto, apenas!


Violência, esta, vinculada em distantes noticiários, presenciada na pele, por meu amigo, professor de teatro, Diego Davoli que ao assistir passivamente, a uma manifestação de lentes e camisas verde amarela foi, ativamente, espancado por ter sua lente e camisa vermelha! Porém, se fosse todos, daltônicos, essa cor não atrairia essa ira tão grande. Outro amigo, filho de uma amiga da escritora Isabel Furini quase foi preso por usar boina! Símbolo esse, preconceituosamente, atribuído aos comunistas. Meu avô era atista e foi preso na ditadura. Não creio, que em pleno Séc XXI, voltamos à censura e suposições nas escolhas de Vida dos Outros, caracterizando assim, uma guerra civil.


Com surto de violência, a Sociedade se retrocede à fase infantil, do umbigo como centro do universo, contribuindo a essa face egoísta e egoica do Ser Humano na História da Humanidade.


Mas é, com o exercício da humildade, em nós, falo exercício, pois é a prática que nos leva ao aprimoramento, começa a se aceitar a diversidade, ela não é mais ameaçadora ao EGO e sim, bem vinda, a individuação à Essência do nosso Ser Humano.


Com essa nova, Vista do Ponto, proposta: Agora, pouco me importa: qual é a cor da lente que leva aos seus olhos?


Seja a minha verde amarela e você, vermelha ou vice versa. Ela só serve para que se veja o mundo: na sua ótica própria, na sua cor escolhida, em seu modo único de Ser. Se a sua escolha foi vestir a camisa vermelha do Che Guevara, é sua! Pensa só se eu fosse daltônico, e estivesse numa manifestação verde × vermelho, não entenderia o porquê estava acontecendo? Veria ambos os lados, em integração, cinza! O meu simbólico: Ponto de vista, a vista do meu ponto seria Outro, o que não me motivaria, por estes conceitos prévios, te espancar por usar vermelho, ao te eleger como bode expiatório, representante simbólico de uma crença coletiva? Será?


Afinal, Todos são Seres Humanos, até se prove o contrário! Seres humanos são chamados assim, por se supor ter uma parcela do humano, que propicia escolhas e a capacidade, em nós, de humildade, ao raciocinar sobre, refletindo as crenças internas, as questionando e as transformando, de acordo com nosso momento em Vida.


Ou provaremos o contrário, Seres não Humanos, sendo inrracionais, como touros raivosos, correndo violentamente atrás de um tecido vermelho, em movimento.


Mas por que fazem isso? Você me pergunta. Respondo: Porque sim! Porque durante séculos e séculos, sem questionarem, sempre foi assim que se fez!

Carla Ramos é psicóloga.


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