1)Cili, quando e como você iniciou no cinema?
Eu já estava com mais de quatro anos de teatro, foi em 2013. Eu tinha o perfil perfeito e fiz uma figuração no filme “Que Háblas Mi Amor?” Foi minha única figuração. Depois disso ou eu era protagonista, ou estava no núcleo dos protagonistas, ou era atriz especialmente convidada, ou coaching, ou estava assessorando a equipe de alguma forma. Já participei ou fui escalada para 12 filmes.
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2)Muitos entram no mundo do cinema pensando que é só glamour, mas é uma carreira que exige muito dos candidatos. Muitos artistas fazem cursos de canto, de música, de mímicas... que habilidades você considera importante para uma atriz ou ator de cinema?
Muitos mestres afirmam que a pessoa precisa ter no mínimo 10 anos de teatro para ser considerado realmente um ator. Muito embora as atuações para teatro e cinema sejam bem diferentes, é necessário ter uma boa base que só o teatro dá. E ser ator é um trabalho bastante pesado, nada glamoroso e de pouca compensação financeira. Quem é ator de verdade faz isso por amor a arte. Pode sim acontecer da pessoa ter um perfil vendável e conseguir fazer muita publicidade, mas hoje em dia não é mais como antigamente. A fama e a ideia do glamour podem acontecer como consequência de um trabalho árduo e lento. Porém, se a pessoa tiver apenas o perfil e aceitação do público sem ter competência, muitas habilidades e repertório, não tem como se manter na ativa. Tem que lembrar que com o seu perfil tem pelo menos mais uns 20 candidatos e todos muitos bons, muito bem preparados e com anos de estrada. Mesmo que eu não conheça aquela pessoa ou o trabalho dela, não quer dizer que ela não seja famosa ou premiada ou tenha uma carreira digna de respeito.
Para cinema, além de ter recursos, saber interpretar, ter fotogenia e carisma, precisa ter perfil para o papel e química entre as personagens. Ex.: eu fui aprovadíssima no teste do filme Apartamento 6, todavia reprovei no perfil.
A química entre os atores e o perfil conta mais do que a técnica. Entretanto, sem técnica, a pessoa não consegue se manter no mercado e às vezes nem terminar o trabalho, tendo que ser substituída porque não tem competência. Quanto mais experiência a pessoa tiver, melhor. Isso ajuda a ter mais repertório, facilidade para criar personagens e mais recursos de atuação. Porém, se for baseado apenas no perfil e no que a pessoa vende bem, este ator parecerá fazer sempre o mesmo tipo de papel, as mesmas personagens. Isto é o bom teatro, poder ter vários papéis com personagens diferentes, independentemente do perfil.
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3)Conte um pouco da sua trajetória. Quando decidiu seguir a carreira de atriz, você fez algum curso nessa área?
Hoje, olhando para trás, vejo que ser atriz sempre foi uma coisa nata, uma paixão e que, de certa forma, nunca perdi o foco. Foi em 1990, aos 13-14 anos, numa apresentação em sala de aula em que eu fiz Dom Quixote, que eu percebi que eu realmente tinha talento para a arte. Segundo a professora eu fui perfeita. E no decorrer da minha vida as pessoas diziam que eu deveria ser atriz ou modelo e atriz. Porém você sabe que antigamente era tudo muito caro e eu não me sentia com maturidade como pessoa. Lá pelos meus 25 anos fui a uma escola de teatro. Vi a aluna passando o texto com a professora e esta a ajudando a criar a personagem. Eu não disse nada, lógico, não ia me meter, mas a personagem que eu estava vendo era absolutamente oposta a da professora, aí eu desanimei e perdi o interesse. Foi só depois dos 30 anos que eu realmente comecei a estudar teatro. Eu fazia cursos e intensivos nas férias porque a época eu estava no bacharel em Teologia, fazia mestrado (por já ser formada), outros cursos, além do meu serviço e caminhadas diárias. Entretanto é importante ressaltar que desde sempre eu vinha acumulando repertório e experiências. Como assim? Eu segui o conselho do meu pai “tudo o que você puder aprender a fazer, aprenda, porque um dia você pode precisar”. E acabei precisando mesmo por causa da minha profissão.
Durante anos fomos integrantes do centro de pesquisa do teatro Barracão Encena, que é só para atores formados. Lá também aprendi direção. Fui discípula dos papas do teatro: Silvia Monteiro e do saudoso Luiz Carlos Pazello, do criador da Mímica Total Luís Louis. Tive aulas com Lau Bark, Guto Pasko, com Márcio Balas, com o diretor de cinema de Hollywood Bruce Ducat entre outros mestres.
