(CONTO)
As duas moças orientais fazem sinal para o taxi parar. Sentam no banco de trás e pedem que as leve até o cemitério do Abranches.
-Se vocês fossem loiras eu ia começar a ficar preocupado.
-Ah, por causa da Loira fantasma do Cemitério do Abranches? Minha mãe já contou esta história.
- Gostam de histórias? Então vou contar uma história da Loira fantasma e meu pai.
- Com seu pai? Então é uma história verídica? Conte, conte.
Há 48 anos, meu pai era motorista de taxi aqui no centro. Na Rua XV, uma loira com um bebê fez sinal ao taxi. Ela entrou e já foi falando:
- Cemitério do Abranches, por favor.
- Epa! Você não é a loira fantasma, né? Esta história que...
- Pareço?
- Acho que não. Acho que a loira fantasma não ia andar com uma criança de colo. -
Ele olhava pelo espelho, para certificar-se de que a moça não estava se transformando ou qualquer coisa assim, mas encontrava olhos azuis cheios de lágrimas. Silêncio. Parou no portão do cemitério.
- Você está bem?
- Este lugar me deixa triste.
- Você está bem?
- Este lugar me deixa triste.
- Vai visitar alguém?
- Sim, mas não me conformo.
- Ninguém se conforma com a morte. Deu Cr$ 50,00.
O taxista vira-se para trás e encontra apenas o bebê deitado no banco, dormindo. Procurou pela moça. Umas pessoas no portão disseram que ninguém saiu do taxi.
Ele saiu dali rapidamente.
- Nossa, que história! Em 1970? E o que aconteceu com o bebê?
O taxista loiro vira-se para as passageiras no banco de trás e com os olhos azuis cheios de lágrimas fala:
- Eu sou o bebê.
Neyd Montingelli
Quadro de Eloir Jr.