NOSTALGIA
Tempos de rabiscar na Gazeta do Povo.
Tempos sisudos e friíssimos, ainda com sabor de neve e rescaldo de ditadura.
O maior jornal "moderno e tradicional" era blindado por seu conservadorismo.
O espaço era disputadíssimo e comercializado por centímetros de coluna.
Pagava-se caro por uma notinha política ou um classificado. Só era de graça a publicação de notas de falecimento, nas segunda página, onde o poeta Liberalino Estevam publicava suas bíblicas Populiras
Um tal de Paulo Leminski mandava seus releases à redação, na verdade textos poéticos. E e se perguntava, quem é esse?
Um publicitário apenas.
Os textos eram recusados e lançados ao cesto de lixo.
O Leminski mudou-se daqui, foi trabalhar numa emissora de TV, e começou a publicar seus textos na Folha de São Paulo. O poeta, que como profeta não é benquisto em sua terra, começou a acontecer e aparecer nas mídias.
A Gazeta começou, então, a publicar uma coluna com o nome e o texto do poeta, pagando para a Agência Folha.
José Aparecido Fiori
José Aparecido Fiori é jornalista e escritor, autor do romance "Lolita de Curitiba".