Além de toda parte acadêmica, entre elas Filosofia e Teologia, de Artes Dramáticas e dos anos de teatro, fiz cursos de interpretação para cinema, televisão e publicidade, também de dublagem e de modelo-manequim. Curso completo de mímica com genial Luís Louis. Fiz aulas de: improviso com Márcio Ballas, de palhaçaria, de sombra, de circo, de trabalhos manuais, de oratória, para aprender a escrever contos infantis com a reconhecida Isabel Furini, de roteiro e de canto coral, popular, lírico e técnica vocal.
Fiz “estética”, onde aprendi desde a consultoria de imagem, passando por curso completo de cabeleireiro, de penteado, etc, até maquiagem, maquiagem artística, caracterização e corte e costura para espetáculo. Estudei 12 idiomas fora o português (pelo menos um ano de cada), pratiquei 12 instrumentos musicais (três meses cada um, a não ser o violoncelo que foi um ano e meio com o talentoso e paciente @gesiel_sari), 8 modalidades de dança (um ano de cada), e mais cinco aulas pole dance.
Pratiquei vários esportes, todavia sou nadadora. Cheguei a trabalhar como guarda-vidas civil voluntária. Atravessei duas vezes a nado a baía de Guaratuba com apenas nove anos de idade, saí no jornal, fui homenageada na Câmara Municipal de Curitiba em 1989 como destaque na área de Natação. Mais tarde, em 2019 fui homenageada pela segunda vez na Câmara Municipal de Curitiba. Também fui homenageada este ano na Feira Do Poeta. Mas o que mais gostei foi mesmo a parte da Ação, tanto que meus amigos dizem que sou a versão brasileira do Tom Cruise. Com o curso de comissária de vôo fiz sobrevivência na selva, no mar e casa da fumaça. Fiz curso de piloto privado de avião, já pilotei avião e helicóptero, fiz curso de paraquedismo, mergulho autônomo (com cilindro), em altura, de tiro ao alvo, arco e flecha, esgrima, equitação, arte marcial, rapel, escalada indoor. Aprendi a velejar e fiz esqui aquático. Tenho carteira de motorista para moto, carro, caminhão, ônibus e sou mestre amador para barco e jet ski.
Óbvio que para fazer tudo isso eu não tive vida. Dormia apenas 4 horas por noite, todas as noites, durante anos. Falar que cursei ou pratiquei ou experienciei, ao contrário do que os invejosos, acomodados e maledicentes afirmam, não é soberba ou arrogância, é necessidade. Essas habilidades são necessárias para um bom ator porque são coisas como essas que eles perguntam quando você vai preencher algum cadastro. Isso me ajuda também a ter referencial, a ter criatividade e a criar uma personagem mais rapidamente, um corpo e não ter medo de mudar minha aparência ou de fazer as coisas e ser arrojada, tanto que já raspei a cabeça e fiquei careca. Alguns dirão que é dom, que eu tenho facilidade ou alguma coisa assim, sendo que na verdade eu sou apenas uma pessoa esforçada, determinada e que resolveu sair da sua zona de conforto. O investimento é muito caro e demorado. São anos estudando, se preparando, se aperfeiçoando. Tem que se aprimorar e sempre aprender coisas novas.
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4)Você considera que a beleza física é uma condição fundamental para atores, ou o talento é mais importante que a beleza?
Importante é o público. Se o público gostar de você, você vai trabalhar. Porém, para que você continue trabalhando, tem que ter competência, talento e muito esforço. Penso que fotogenia e carisma seja melhor do que beleza. Beleza é importante sim, mas ser bonito demais pode atrapalhar, porque por pré-conceito o profissional pode ser pré-julgado e não ser levado a sério mesmo sendo fenomenal e muito competente. E claro, como dito anteriormente, importante é o perfil e a química entre os atores. Todavia, repito, sem competência a pessoa não permanece.
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5)Fale um pouco sobre o filme Dois Caipiras em Colombo e de seu trabalho para criar a sua personagem.
O longa metragem Dois Caipiras Em Colombo está sendo um sucesso. Muito bem aceito pelo público. Tem uma equipe fantástica e um ótimo roteiro. Para fazer a Gerarda, minha personagem, eu acabei me inspirando, e não imitando, o jeitinho da Geni, a funcionária do nosso condomínio. Ela foi a inspiração, depois eu compus a personagem baseada na decupagem do roteiro do filme.
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6)Ouvi dizer que nos países da América Latina, o financiamento de projetos cinematográficos geralmente depende de organismos do Estado. Existem empresas privadas que financiam filmes?
Essa parte não é comigo. Sei que o longa Coração de Neon foi feito com recursos próprios. E pelo edital feito pela cidade de Colombo, através da Lei Paulo Gustavo, foi gravado o filme dos Dois Caipiras. Eu estou aprovada para mais dois filmes que estão esperando aprovação em edital para conseguir os recursos para só então poderem ser gravados. Mas não é assim tão fácil conseguir ser contemplado.
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7)Para atrizes e atores qual é a importância de participar de festivais e de ser premiado?
Ser visto e premiado torna seu trabalho mais conhecido e respeitado. Isso abre portas e gera oportunidades.
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8)Para ser chamada para participar de um filme, é necessário ter um agente? Ou ser um membro do SAG-AFTRA, ou de algum sindicato dos atores?
O ator pode começar se cadastrando no elenco digital, porém é importante fazer parte do Sated (Sindicatos dos Artistas e Técnicos) e ter um agente que cuide da sua carreira e negociação de cachê, isso porque temos diversos exemplos de atores que fizeram más escolhas que acabaram por destruir suas carreiras. É bem delicado. É mais do que receber um “Framboesa de Ouro”, é não conseguir mais trabalhar. Então sugiro que a pessoa comece procurando uma boa agência e tenha um bom book. Eu sempre fui da agência @dmatoresemodelos e gosto de ser fotografada por Eika Yabusami @ephotos.studio com direção de @clebookerdm25.
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9)Você já participou em vários filmes com sua mãe, a artista Etty Nandes, como funciona a relação profissional entre vocês duas?
Nossa relação pessoal e profissional é ótima. Tudo o que fiz e sou é por causa da Etty que sempre esteve ao meu lado, sempre me incentivou e sempre investiu em minha vida. Eu sou sua fã número 1. Ela é uma grande profissional, com um talento único e incomparável. É sensacional, maravilhosa. Eu tenho muita sorte de poder contracenar com ela. É uma grande bênção, uma dádiva, agradeço a Deus por isso. Nós somos parceiras, uma equipe, uma dupla dinâmica. Podem ver nossos trabalhos e um pouco da nossa vida no instagram cili_etty Também estamos fazendo um Instagram separado para cada uma @donaetty @atrizcilinandes
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10)Cili, fale de seus projetos para o próximo semestre.
Estamos em negociação. Tenho algumas viagens agendadas, propostas para mais dois filmes, um deles com a dramaturga e roteirista @marizezakrzewski e para participar de um espetáculo de Natal. Além da possibilidade de voltar a trabalhar com o premiado Luthero Almeida, continuar com as aulas de percussão e de teoria musical na igreja PIB campus Portão e, talvez, se conseguir tempo, voltar a dançar, seja neste semestre ou no próximo. Como a minha antiga turma de dança sensual já estava lotada, quero fazer aulas de jazz com @pedro.quintino.jr Mas o meu foco agora é terminar de criar uma personagem e ver que aparência ela terá, ou seja, quantos quilos devo emagrecer ou engordar, qual o comprimento e a cor dos cabelos que vou usar, além de todas as outras características internas e externas dela.
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11)Cili, cite alguns trabalhos que você fez.
Participei de alguma forma ou fui escalada para 12 filmes, o mais recente foi no filme de Samuel Rocha, Dois Caipiras em Colombo
Participação em muitas peças teatrais e em três grandes espetáculos de Natal
Participação em apresentações de dança e música
Participei das fotos do editorial de moda do Novo Louvre
Fiz participação especial na websérie Fora de Série Together
Participei de vídeo internacional contra prostituição infantil e de uma campanha internacional que denunciava a violência contra as mulheres
Foto na Revista de Pinhais 2018
Fotos em três calendários
Dei entrevistas
Participei de dublagens
Dirigi e atuei na esquete “Demônios”
Estive em telões enormes fazendo o papel de “demônio debochador” em uma conferência em 2016
Fui voluntária guarda-vidas, dando aula de teatro, aulas particulares e trabalhando numa ONG
Participei do comercial para a Tim em 2013
Fui Protagonista do vídeo clipe Maitê do cantor Rodrigo Augusto Ribeiro em 2013
Fiz uma participação especial em sombra imensa refletida na fachada do Paço da Liberdade no Natal em 2012
Escrevi roteiros
Fui capa da Gazeta Do Povo – “Sopa de Letrinhas” em 2005
Estive 4x em outdoor, folders, cartazes e diariamente no jornal em 2001
Fui duas vezes homenageada na Câmara Municipal de Curitiba – 1989 e 2019
Fui homenageada na Feira do Poeta este ano.